EDITORIAL
MANAUS – O caso do ministro Alexandre de Moraes não é isolado. Ridículo e intolerável, ele se repete Brasil afora com autoridades de menor quilate. Nas férias e recessos de meio do ano, há uma revoada de figuras conhecidas para participar de congressos, simpósios e palestras em instituições de países com vocação turística.
Relembrando: Alexandre de Moraes foi hostilizado no aeroporto de Roma (Itália), quando voltava de uma palestra proferida por ele no Fórum Internacional de Direito, realizado na Universidade de Siena, na Itália. Até aí, tudo bem.
Dias depois, pela repercussão que o caso de agressão tomou, o repórter Eduardo Oinegue, da TV Band, revelou que Alexandre de Moraes não foi convidado pela universidade italiana, mas que o tal Fórum de Direito foi promovido pela Unialfa, instituição de ensino com sede em Goiânia-GO. Até aí, tudo bem.
Mas o jornalista também descobriu que a Unialfa pertence ao Grupo José Alves, que também é dona de um laboratório, o Vitamedic, que fabrica o medicamento Ivermectina, aquele incluído no Kit Covid, de medicamentos sem eficácia distribuído pelo governo Bolsonaro para combater a Covid-19, enquanto o então presidente pregava o desrespeito às medidas de prevenção da doença que matou mais de 700 mil pessoas no Brasil.
A empresa de medicamentos foi condenada pela Justiça do Rio Grande do Sul por fazer uma campanha publicitária para divulgar a Ivermectina como medicamento eficaz contra a Covid-19. A condenação por danos morais coletivos à saúde prevê o pagamento de R$ 55 milhões, cabe recurso, e o processo pode chegar ao STF.
Infelizmente, esse não é um caso isolado. Em todo o Brasil, os membros dos poderes, principalmente do Judiciário e dos órgãos de controle, são convidados a participar desses eventos em períodos de recesso.
Alguns órgãos, inclusive, bancam a viagem e hospedagem, engordando a conta bancária dos convidados. De quebra, os figurões levam a família, como fez Alexandre de Moraes, por ser uma oportunidade não apenas de trabalho extra, mas de fazer turismo a um precinho camarada, ou 0800.
O problema não está apenas nos custos de viagens e hospedagem para o erário, quando o dinheiro público é usado para bancar diárias e passagens, mas na relação de interesse por traz de quem banca esses eventos, uma porta aberta para a corrupção.
A troca de favores entre políticos é bem conhecida e parece ser um mal de difícil cura. Como disse o jornalista Elio Gaspari, em artigo publicado domingo (23) no jornal O Globo, “a indústria das palestras é ampla, geral e restrita”. Isso mesmo, restrita a um grupo seleto de autoridades e figuras públicas de destaque, incluídos jornalistas.
O problema é quando esse tipo de negócio interfere na vida de outras pessoas, como no caso de decisões judiciais, ou na vida social, como a vista grossa dos órgãos de controle sobre a corrução de quem banca a farra do turismo em tempos de recesso.
falou tudo……