Em abril de 2017, o programa Fantástico, da TV Globo, exibiu uma reportagem sobre a Dinamarca, o país com o menor índice de corrupção e com maior índice de felicidade de seus cidadãos. Chamou a atenção alguns dados sobre a política daquele país.
Primeiro: o salário de um deputado era equivalente a R$ 23 mil e o de um pedreiro, R$ 18 mil.
Cada grupo de quatro deputados federais tinha direito a uma secretária, dois acadêmicos e um estagiário.
Cada deputado recebe por mês o equivalente a R$ 2.800,00 para bancar reuniões e gastos com a equipe, mas não tem funcionários exclusivos.
E, por fim, o deputado federal na Dinamarca tem direito a um cartão magnético para andar trem, metrô e ônibus, e permite que eles transportem a bicicleta. Mas esse benefício é questionado por parte dos dinamarqueses, que acham que os políticos deveriam pagar pelo transporte, como o resto da população.
E no Brasil…
No Brasil, os deputados federais tem salário bruto de R$ 33.763,00, cerca de 20 vezes o salário de um pedreiro.
Cada deputado tem direito a contratar, com a generosa verba de gabinete (R$ 106.866,59 por mês), 25 secretários parlamentares, que são escolhidos pelos próprios políticos sem qualquer critério.
Além disso, recebem auxílio moradia de R$ 4.253,00, têm direito a reembolso de despesas com saúde se optar por fazer tratamento em hospitais particulares.
Cada deputado brasileiro tem uma “cota para o exercício da atividade parlamentar” no valor de R$ 30.788,66 a R$ 45.612,53, dependendo da distância entre Brasília e o Estado de origem.
Essa cota serve para bancar despesas com escritórios que se confundem com comitês eleitorais nos Estados; locação de aeronaves, barcos, carros ou ônibus para viagens de campanha fora de época aos municípios da unidade da federação que o deputado representa; combustível para o carro do parlamentar e de assessores; alimentação do parlamentar; hospedagem fora de Brasília; contratação de empresa de segurança; contratação de consultorias e trabalhos técnicos [lembrem-se de que eles têm 25 assessores]; divulgação da atividade parlamentar, ou seja, propaganda de si mesmos; complementação do auxílio moradia em até R$ 1.747,00 mensais.
E não para por aí. Se quiser, o parlamentar pode aderir ao plano de saúde dos funcionários da Câmara, pagando R$ 420 por mês, com direito a rede conveniada nacional e a filhos e cônjuge como dependentes; e ajuda de custo no início e no fim do mandato, equivalente ao valor mensal da remuneração, para bancar despesas com mudança e transporte.
Nas assembleias legislativas e nas câmaras municipais, a situação ainda é pior. Além de ter direito a todas as vantagens dos deputados federais, os deputados estaduais no Amazonas têm dois gabinetes. A Assembleia Legislativa, por exemplo, tem 24 comissões permanentes, cada uma com a mesma estrutura dos gabinetes dos parlamentares. Como são 24 deputados, cada um fica com uma comissão.
Nas câmaras municipais das capitais, o número de comissões não chega ao número de parlamentares, mas não são poucas.
Diante de tantas benesses, qual deputado, senador, vereador ou político de um modo geral têm coragem de colocar o dedo na ferida e propor mudanças que estanquem a sangria de dinheiro público?
Será que os homens e mulheres de bem ainda são capazes de se indignar? Será que um dia essa indignação pode se transformar em ação para mudar a nossa história?
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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