EDITORIAL
MANAUS – Desde os primeiros dias de governo do presidente Jair Bolsonaro, em 2019, ele deixou muito claro que a Amazônia e os povos da floresta não tinham qualquer valor para a administração federal. Foram quatro anos de destruição e morte, culminando com a situação assistida hoje do povo yanomami.
Com o discurso de que o mundo está de olho na Amazônia e que ela é dos brasileiros e, por isso, os brasileiros devem explorá-la, Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, trataram de afastar os países que contribuíam para o Fundo Amazônia.
Aqui, de novo, um discurso infame de que as ONGs (Organizações Não-Governamentais) se beneficiavam desse dinheiro do fundo, mas trabalhavam para organizações que querem “roubar” a Amazônia. Tal discurso é apenas um pano de fundo para as ações de destruição da floresta.
Essas mesmas pessoas contrárias ao Fundo Amazônia e as ONGs – e no Amazonas encontram-se algumas – nunca levantaram a voz para combater o garimpo ilegal ou o desmatamento da região.
Bolsonaro e seus ministros destruíram todos os mecanismos de proteção da Amazônia. A primeira providência do presidente foi desacreditar os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre desmatamento e queimadas na floresta. Afastou o diretor do Inpe à época, Ricardo Galvão, por defendeu os dados e o contrariar.
Os madeireiros e garimpeiros foram incentivados durante quatro anos a avançar sobre a floresta, destruir e matar. Os órgãos de fiscalização viram sucata e, em muitos momentos, foram desautorizados a agir, como no caso da destruição dos equipamentos dos exploradores da floresta.
A ilegalidade passou a prevalecer sobre a lei. A morte se sobrepôs à vida.
A Funai (Fundação Nacional do Índio) saiu do Ministério da Justiça e foi para o Ministério da Mulher, Faília e Direitos Humanos, sob o comando de uma mulher (Damares Alves) que não tinha noção do que estava fazendo no cargo. Para presidir a Funai, um militar que nunca visitou uma terra indígena e que torcia o nariz para os direitos dos povos indígenas.
Nos últimos dias o Brasil foi surpreendido com a situação de fome e doença dos indígenas yanomamis. No lado de Roraima, incentivados por um governo aliado de Bolsonaro, os garimpeiros avançaram sem dó nem piedade sobre as comunidades indígenas, deixando um rastro de destruição. Até os postos de saúde foram ocupados pelos criminosos.
Indígenas foram expulsos de suas comunidades; a caça e a pesca, principal fonte de alimentação desse povo, viram pó nas mãos dos malfeitores. O resultado é o avanço da fome e de doenças. As imagens dos corpos esqueléticos são chocantes.
E tudo isso foi feito sob os aplausos de um governo que deveria combater os criminosos. A situação era tão absurda que os garimpeiros criminosos chegaram a fazer protestos em frente aos órgãos públicos em Boa Vista, capital de Roraima, pedindo o fim das ações do Ibama e da Polícia Federal contra eles.
A ocasião era para prender a todos os manifestantes criminosos. Mas o governo nada fez; enquanto isso, centenas de indígenas, incluídas dezenas de crianças, morriam de fome ou de doença.
Agora, é hora de agir. A Polícia Federal e os órgãos de controle e fiscalização precisam identificar os financiadores do garimpo e colocar todos na cadeia.
É preciso destruir todo e qualquer equipamento em terras yanomamis. É preciso devolver para os povos nativos suas terras. É preciso determinar indenizações pela destruição da fauna, da flora e dos rios e usar o dinheiro dos garimpeiros criminosos em favor dos indígenas yanomamis.
Feito isso, é preciso, por fim, responsabilizar todos os membros do governo da morte pela destruíção da Amazônia e pelas mortes dos povos indígenas.