Em 18 de agosto, o talentosíssimo Rui Machado demonstrou em “acordes visuais” a sua visão de Amazônia e encantou quem passou no Teatro Amazonas mais que lotado. “O rio é o caminho / estrada da vida / de um povo amazônida”. Cada acorde e pintura em tela daquela noite provocou adoração e valorização da Amazônia. Era encantadora a plateia que estava ali para celebrar seus 40 anos de artes visuais e 25 anos de composição musical.
Rui Machado mostrou-se fundamental para a produção artística local e muito apropriado para o momento.
Sem a cultura é impossível compreender a Amazônia. Querer considerar a Amazônia como Uma Amazônia talvez seja o maior dos equívocos de que quem vive longe daqui, ao tentar interagir de alguma forma conosco. A arte pode ajudar a ampliar este entendimento sobre as nossas nuances e ir além do debate superficial.
É necessário ecoar para o mundo a sabedoria milenar das pessoas, além dos tesouros enterrados. O eldorado é muito maior do que o percebido, pois ele está nos conhecimentos tradicionais e na cultura, como também demonstra o arqueólogo Eduardo Góes Neves, no novo livro “Sob os Tempos do Equinócio”, que estuda os povos de uma “história antiga” e presença de mais de 12 mil anos na Amazônia Central – que inclui Manaus.
A visão curta dos invasores, destruidores de outrora e de agora, só percebem maneiras de espoliar, destruir e de usurpar. Precisaremos resistir aos vários imperialismos que nos são impostos e a cultura é um dos melhores caminhos para resistência. Por isso que ela é tão atacada. Neste momento de ameaças múltiplas, com florestas queimadas, índios combatidos, indústrias reduzidas e de ciência sem recursos, poderemos encontrar nas artes os caminhos de uma construção de novos acordes pela prosperidade dos amazônidas. Artistas e cientistas são rebeldes por natureza e isso é ótimo para quebrar a lógica vigente, onde até a censura começa a voltar, ora disfarçada, ora feroz.
Ainda citando Rui Machado, a cada momento a Amazônia está “por um triz”, pois, em sua grandeza, deixa todos entrarem, sem demarcar limites para a interação dos povos. Este jeito aberto que temos talvez precise ser modificado, criando uma linguagem mais cuidadosa para o convívio com o mundo.
Há várias formas de perceber a Amazônia, ou o Teatro Amazonas, como apresentado nas telas da exposição. Precisamos parar de entregar de bandeja o que temos e começar a valorizar mais cada peixe, curva de nosso rio e riqueza da floresta – como também demonstrado. A abundância daqui será valiosa, se nós a valorizarmos. De outra forma, tudo será transformado em cinzas em troca por nada.
Obrigado, Rui Machado, por nos presentear com tantos acordes e visões.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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