Durante o tempo em que ocupei cargos na gestão pública na área de educação, o pedido mais frequente que recebi de professores foi a retirada de sala de aula para espaços pedagógicos, como: bibliotecas, sala de informática e laboratórios de ciências. O caso mais marcante foi o de um professor que me procurou com um semblante desesperado, dizendo: “Me coloque para fazer qualquer coisa, mas me tire da sala de aula”.
Àquela altura, apesar dos inúmeros pedidos desse gênero, não imaginava o tamanho exato desse problema, o que só ocorreu recentemente quando recebi de uma assídua leitora desta coluna o artigo científico das professoras: Aparecida Neri de Souza e Marcia de Paula Leite. A pesquisa cujo título é: “Condições de trabalho e suas repercussões na saúde dos professores da educação básica”, faz uma análise entre 1997 e 2006 das pesquisas existentes sobre as condições de trabalho e a saúde dos professores.
Desde que recebi o e-mail da leitora juntamente com o pedido para escrever sobre o tema, passei a me aprofundar mais nesta questão. Após outras leituras, passei a entender com bem mais clareza o porquê dos pedidos que recebi na época de gestor. Neste sentido agradeço a leitora que me brindou com este excelente tema.
O artigo enviado
O artigo foi publicado em 2011, mas apesar de alguns anos terem se passado é incrível como o levantamento realizado parece atual. Segundo as pesquisadoras, há um consenso bibliográfico no que diz respeito aos problemas relacionados às condições de trabalho dos professores no Brasil, destacam-se: baixos salários, alta temperatura, ruído, cansaço físico pela longa jornada, a dupla jornada das professoras (doméstica e profissional), a falta de tempo para si, o uso elevado da voz, a postura desconfortável, a falta de diálogo com a administração, a violência na escola (brigas entre alunos, roubos, ameaças dos alunos, depredação do espaço), a má higiene e limpeza escolar, a falta de água e o assédio moral.
Todas essas condições adversas geram o que as autoras classificam como “mal-estar docente”, expressão que descreve os efeitos permanentes de caráter negativo que afetam a personalidade do professor, resultado das condições em que exercem a docência. Segundo elas, a situação de mal-estar resulta no “ciclo degenerativo da eficácia docente”, produzindo efeitos negativos, como: angústia, alienação, ansiedade e desmotivação, além de frieza perante a dificuldade dos outros, insensibilidade e postura desumanizada.
Talvez seja por tudo isso que a OIT (Organização Internacional do Trabalho) considere a profissão de professor uma profissão de risco. Já a OMT (Organização Mundial do Trabalho) a considera como uma das mais estressantes, com forte elementos que conduzem a síndrome de Burnout, síndrome associada ao sofrimento por exaustão física ou emocional provocada por contínua exposição a situações estressantes.
Outras pesquisas
Uma outra pesquisa, de 2013, da professora Sandra Noveletto Antunes, com o título: “Mal-estar e adoecimento docente na escola pública paulistana: um panorama preocupante”, revela que no ano em que a pesquisa foi realizada, só no estado de São Paulo haviam 14.340 professores afastados de sala de aula. Este número corresponde aos profissionais que após as licenças médicas foram readaptados passando a exercer outra função dentro da escola. Segundo a pesquisadora, o aumento desse fenômeno de readaptações está sendo provocado pelas condições de trabalho enfrentadas pelos professores, que estão sobrecarregados, desmotivados e se sentindo desvalorizados.
Uma outra consequência disto é a pouca atração que se vê hoje pela carreira docente, além de um número crescente de professores que estão optando por abandonar as salas de aula, outros que se formam nas licenciaturas nem chegam a atuar como professores. Segundo o pesquisador, Marcelino Rezende Pinto, da USP, não faltam professores formados no Brasil o que faltam são professores que estejam atuando na carreira docente. Para ganhar mais e com menos estresse nossos mestres acabam atraídos para outras áreas, muitos vão atrás de uma segunda formação quase sempre motivados por mais remuneração, reconhecimento social e melhores condições de trabalho.
George Castro é supervisor do Pacto Nacional pelo Fortalecimen to do Ensino Médio; diretor
executivo da Macedo de Castro consultoria educacional; ex‐professor da Universidade Federal
do Pará e ex‐diretor do ensino médio e educação profis sional do estado do Pará.
Contato: [email protected]