A moda já foi realizar semanas. Em um passado não tão distante se criava semana para tudo, com o propósito de prevenir e atacar problemas, principalmente na área da saúde. Agora, a onda é uma cor para cada mês. Começou com “Outubro Rosa”, depois “Novembro Azul”, e, agora, “Setembro Amarelo”.
Criam-se ondas, mas os problemas, de fato, não são atacados com a firmeza necessária. As ondas, na prática, mudam muito pouco a realidade. Neste mês, no Setembro Amarelo, o objetivo é combater o suicídio. O tema é bem genérico e não tem foco específico. A quem se destinaria este mês? A todos e a ninguém especificamente. Por isso, o tema cor é diferente dos meses vindouros, mas neste, como nos outros, o governo vai por iluminação específica em prédios públicos. O Teatro Amazonas ganhará iluminação amarela.
Se um dado pode ajudar, a especialidade médica que cuida das pessoas com tendência ao suicídio, os psiquiatras, são raros por qui. Dados de 2016 do SUS dão conta de que o Amazonas tem 1,07 médicos nessa especialidade por 100 mil habitantes. É o 24° do país. A campanha no Amazonas e no Brasil quer mostrar que se os suicidas procurassem um psiquiatra, 90% das mortes seriam evitadas. Procure um psiquiatra na rede pública?
Em outubro, faz-se uma campanha de conscientização às mulheres para que se previnam contra o câncer de mama. Os prédios ficam lindos, na cor rosa, ampliam-se os atendimentos para exames naquele mês, mas passada a campanha, as mulheres enfrentam sérias dificuldades quando buscam atendimento médico na rede pública; a maioria não pode pagar os médicos da rede privada, e vão para a fila do SUS.
Em novembro, é o mês dedicado à prevenção da saúde do homem. Aí a situação é bem mais séria. Na rede pública há dois problemas: 1) o constrangimento de um atendimento que em Manaus duranta a campanha é oferecido em carretas, em vias públicas, dificultando ainda mais a quebra do tabu pelo exame de próstata; 2) a falta de médicos, principalmente em municípios do interior do Estado.
O Amazonas, de acordo com o relatório Demografia Médica no Brasil 2015, tinha, naquele ano, apenas 38 médicos na especialidade de urologia. Fora do Novembro Azul quem não tem R$ 400 ou R$ 500 para pagar um consulta, entra numa fila de espera que desanima o mais otimista dos homens. Mesmo quem tem o dinheiro da consulta, padece para pagar os exames na rede privada.
O grito de alerta deveria ser para ampliar o atendimento de saúde na rede pública para essas especialidades cujas doenças matam mais. Não adianta criar demanda sem oferecer atendimento adequado e digno.