Um trabalho apresentado na Universidade do Tenesse, em 2014, “Gênero, corrupção e responsabilidade”, discutiu, em cima de dados sobre desempenho das mulheres na gestão pública, por que as mulheres, frequentemente, são mais resistentes à corrupção. Justin Bayer, da Universidade Rice, selecionou 80 regimes democráticos e anotou uma correlação emblemática: presença de mulheres no governo e no Parlamento está diretamente relacionada a uma menor incidência de corrupção nesses sistemas. Seriam, pois, as mulheres um gênero mais íntegro, ou seja, mais refratárias à sedução do ilícito?
No panorama internacional, hoje, Angela Merkel, a primeira ministra da Alemanha, a maior liderança política global, e que ajudou seu mentor, Helmut Kohl, a unir as duas Alemanhas com a queda do muro de Berlim, não hesitou em denunciar o todo-poderoso líder alemão na virada do século, quando descobriu seus deslizes na gestão da coisa pública. E o que significa o despertar dos eleitores franceses para esta antiga novidade chamada mulher que passou a ocupar quase 50% das cadeiras no Parlamento francês? Vale ressaltar que o fenômeno se deve ao partido de Emmanuel Macron – educado rigorosamente por sua professora, 25 anos mais velha, com quem se casou. Refletir sobre este fato pode oferecer o fio explicativo de um inquietante enigma: menos cor-de-rosa do conformismo e mais carmim da altivez.
Dizem as más línguas que o problema das mulheres são as próprias mulheres. Embarcar no simplismo desta afirmação cultural de nada nos valerá. Advogando em causa própria, posso dizer com segurança: nós mulheres advogamos por uma causa mais positiva e, à luz dos dados da realidade, mais construtiva! Queremos ocupar o nosso espaço na sociedade, sem perder nossa feminilidade. Longe de sermos parte dos problemas do mundo, somos essenciais nas soluções, seja qual for a natureza da questão: doméstica, conjugal, gerencial, jurídica ou política.
Sempre foi assim – é justo reconhecer o que é justo. Então, considerando estes “agravantes históricos” de submissão e desconfiança da competência da mulher, é tempo de nos juntarmos e fazermos os recortes, podas e semeaduras de uma nova jurisdição social.
Parafraseando a ministra Carmen Lúcia, presidente da Suprema Corte, portanto, “é inadmissível, inaceitável, insuportável ter de conviver sequer com a ideia da violência contra a mulher”, especialmente a violência moral, que tenta nos impingir o estigma de sexo frágil, como forma sutil de nos condenar ao andar de baixo da submissão e da incompetência. Isso jamais fez ou fará parte da natureza da Mulher!
Recebemos, em abril último, a visita honrosa da Ministra Eliana Calmon, outra mulher ilustre, corajosa e profética, para debater o papel da mulher na revitalização política do Brasil que, em suas apresentações deixou clara a certeza de que o Brasil em geral e o Amazonas, em particular, muito terá a crescer e avançar sob as mãos e a participação de corações e mentes femininas.
O desafio de ser mulher e advogada é imensurável; hoje somos maioria no exercício da profissão e muitas estão, com muito esforço, ocupando posições de relevância em áreas que eram de domínio masculino. Advogadas e Mulheres que fazem jus a memória – que os homens se referem como lenda – das mulheres guerreiras, as Amazonas, a quem este Estado deve o nome e a oportunidade de confiar-lhe o seu destino.
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