Por Valter Calheiros, especial para o ATUAL
MANAUS – Nesses dias em que o Brasil se divide em defender ou menosprezar o modelo econômico do projeto Zona Franca de Manaus, desperta em nós, usar nossas energias e agir imediatamente, trilhando consciente um novo tempo voltado ao futuro dos filhos dos filhos dos nossos filhos, com os pés fincados no chão, atentos às nuvens de chuva, secas e enchentes, perau e beiradão, várzea e floresta alagada e de terra firme. De vento em popa, navegar nos rios, igarapés, igapós, paranás e ver quanta riqueza temos e, não sabemos explorar.
Na atual situação de desemprego e falta de dinheiro, um bom caminho a trilhar vem do turismo, agricultura, piscicultura – jaraqui-tamuatá –, gastronomia – caldeirada de bodó e cuia de tacacá –, ciranda, boi-bumbá e toda forma de cultura popular. Nisso tudo, o caboco instruído se orgulha, pois mesmo devagar e meio preguiçoso, faz muito bem o seu cantar, remar, pescar, dançar levemente dois pra lá dois pra cá.
O modelo ZFM muito se preocupou a ensinar o operário a montar, desmontar, etiquetar, empacotar e se perdeu no tempo… Foi vencido, esgotou, quase parando, segue o rumo da insolvência, não tarda a fechar. Mesmo assim, deixa seu legado: filhos cansados de ouvir promessas, incentivos que só fazem o patrão enricar, e com fome ficam, de nesse lugar na riqueza prosperar.
No princípio o desenvolvimento social e econômico parecia bom. A euforia comandava a importação e exportação. Havia muito emprego e gente nas ruas zanzando a comprar relógios, TV, geladeira, gravador e, até máquina de lavar. Para avançar na economia precisamos de tecnologia, educação, saúde, transporte. Mas, de longe, apreciando da ribanceira, governos, empresas e empregados, como diria minha querida vó Yaia “de pires nas mãos” a esperar um político amigo vir nos salvar.
São os novos tempos da indústria 4.0 – inovação, controle, automação, tecnologia da informação… Chega de tanto esperar! Somos capazes de cuidar bem de nossa terra e fazer de todo o Estado um bom lugar pra estudar, crescer, escrever, trabalhar e viver muito bem sem pedir esmola, implorar favores e mendigar.
Temos muito chão para plantar e colher – autonomia da terra – passo importante pra garantir soberania, segurança alimentar, hídrica, energia eólica e solar. A gestão dos bens naturais da Amazônia deve considerar, em primeiro lugar, a vida, o bem estar dos povos: cabocos, ribeirinhos e índios nascidos ou chegados para aqui habitar.
Nem avança, nem empreende e muito menos inova… O que se percebe é que os grandes projetos políticos e econômicos de governos e corporações perderam a chance de explorar na região, suas potencialidades e, com visão de mundo promover as culturas e costumes existentes, propondo modos pra fazer um jeito novo brotar – homem e natureza – em harmonia crescer, multiplicar.
Sem perspectivas pra gerar emprego, renda, conhecimento, desenvolvimento, o Amazonas, parece uma roça velha; capoeira cheia de toco seco desidratado. Um espaço improdutivo a viver de calamidades e emergências, sem ânimo pra renovação… Tornando-se um imenso vazio – espaço ocioso, abandonado, como se fosse uma canoa com quilha quebrada, sem rumo… à deriva no rio a vagar.
Para não ter dúvidas do significado da palavra Amazonizar – será um país, um estado, um simples lugar? Pouco importa, o que vale é ter bem perto o sabor e pitiú dos peixes e degustar; o verde das matas a contemplar; pássaros e seu canto e saber imitar; rio-mar, com suas águas volumosas e saber, nelas, navegar… Respeitar gente e natureza que, há milênios, estão encravados na história a merecer respeito e bom trato; diálogo com toda cor e, juntos, conjugar à luz da verdade o verbo CUIDAR.
Ao Brasil vou lembrar que, num lugar rico, o caboco tá apeado e pobre. Mas saibam, que o povo do Amazonas pode até voar!