EDITORIAL
MANAUS – Grande parte dos habitantes das margens dos rios da Amazônia, os chamados ribeirinhos, consome água retirada dos próprios rios, sem qualquer tipo de tratamento. Neste ano, com a vazante história dos rios e o calor extremo, a escassez de água potável foi um dos principais problemas para essas populações.
Autoridades do Estado e dos municípios distribuíram garrafões de água, mas em quantidade insuficiente para amenizar o problema. As famílias que tiveram acesso a essa oferta, ganharam um garrafão, o que para um grupo familiar de cinco pessoas dura no máximo três dias. A medida foi apenas paliativa e serviu muito mais para a propaganda institucional do que para combater a falta de água.
A reportagem do ATUAL encontrou em comunidades ribeirinhas um produto, que foi distribuído pela FAS (Fundação Amazônia Sustentável) muito antes da vazante histórica, e que nesse período de estiagem foi considerado como a salvação da lavoura por muitos: um sachê com um pó escuro produzido pela multinacional P&G, instalada na Zona Franca de Manaus, que, dissolvido nas águas escuras do Rio Negro ou nas águas barrentas do Solimões, é capaz de purifica-la e torna-la cristalina.
A boa notícia desse produto, que foi doado pela P&G à FAS, veio seguida de uma péssima notícia: a empresa deixou de fabricar o purificador de água. O produto, com apenas 4 gramas, purifica entre 10 e 18 litros d’água.
A FAS não soube informar o valor de custo do produto, uma vez que recebeu de doação. Mas certamente um sachê deve custar muito menos do que um garrafão de água mineral.
Governo do Estado e prefeituras poderiam buscar informações sobre o produto e fazer pleito para que a P&G ou outra empresa voltasse a produzi-lo. Fazendo isso, poderiam distribuir o purificador a toda a população ribeirinha, gastando muito menos do que se gasta para levar água potável em garrafões em tempos de crise.
Evidente que a distribuição do produto para purificar água é uma medida paliativa, mas muito mais eficaz do que a situação atual, em que a população bebe água contaminada em qualquer período do ano.
Quem acha que a escassez de água potável ocorre apenas durante o período de vazante dos rios, não conhece as comunidades ribeirinhas da Amazônia.
Algumas comunidades às margens do Solimões, principalmente as que habitam terras firmes, já são servidas com poços artesianos, usando a energia solar para bombear a água para suas residências.
O investimento em poços artesianos seria uma medida de médio prazo e mais duradoura, e deveria ser avaliada pelas autoridades.
Por fim, é preciso que os governos criem medidas efetivas de enfrentamento dos problemas durante a seca dos rios e a cheia para evitar os decretos de emergência e as medidas paliativas.
Na questão da água potável, como se vê, é mais simples do que a maioria dos amazonenses imaginam. Há que se ter apenas vontade política.
Acompanhe em vídeo o processo de purificação: