MANAUS – As complexidades da Amazônia são reconhecidas. Tentar reduzir ou ignorar estas complexidades é um dos maiores problemas que enfrentamos nos debates públicos sobre as questões que nos conectam com um “desenvolvimento” ou uma “proteção ambiental”. A irrealidade destes objetivos vende uma utopia e uma dificuldade de diálogo entre as várias partes interessadas.
Mesmo quando políticas constroem acertos, há grupos que afirmam que são fracassos. Isso vale para tudo. Até a indústria da Zona Franca de Manaus, que contribui com 18% do PIB da região com impostos, emprega mais de 100 mil pessoas e atende o país com diversos produtos, é percebida por várias partes como um erro “porque está longe”.
Edgar Morin, com mais de 100 anos, tem alertado ao longo de décadas para a complexidade do enfrentamento dos problemas e questões globais. Sistemas complexos possuem incertezas. Ignorar a complexidade leva a paralisia constante das ações e é isso que vemos nas questões de infraestrutura da região, como as hidrovias, rodovias ou aeroportos.
As incertezas Amazônicas precisarão ser enfrentadas com conhecimentos transdisciplinares, com uma ação cercada de incertezas, mas com ações que devem ser tomadas e analisados os seus efeitos. Precisamos alocar recursos para ocupar a Amazônia e entender seus desafios e manter a biodiversidade usando-a em favor da humanidade. Aliás, será que isso é possível? Precisamos partir das incertezas para identificarmos as oportunidades.
Segundo o economista Branko Milanovic, o embate que vivemos hoje é entre diferentes estilos de “capitalismo”. Ainda segundo ele, “o surgimento de uma classe alta que se autoperpetua, juntamente com a crescente desigualdade”, e o pensamento capitalista onde os políticos são forçados a “gerar constantemente crescimento econômico para legitimar seu domínio.” As incertezas amazônicas ganham contornos políticos e econômicos que vão além das questões puramente ambientais ou sociais.
Questões ambientais pode ser simplesmente uma desculpa para não agir. No meio das discussões, nem todos os projetos têm suas razões claramente expressas, o que obscurece o debate público, influenciado por interesses diversos. Algumas pessoas se oporão à BR-319 para proteger a sobretaxa da seca, outro por preocupações ambientais, outro porque não aceita um Brasil como potência econômica maior do que já é, e outro porque prefere direcionar o orçamento público para o Sudeste.
Para resolver problemas de infraestrutura e políticas públicas na Amazônia, é essencial enfrentar as complexidades. Precisamos entender os interesses desses grupos para não nos distrairmos com assuntos irrelevantes. Se não focarmos nas causas reais, ficaremos perdidos, beneficiando aqueles que lucram com a desgraça, seja do grande empresário que transporta pelos rios pagando preços estratosféricos, seja do ribeirinho que fica sem água por não ter uma alternativa rodoviária.
A infraestrutura só atinge eficiência quando existe competição entre diferentes modos de transporte e empresas sem vínculos com oligopólios.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.