
MANAUS – A chegada da vacina foi comemorada em todo o mundo como a salvação de muitas vidas e a única forma de por fim à pandemia que devasta países ricos e pobres. Assim como o vírus não escolhe e nem poupa ricos e pobres, a vacina também não deveria ser privilégio de quem a pode comprar. Por isso, em todo o mundo se definiu os grupos prioritários para receber as primeiras doses dos imunizantes.
No Brasil, mesmo antes da liberação das vacinas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), já havia um burburinho social de que as doses poderiam ser usadas primeiro por quem detém o poder ou está mais próximo delas.
Conhecendo o comportamento de parte dos brasileiros (não somos todos delinquentes e amorais), os homens e mulheres de bem deveriam ter cuidado para que não servíssimos de chacota mundial.
No momento em que a pandemia avança em todo o país, os órgãos que deveriam direcionar suas energias para coibir os abusos de autoridades e cuidar para que não falte atendimento digno a quem é acometido pela doença mortal, precisou se desgastar em outra batalha: a fiscalização das vacinas.
Por todo o Brasil há casos suspeitos e outros comprovados de pessoas que furaram a fila da vacinação, que não fazem parte do grupo que deveria receber o imunizante por primeiro. Alguns ainda tem a cara de pau de apresentar justificativas ridículas, como o prefeito que disse ter se vacinado para incentivar a população a fazer o mesmo.
Como foi dito neste espaço na quarta-feira, 20, não houve qualquer planejamento para a vacinação no Amazonas. O simples fato de organizar a logística de distribuição não é suficiente, ainda mais quando o quantidade de vacinas disponíveis é insuficiente para imunizar o primeiro grupo prioritário.
As prefeituras municipais deveriam ter organizado um cronograma de vacinação, uma lista de pessoas por ordem de prioridade, definido as unidades de saúde que estão na linha de frente para imunizar seus trabalhadores, e critérios de controle das doses.
Nada disso foi feito. O que se viu foi um oba-oba de políticos tentando “faturar” com a vacinação, organizando eventos para produzir conteúdo de publicidade, sem qualquer preocupação com o que de fato importava: garantir as vacinas para quem mais precisa neste momento. E aquela desconfiança da população logo se mostrou real.
Como parte dos brasileiros chegaram a um comportamento tão rasteiro, a ponto de se pensar que todos são iguais se oportunidade tiverem. É assim que muitos dizem nas rodas de conversas: “Se eu tivesse oportunidade, roubaria mesmo!” E isso costumamos ver no dia a dia.
O brasileiro não confia em deixar um objeto pessoal de valor em cima de sua mesa de trabalho, porque ao voltar corre o risco de não mais encontrar. Estamos falando do ambiente de trabalho, um local onde, em tese, todos tem o suficiente para não precisar roubar o que pertence aos colegas de trabalho.
Furar fila, como estão fazendo com as vacinas, é uma prática corriqueira no Brasil. É assim na fila do trânsito, é assim na fila do supermercado (os mais espertos levam uma pessoa para esperar na fila enquanto eles enchem o carrinho), é assim na fila de espera dos hospitais. Todos os que têm o caráter rasteiro e o dignidade baixa se arvoram a passar a perna nos mais honestos e ainda se sentem superiores por isso.
De tanto que esses atos se repetem, poucas pessoas ousam a reclamar, por medo da reação. Em muitos casos, quem reclama corre risco de morte. O errado passa a ser o certo, a ponto de criarmos um dito popular “o mundo é dos mais espertos”. E todos nos acostumamos a isso.
Agora, no caso das vacinas, não foi diferente. Os espertalhões mostraram ao Brasil e ao mundo como é que se faz. Felizmente, desta vez houve uma gritaria geral. É um bom sinal, e todos deveriam aproveitar a oportunidade para começar a mudar o comportamento, principalmente os que não compactuam com a vilania. É hora de começar a gritar contra os espertalhões ou contra os vilões.
Contato com a Coluna Expressão:
(92) 99606-3138
E-mail: expressao@amazonasatual.com.br