Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – Dos 11 candidatos a prefeito de Manaus, apenas dois propõe medidas de prevenção à Covid-19 para o retorno presencial às aulas da rede municipal em 2021: Amazonino Mendes (Podemos) e Coronel Menezes (Patriota).
Amazonino promete criar o Programa Escola Segura para cumprir os protocolos sanitários necessários à segurança dos estudantes. Também propõe o Programa Saúde na Escola, com acompanhamento da caderneta de vacinação e oferta de serviços de saúde bucal e ocular.
Coronel Menezes fala da implementação das condições sanitárias para a continuidade das aulas em 2021 e oferta de atendimento psicológico aos profissionais com síndromes pós-pandemia. Ambos os candidatos trazem propostas para implantação de equipamentos tecnológicos nas escolas e capacitação dos professores para o ensino à distância e uso da tecnologia em sala de aula.
Os candidatos Alfredo Nascimento (PL), Gilberto Vasconcelos (PSTU) e Marcelo Amil (PCdoB) não apresentam propostas sobre o preparo para a volta às aulas. No caso de José Ricardo (PT), não há plano de governo disponível no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Capitão Alberto Neto (Republicanos), Chico Preto (DC), David Almeida (Avante), Ricardo Nicolau (PSD) e Romero Reis (Novo) não tratam especificamente sobre medidas preventivas à Covid-19 no ambiente escolar, mas propõem investimentos em tecnologias e capacitação dos profissionais, ferramentas que facilitam o ensino na pandemia.
Orçamento
De acordo com o professor Douglas Lopes, especialista em educação e assessor pedagógico do SAE Digital (Sistema de Apoio ao Ensino), é possível retomar as aulas presenciais do ensino fundamental em 2021 desde que haja investimento orçamentário e pedagógico, alinhados com o fator social: a família.
O investimento necessário para os protocolos de saúde é alto, indo contra a realidade das escolas municipais, diz Lopes. “Como as escolas públicas poderiam atender a essa demanda olhando para um orçamento que é muito limitado, olhando para um realidade que também é limitada em algumas regiões? E aí eu estou falando das condições de funcionamento de algumas escolas, do tamanho das salas de aula, da quantidade de alunos por sala”, diz.
Consultada pelo ATUAL, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) informou que o orçamento previsto para a pasta no próximo ano é de R$ 1,68 bilhão. O valor será destinado ao pagamento de pessoal, manutenção da Educação Infantil e Fundamental, formação continuada de professores, programa de alfabetização, transporte escolar e alimentação escolar.
Lopes afirma que desde já é preciso que se discuta esses desafios pois as chances de que haja uma vacina no começo de 2021 são baixas. “Nós sabemos que muito possivelmente nós não teremos uma vacina ali em fevereiro, março. Acho que num cenário talvez mais otimista a partir de abril, mas isso também não é uma certeza”, diz.
Além dos fatores citados anteriormente pelo especialista, é preciso considerar a saúde dos alunos como outro desafio. “Hoje eu não atuo mais na educação pública, mas eu já estive muito próximo dessa realidade e já trabalhei com escolas que atendiam estudantes da educação básica de diferentes níveis sociais. E muitos deles em situação de negligência. Então assim, com pouquíssimos cuidados de higiene e de saúde”, afirma.
Pedagógico
O fator pedagógico também exige disposição orçamentária para implementação de tecnologias que facilitem o aprendizado após um período em que muitos estudantes não conseguiram acompanhar os conteúdos. Neste quesito, as escolas privadas também saem na frente.
“Na escola privada nós temos um investimento altíssimo no retorno em um protocolo. Nós temos um olhar pedagógico muito grande pensando aí em ferramentas, tecnologia para essas crianças e um olhar mesmo de unificação do currículo para garantir que nenhum aprendizado fique para trás”, afirma Lopes. “E aí nós percebemos que existe uma diferença, uma falta de acesso muito grande por parte dos alunos da escola pública em relação a ferramentas tecnológicas de ensino”, diz.
Família
Mesmo que haja o investimento nesses dois setores, ainda há o papel da família nesse processo da retomada presencial às escolas. “Porque mesmo que haja o retorno presencial existem muitas famílias que não estão dispostas a levar os alunos a esse modelo novamente”, afirma Lopes.
