Da Redação
MANAUS – Manaus é a segunda cidade brasileira que mais vai crescer até 2020, ficando atrás somente de Brasília (DF), disse o engenheiro civil e urbanista Cláudio Bernardes, nesta sexta-feira, 16, durante debate sobre urban ização e plano diretor, na capital do Amazonas. “É preciso estar preparado para este desafio, e não somente nas áreas da saúde, educação, habitação, mas principalmente na questão da mobilidade urbana. A situação pode ficar pior e é preciso, urgentemente, que seja repensada e transformada”, alertou o urbanista, que é um dos responsáveis pela criação do Plano Diretor de São Paulo.
Conforme Bernardes, o adensamento é uma ferramenta importante, mas é preciso saber bem como e onde usar. “Se a infraestrutura da cidade não estiver adaptada para suportar tal modelo urbanístico, não vai funcionar. É preciso, acima de tudo, saber qual será o modelo mais adequado e eficiente para Manaus”, disse.
A proposta do adensamento urbano prevê uma menor locomoção dos habitantes de uma cidade, fazendo com que eles habitem, trabalhem e circulem numa menor parcela territorial possível. Nesse modelo, o cidadão passa a ter, perto de si, tudo aquilo que necessita diminuindo os deslocamentos e o travamento do trânsito. Pondo em prática esse modelo, por exemplo, seria possível que toda a população do mundo habitasse a cidade de São Paulo, segundo Bernardes. “Claro que isso é uma utopia, mas é um exemplo válido de como este modelo pode ser funcional”, comparou.
Para que o adensamento seja possível, é necessário que a cidade pense e invista em novas alternativas eficientes de transporte. Hoje, conforme o engenheiro, Hong Kong é uma das cidades exemplos de um adensamento urbano. No entanto, 89% da população na cidade utiliza o transporte coletivo e outras alternativas como caminhadas e o uso de bicicletas para seus percursos diários. Com isso, segundo Claudio Bernardes, esse modelo apresenta-se também sustentável, por conta do baixo número de emissão de CO2 na atmosfera, decorrente da redução do número de carros particulares circulando nas ruas.
O arquiteto e urbanista Pedro Paulo Cordeiro, um dos responsáveis pela criação do Plano Diretor de Manaus, disse que falta planejamento urbano. “Manaus não é uma cidade planejada. Isso é fato. Seu maior ponto de desenvolvimento urbano foi no período da produção da borracha, ainda no início do século passado, quando o então governador Eduardo Ribeiro pensou em copiar o plano urbanístico de Paris”, lembrou. “No entanto, a formação territorial de Manaus não suportava a reprodução total deste, devido à presença de vários igarapés que dividiam a área territorial da cidade. Por isso alguns pontos passaram por modificações e alguns igarapés foram entubados ou aterrados, já naquele período”, explicou.
Após esse processo, Manaus passou a sofrer um processo desordenado de crescimento. A cidade hoje ocupa um grande espaço territorial, o que chamamos de “espraiamento urbano”. Com isso, surgiram os grandes problemas, como a redução de áreas verdes no perímetro urbano da cidade. “Com isso, hoje Manaus está na contramão de dois conceitos urbanísticos sustentáveis: a ‘compacidade’, que é a ideia de uma cidade compacta; e a ‘biofilia’, que é o acesso humano à natureza”, destacou Cordeiro.
Para mudar esse cenário, Cordeiro afirma que é preciso repensar a questão habitacional da cidade, para que sejam utilizadas as áreas já existentes e não abertas novas áreas. “Hoje, temos por volta de 33 mil habitantes no centro da cidade e essa região tem capacidade de abrigar muito mais”, afirmou.
Roberto Moita, diretor-presidente do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (IMPLURB), reafirmou que é preciso pensar numa diversificação no uso do centro histórico da cidade. Segundo Moita, que também é arquiteto e urbanista, essa é uma região que, em outros tempos, já foi habitada por quase o triplo de pessoas do que tem hoje. “Para que isso aconteça é preciso que toda a infraestrutura deste local seja revista, pois uma área insegura e com pouca iluminação acaba não sendo atrativa para a população”, disse.
Moita ainda destacou que há pesquisas habitacionais que mostram o alto interesse por moradias na região central de Manaus, no entanto, pouco interesse em assumir imóveis antigos, por conta do alto custo destes. Uma alternativa, segundo o secretário, seria o surgimento de novos empreendimentos habitacionais nessa região.
Para o presidente do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil), Frank do Carmo Souza, é extremamente importante a criação desses espaços para o diálogo, visando a melhoria e o desenvolvimento da cidade, em especial nesse momento, em que novos planos e projetos urbanísticos estão sendo levantados por nossos candidatos a Prefeitura de Manaus e Câmara Municipal. “A expectativa é que possamos ter, a partir daqui, debates de qualidade, para estabelecermos direcionamentos para a melhoria da nossa cidade. Que tenhamos um planejamento de longo prazo , válido para os próximos 10, 20, 30 anos. Precisamos de uma cidade para viver e não para morar”, finalizou.