No Brasil possuímos um problema severo na execução do papel. É muito frequente um baixo conforto e um baixo nível de aceitação naquilo que as pessoas fazem no momento. Converso com alunos em início de período e eles parecem tristes por serem “só” estudantes, como se isso fosse um demérito. Há um desconforto com o fato. Encontramos um amigo que não vemos faz algum tempo e perguntamos como vão as coisas e logo na sequência surge um advérbio: “vão bem, mas estou mudando…”. Há um baixo conforto e uma baixa aceitação naquilo que fazemos.
O mesmo acontece com quem executa papéis institucionais, pois a sociedade é a mesma. Estou aqui nesta posição, mas… Assim, vamos sendo estudantes parciais, que estão incomodados por serem “só” estudantes, técnicos que gostariam de ser analistas, analistas ou engenheiros júniores que não veem a hora de serem sêniores, sêniores que adorariam ser gerentes ou diretores e assim por diante. E quando os líderes chegam na posição de liderança, ficam com pavor de perder os cargos e funções, abstendo-se do sonho do passado.
Este padrão de comportamento passa também por grupos de pessoas em empresas privadas, instituições públicas etc. A pessoa é gerente, mas estuda para um concurso. Há um baixíssimo nível de aceitação sobre o que somos, o que fazemos e qual o nosso potencial. Garçons ou caixas de padaria atendem um cliente e ao mesmo tempo conversam com outras pessoas, com um baixíssimo nível de concentração na sua tarefa. O leitor muito provavelmente já constatou estes fatos ou, caso contrário, poderá começar a observar.
Este incômodo e ausência do momento presente é danoso. Temos um conjunto expressivo de instituições da sociedade que terminam não fazendo seu papel. Qual a instituição que deveria liderar as discussões sobre o desenvolvimento da Amazônia? Lógico que a Sudam. Qual a que deveria liderar as questões sobre pesquisa científica na região? O Inpa e as universidades federais, estaduais e privadas da região. Todavia, não é o que está se passando. Quem lidera as discussões são estrangeiros.
Precisamos com algum mínimo senso de urgência começar a realizar nossos papéis com integralidade, sob a pena de não sorvermos aquela oportunidade na qual estamos inseridos. Como disse certa vez o executivo Frank Maguire (ex-diretor da Fedex) analisando liderança: “líderes que não liderarem, professores não professam, como poderemos ter um futuro?” Há uma grande oportunidade na Amazônia, mas a Sudam, o Inpa e as universidades precisam começar a exercer com mais veemência e contundência os seus papéis, se não precisarão vir os estrangeiros nos dizer o que fazer. Se a pauta destas instituições for apenas dizer que o governo está errado e começarmos a brigar entre nós, haverá um ótimo clima para um comando externo.
Precisamos fazer o nosso papel, do garçom ao Presidente da República. Do Auxiliar de Serviços Gerais ao Presidente da Empresa Privada. Do Professor ao Reitor. Precisamos de uma nação total para encontrar o caminho do desenvolvimento. Enquanto formos cidadãos parciais em nossos papéis não nos encontraremos com o desenvolvimento. Precisamos de estudantes totais nas universidades, para que não sejamos ao final uma massa amorfa, sem sentimento e sem capacidade de realização. Ou seja, mais grave do que sermos pobres de recursos financeiros é sermos pobres na capacidade de pensar e realizar o presente. Sem presente nunca existirá futuro.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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