É o caso de Lilian da Silva de Menezes, 43, técnica em enfermagem, que tem uma filha de 10 anos matriculada na Escola Estadual Almirante Barroso. Lilian optou por manter a filha acompanhando as aulas pelo programa ‘Aula em Casa’. “O principal motivo que levou eu e o pai dela a não aula presencial é o medo da perda. A gente perdeu vários amigos, conhecidos”, afirma.
Lilian afirma que a filha consegue acompanhar todas as aulas sem dificuldade e que os professores sempre atendem quando necessário. “Tem as mídias aí, eles têm mandado aula via Whatsapp, e-mail, pela televisão. Então eu não tenho porque estar mandando a minha filha para correr esse risco”.
Segundo ela, poucos alunos da turma da filha vão às aulas presenciais. “Em comparação com os alunos que estão indo na aula presencial, a turma dela se tem cinco alunos que estão indo é muito. Porque são aqueles que infelizmente os pais não têm com quem deixar e necessitam mandar para a escola”, afirma.
Consultada pelo ATUAL, a Seduc (Secretaria de Educação do Amazonas) informou que desde o retorno presencial, em 10 de agosto para o Ensino Médio e 30 de setembro para o Ensino Fundamental, a frequência dos estudantes têm variado entre 60% e 70% do esperado. Em Manaus, o ano letivo de 2020 teve início com 220 mil matriculados na rede pública estadual.
Apesar de todo o aparato da rede particular, ainda é possível que os pais resistam à volta presencial. “Nós temos também na escola privada essa realidade, das escolas se organizarem com todo o protocolo para atender essas crianças e ainda sim as famílias resistirem, e principalmente na educação infantil”, diz o professor.
É a situação de Janaína Costa, 40, servidora pública, com um filho de 9 anos estudando em escola particular. “Ele iniciou o mês de agosto e setembro participando das aulas presenciais durante uma semana e na semana seguinte fazia as aulas em casa online. Ficou dividido assim conforme a escola propôs”, diz.
Após o aumento de casos no estado e a perda de um familiar, ela optou por aderir ao regime totalmente online. “Devido ao aumento de casos de Covid e ao avô dele que faleceu de Covid a gente decidiu que ele ficasse de outubro a dezembro estudando somente online”, diz.
O formato é cansativo, explica. “É um pouco estressante para as crianças, porque no caso dele tem uma hora que ele fica cansado de estar toda hora sentado, de 13h30 até quase 18h, com um intervalo apenas do recreio”, afirma. “Mesmo na presencial também porque eles não podiam sair para brincar”.
Para o especialista, no momento o setor da educação infantil é o mais difícil para retornar. “É um dos segmentos mais difíceis, porque envolve muitas ferramentas pedagógicas que necessitam que a criança esteja interagindo com o outro. Para mim hoje o ponto mais difícil de retorno é a educação infantil. Mas para o ensino fundamental eu acredito que é possível desde que esses três fatores sejam considerados”.
Impacto da tecnologia
Lopes avalia que é possível fazer uso de tecnologias para dar mais a proteção aos estudantes na volta presencial, mas é preciso trabalhar alguns elementos.
“Se não tiver um orçamento, treinamento com os professores sobre a importância de trabalharmos com tecnologia em tempos de pandemia e de não-pandemia, em tempos de modelo presencial e de ensino remoto, continuaremos a oferecer a mesma educação que estamos oferecendo já há alguns anos”, diz
De acordo com o professor, há uma resistência em aderir às novidades, resultado de fatores como a falta de infraestrutura das escolas públicas e capacitação dos profissionais. Outro ponto, é a resistência dos pais.
“Existe uma questão cultural no nosso país que em alguns casos a família não acredita que a criança pode aprender a partir de videoaulas”, cita como exemplo. Em outros casos, há a limitação econômica da família.
Para Lopes, a figura do professor em sala de aula nunca será substituída, mas é preciso que ele acompanhe as novas ferramentas de ensino. “Se nós professores não começarmos a olhar para o comportamento da sociedade e trazer as necessidades e o que satisfaz esses estudantes para dentro da nossa prática continuaremos tendo uma escola pensada para o século XIX, com professores ou organizações pensados para o século XX e com alunos do século XXI”, conclui.
Já existe um protocolo de segurança, é só seguir e garantir a volta às aulas.