
Quando o técnico da seleção da Inglaterra de futebol, Hoy Hugdson, desferiu a frase infeliz contra Manaus, reclamando do calor (“Manaus é uma cidade a ser evitada”), o prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) reagiu como se estivesse no tatame, com golpes de Jiu-Jítsu (o prefeito diz ser faixa preta nessa modalidade). Tratou de desqualificar o trabalho do técnico e chegou a dizer que preferia que os ingleses não viessem para cá, mas que viesse uma seleção com melhor futebol.
O destino traiu a ambos. A Inglaterra acabou sorteada para fazer o jogo de estreia na Copa do Mundo em Manaus, para a tristeza do seu técnico. E Arthur também terá que engolir o futebol dos ingleses que, segundo ele, não é lá dos melhores da Europa. O que o prefeito não contava era com a reação da imprensa londrina contra a cidade que prometeu uma “Copa Verde”, mas só conseguiu arrumar um estádio sem as especificações ambientais projetadas.
Agora, diante da enxurrada de desinformação sobre a capital amazonense, ou do exagero como os ingleses contam as histórias da cidade amazônica, Arthur passou a falar uma nova linguagem, a ser mais cordial, quer buscar a diplomacia inglesa para corrigir os equívocos que podem custar caro para a cidade.
Grande parte das informações publicadas na imprensa inglesa é verossímil. O problema é como essas informações chegam. Dizer que jacarés passeiam pelas ruas da cidade é exagero, claro, mas não é exarado dizer que caminhado pelas ruas é possível ver jacarés nos igarapés que cortam a cidade. Exagero, também, é insinuar que os turistas podem ser atacados por jacarés.
Os dados sobre doenças como a dengue e a malária certamente foram pescados do sites oficiais, como o Ministério da Saúde. E é natural que a imprensa inglesa alerte seus leitores sobre os riscos de contrair tais doenças. Não há exagero nenhum em dizer que os turistas correm o risco, mas a imprensa daria melhor contribuição se ensinasse aos ingleses os métodos de prevenção.
Manaus, apesar da propaganda institucional, é uma cidade com muitos problemas. Para boa parte deles, houve a promessa de solução quando a cidade foi escolhida pela Fifa para sediar a Copa. Passados quatro anos, as promessas, todas, caíram por terra. Os problemas se agravaram e, agora, às vésperas do mundial, a Prefeitura de Manaus se apressa para aplicar uma camada de asfalto no “quadrilátero da Copa”, como está chamando o entorno do estádio, a única obra de quase uma dezena prometida.
As críticas dos jornais ingleses também revelam outro problema preocupante: os milhares de reais aplicados em propaganda pelo governo do Estado para “vender o Amazonas” no exterior, produz resultados pífios.
A medida anunciada pelo prefeito Arthur Neto de fazer uma viagem a Londres para “mostrar outra Manaus” aos ingleses vai servir mais como viagem turística da banca da Prefeitura do que para melhorar a imagem da capital na terra da rainha. Já a disposição de chamar o embaixador do Reino Unido no Brasil para conhecer melhor a cidade parece uma medida mais adequada, se as despesas correrem por conta dos ingleses.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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