Por Arthur Cagliari, da Folhapress
BERLIM-ALEMANHA – O ex-presidente Lula disse nesta terça-feira, 10, em Berlim que países ricos acham que tudo se resolve criando fundos para financiar os países pobres, mas que é preciso ter soberania. “A Amazônia não é da França, não é internacional, a Amazônia é do Brasil, portanto, tem que exercer a soberania sobre ela”, disse em evento no Festsaal Kreuzberg na capital alemã.
A ideia encontra eco no governo de Jair Bolsonaro (sem partido) que, em 2019, quando as queimadas na Amazônia provocaram uma crise internacional de imagem do país, fez diversas afirmações nesse sentido.
“(O
presidente da França, Emmanuel) Macron promete ajuda de países ricos à
Amazônia. Será que alguém ajuda alguém, a não ser uma pessoa pobre, né, sem
retorno? O que que está de olho na Amazônia? O que que eles querem lá há tanto
tempo?”, disse o presidente, em agosto de 2019.
Em outubro, em discurso para garimpeiros na entrada do Palácio do Planalto,
Bolsonaro afirmou: “O interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da
árvore, é no minério”.
As queimadas recordes de 2019 levaram a um atrito entre Bolsonaro e Macron. O primeiro chegou a ofender a esposa do presidente francês e depois disse que não a tinha ofendido. O último disse que alguns dirigentes confundem soberania com agressividade e que espera que “os brasileiros tenham logo um presidente que se comporte à altura”.
Ainda segundo Lula, só um governo democrático, e não troglodita, como classificou o atual, pode permitir a exploração adequada da floresta. “Um governo que saiba que a riqueza da biodiversidade da Amazônia pode ser estudada por cientistas do mundo inteiro e quem sabe tirar proveito para resolver parte dos problemas da humanidade, sobretudo na área da saúde”, disse o ex-presidente.
Na avaliação de Lula, a questão ambiental tem que ser discutida seriamente e isso passa por repensar o uso e a distribuição de seus recursos naturais. “Não existe riqueza para todo mundo. Se quisermos garantir a cada ser humano o padrão de vida do povo alemão, seria necessário um planeta quatro vezes maior”, afirmou.
Lula também criticou o posicionamento dos Estados Unidos contrário às questões de proteção ambiental. “Até hoje os americanos não assinaram o Protocolo de Kyoto, não assinaram a carta de Paris, e não vão assinar porque não querem ceder um milímetro da sua política de poluição”.