BRASÍLIA – A nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser a chefia da Casa Civil Presidência da República representa uma guinada para que o país saia da crise política e econômica, afirmaram hoje (16) líderes do governo na Câmara dos Deputados.
A indicação de Lula foi anunciada pelo líder do PT na Câmara dos Deputados, Afonso Florence (BA), antes mesmo da confirmação do Palácio Planalto. Segundo o líder do PT, a nomeação de Lula, reconhecido por sua habilidade de articulação, vai dar força ao governo. Florence disse que Lula aceitou o cargo unicamente para ajudar na saída da crise.
“O presidente Lula vai para a Casa Civil para ajudar na saída da crise. Ele veio na hora certa que o Brasil precisa”, afirmou Florence. “É o presidente mais bem-sucedido da história do país, com a melhor aprovação, de 87%, e que decide ser ministro-chefe da Casa Civil com o objetivo político e de gestão de contribuir com o Brasil para a saída da crise política e econômica.”
A presidenta Dilma Rousseff tomou a decisão de nomear Lula para a Casa Civil depois de muita conversa com o ex-presidente. Ontem (15), a reunião entre os dois durou mais de quatro horas, mas a decisão só foi tomada após novo encontro na manhã desta quarta-feira (16).
Florence também rebateu as acusações de que, uma vez no governo, Lula teria o poder de interferir nas investigações da Operação Lava Jato. “O foro privilegiado nunca foi, nem será motivo de obstaculização de investigações. Nós não temos nenhuma incidência no curso das investigações, nem pretendemos ter, ao ter o o presidente Lula como ministro”, disse o líder petista. Ele ressaltou que tanto Lula quanto Dilma são reconhecidos por terem valorizado e dado autonomia aos órgãos de controle, como a Procuradoria-Geral da República
Articulação no Congresso
Para o vice-líder do governo, Silvio Costa (PTdoB-PE), Lula vai cumprir um papel importante de articulador com a base do governo no Congresso Nacional, inclusive desarmando a continuidade do processo deimpeachment de Dilma.
Costa disse que as críticas feitas pela oposição são ireresponsáveis, por não considerarem a situação ecônomica do país. “A oposição está dizendo de forma irresponsável que o presidente aceitou [o cargo] por causa do foro privilegiado. Se o presidente Lula estivesse preocupado com o foro privilegiado, teria assumido [o cargo] desde o ano passado, antes de Michel [Temer], acrescentou Costa, que, desde o ano passado, defende a ida de Lula para o governo.
No ano passado, o vice-presidente Michel Temer chegou a assumir a articulação política do governo Dilma.
Segundo o deputado, Dilma colocou os interesses do país acima de “possíveis vaidades”. “A presidenta teve um comportamento correto, mostrou uma preocupação impar com o país, e o presidente Lula deu uma aula de compromisso com o povo brasileiro.”
Costa disse ainda que estava muito feliz e comparou Lula com o técnico de futebol Pepe Guardiola, treinador do time alemão Bayern de Munique, considerado o melhor do mundo. “Dilma contratou um Pepe Guardiola para comandar os seus atletas no Congresso Nacional. A sinergia entre Executivo e Legislativo vai aumentar, e a presidenta mostra, com essa atitude, que pensa no país”, afirmou.
CUT
Um dos principais líderes da Frente Brasil Popular, grupo que reúne as entidades dos movimentos sociais que dão suporte ao governo Dilma Rousseff, o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas, afirmou nesta quarta-feira, 16, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai mudar “radicalmente” o governo ao assumir a Casa Civil.
“A presença do presidente Lula vai mudar radicalmente e dar uma guinada à esquerda no governo. Essa é a motivação dele”, disse o dirigente à reportagem. Segundo Vagner, as mudanças ocorrerão “fundamentalmente” na política econômica.
“O presidente Lula não poder ser apenas mais um ministro. Dilma vai continuar governando o País utilizando a sabedoria dele. A presidente precisa de ajuda. Ela não está sendo destituída do cargo. Só uma grande mulher pode fazer o que ela fez”, diz Freitas.
Na sexta-feira, 18, ele e Lula devem participar juntos na Avenida Paulista no ato contra o impeachment. O ex-presidente decidiu nesta quarta-feira assumir a Casa Civil no lugar de Jaques Wagner. “Só quem não conhece a trajetória do presidente Lula pode achar que ele aceitaria o cargo para ter foro privilegiado”, afirma o sindicalista.
O sindicalista avalia, ainda, que a agenda do ajuste fiscal ficará em segundo plano e que a reforma da Previdência não sairá do papel. “A reforma da Previdência é a pauta mais tresloucada que o governo Dilma poderia ter trazido nesse momento, com o governo tendo baixíssima credibilidade e sendo atacado por todos lados”.
Romero Jucá
Um dos parlamentares mais influentes na área econômica no Congresso, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse que não há espaço para uma guinada na política econômica, mesmo com a assunção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ministro do governo Dilma Rousseff. Ele disse que o quadro de recessão e as dificuldades fiscais do Executivo dificultam uma mudança radical da condução da economia. A avaliação de Jucá foi feita na terça-feira, 15, à noite, na véspera da confirmação de Lula como titular da Casa Civil.
O peemedebista afirmou que, se uma guinada ocorrer, no outro dia o mercado reagirá negativamente. “A resposta da economia a loucuras é negativa, o dólar sobe, ninguém investe e, daqui a pouco, quem não está investindo vai tirar as empresas do Brasil. Aí, vira a Venezuela”, disse. “Não dá para inventar, invenção é contra o governo, passou a hora de pedalar”, completou.
O senador do PMDB destacou que ainda é preciso saber “qual Lula” assumirá o governo Dilma: se o que fez um ajuste nas contas com o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mais forte do que a gestão Fernando Henrique ou se o mais vinculado a movimentos sociais como a CUT e o MST.
Jucá destacou que é contra o uso de reservas administradas pelo BC para impulsionar a economia no momento. Segundo ele, é preciso ter cautela diante da redução de crescimento da China e de países europeus e ainda após o resultado fiscal do ano passado, quando o País registrou o pior déficit primário da história.
(Das Agências)