Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – O projeto ‘Anjos da Saúde’, que custou R$ 6 milhões à Susam (Secretaria de Saúde do Amazonas), não foi elaborado no órgão e foi implantado com pendências, afirmou o ex-secretário de Saúde Rodrigo Tobias em depoimento à CPI da Saúde, nessa segunda-feira, 29. Tobias disse que recebeu orientação para que a implantação fosse rápida. Segundo ele, havia pendências e por isso se recusou a assinar em um primeiro momento. O deputado Serafim Corrêa atribui à pressão para executar o programa à troca de nomes na gestão da Susam.
De acordo com Rodrigo Tobias, em 2019 um projeto semelhante foi elaborado pela Susam para proporcionar serviços de psicologia e assistência social no atendimento em prontos-socorros. Porém, não teve espaço na agenda.
“Esse projeto foi levado, enfim, a agenda do ano passado que foi muito conturbada. Eu acho que não houve um certo cuidado ou um mergulho dentro do projeto que nós fizemos. E aí veio esse projeto, o Anjos da Saúde, que de fato não foi concebido dentro do âmbito da saúde, e aí veio realmente para ser feito”, disse.
Segundo o ex-secretário, devido a pendências, ele não quis assinar. “Tinha algumas pendências, eu me recusei a fazer a assinatura enquanto essas pendências continuassem porque são pendências de governos anteriores”, afirmou. Tobias não foi questionado pela CPI sobre quais eram as falhas.
Conforme o secretário, o ‘Anjos da Saúde’ partiu da AADES (atual AADESAM – Agência Amazonense de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental). Tobias informou que a agência providenciou as correções e foi dada continuidade para a realização do programa.
“Uma vez a AADES cumprindo todos os critérios, então foi dado o seguimento. Mas assim, eu não conheço o projeto Anjos da Saúde, eu não sei a sua concepção propriamente dita. A sua implantação de fato se deu após a minha saída”, afirmou o ex-secretário.
O deputado Wilker Barreto (Podemos) questionou ao lembrar que em depoimento anterior à CPI da Saúde, a secretária executiva adjunta de Assistência Especializada da Capital, Dayana Mejia, afirmou que ainda havia pontos não resolvidos para que pudessem prosseguir com o projeto.
“A ex-secretária da Capital foi clara aqui: os apontamentos e questionamentos feitos pela doutora Dayane (Mejia) não foram sanados e vossa excelência deu anuência e o processo seguiu mesmo com as considerações contrárias ao projeto feitas pela SEA Capital”, disse Barreto a Tobias.
Tobias então disse que houve pressão para acelerar o processo e na segunda vez já não deu certeza se todas as pendências foram de fato sanadas. “Em um determinado momento foi pedido para que eu desse celeridade ao processo, mas tinham pendências e eu me recusei a fazer a assinatura enquanto essas pendências não fossem regularizadas. E aí eu preciso, não consigo responder, mas me parece que todas as pendências foram regularizadas. E aí com relação aos apontamentos da SEA Capital, eu preciso ver nos autos do processo, para saber eu confesso ao senhor”, afirmou.
Questionado sobre quem teria ordem para dar aprovação ao ‘Anjos da Saúde’, o ex-secretário não deu nomes, apenas confirmou a indagação de que a ordem partiu do governo. “A AADES não tem nada a ver com saúde. O projeto não foi concebido pela vossa pasta. Um projeto de R$ 6 milhões, quem é que tem ingerência para fazer a Susam executar? Isso foi uma ordem governamental? Veio do governo ou não”, perguntou Wilker. “Sim”, respondeu Tobias.
O deputado Serafim Corrêa (PSB) afirmou que a autoria do projeto era de Carla Pollake. “Quem concebeu esse projeto foi a Dra Carla Pollake. O senhor sabia disso?”, perguntou o deputado a Tobias. “Doutor, eu não posso afirmar algo que não tenha a escrita ou evidências a mostrar. Mas o fato é que a Dra Carla transita junto com o governador, trazia ideias para o governador, e boa parte delas eram compradas, no bom sentido, pelo governador. Eu não sei se foi ela quem escreveu o projeto, ou se foi a secretária (Simone Papaiz) que trouxe pela experiência que ela teve em São Paulo”, disse o ex-secretário.
Carla Pollake foi citada no depoimento de João Paulo Marques, ex-secretário executivo da Susam, na sexta-feira, 26, à CPI. Pollake não é servidora estadual, embora na fala de Tobias tenha sido apontada como uma assessora.
Segundo o presidente da CPI, deputado Delegado Péricles, Pollake participou de várias reuniões sobre o programa. O ex-gestor negou ter ciência ou participado de alguma delas. “Eu não sabia dessas reuniões e não participei de nenhuma reunião”, disse. Questionado por Péricles se sabia que ela participava do projeto, Tobias confirmou. “Conhecimento sim, mas eu não posso afirmar que ela é a coordenadora, eu não tenho condições de afirmar isso. Mas acredito que sim”, afirmou.
Serafim Corrêa atribui à Pollake a troca na gestão da Susam. “No dia da posse da secretária (Simone Papaiz) no dia 8 de abril a secretária disse assim ‘Eu estou chegando e trazendo o programa Anjos da Saúde que eu sei que é a sua menina dos olhos não é governador?’ Ou seja, quem trouxe a secretária Simone Papaiz, que ninguém sabia quem era, foi a senhora Carla Pollake. Daí eu tê-la denominado de governadora de fato, porque ela que escolhe programa, o programa foi barrado pelo (falhas no áudio da live) porque tinham inconsistências, com as quais ele não concordava. Ela sugeriu uma nova secretaria que assume dizendo que o projeto era maravilhoso. E no dia seguinte as duas vão para a frente do Delphina Aziz e de braços abertos dizem ‘Está aqui, estamos lançando o programa que vai salvar a vidas’”, disse o deputado.
Serafim classificou a situação como grave. “Nós temos todas essas gravações, isso é muito grave, muito delicado. Uma pessoa de fora do governo, dentro do gabinete do governador mandando na estrutura de governo, reunindo com secretários, apresentando secretária, toda cúpula da Susam, isso tudo é muito grave. Obviamente que o Dr Tobias ficou fora disso aí, que ele não concordou. O projeto veio de fora, ele não concordou, e aí ele foi tirado para que entrasse alguém que achava que o programa era maravilhoso”, afirmou.