Por Jullie Pereira, da Redação
Por Jullie Pereira, da Redação
MANAUS – Os transsexuais querem participar da política partidária, mas não apenas para cumprir cota nos partidos, diz Joyce Gomes, presidente da Assotram (Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do estado do Amazonas). Ela alega que na eleição de 2018 houve convites de partidos para participar da disputa eleitoral, mas não foi oferecido apoio.
“Na última eleição nós notamos um movimento de convite para pessoas trans participarem, mas as que aceitaram, serviram de laranja. Quando entraram, não tiveram apoio, então foi apenas para cumprir cota e a gente não quer só cumprir cota, a gente quer de fato um trabalho efetivo”, disse Joyce.
Ela questionou também a presença de gays e cisgêneros (pessoas que se identificam com o sexo de seu nascimento) em movimentos de inclusão. “A gente vê sempre pessoas falando do movimento LGBT, mas são sempre gays, ‘cis’, que sofrem minimamente o que pessoas trans sofrem. Precisamos de pessoas trans que sejam engajadas e empoderadas para falar e não servir como massa de manobra”, disse.
A Assotram não tem candidato e nem vínculo partidário, e deve se manter assim na eleição municipal deste ano, o que não significa que a entidade ficará alheia ao processo.
“Nós não temos nenhum candidato, não pensamos em nenhum nome para indicar, porém convidamos todos os candidatos que trabalham a pauta para discutir, ter um diálogo”, disse.
A única mulher trans que já se candidatou ao cargo de vereadora em Manaus, na eleição de 2016, Taty Freitas, não quer mais saber de eleição. Ela se candidatou pelo DEM e conseguiu 254 votos. “Não quero mais falar sobre essa candidatura”, disse Taty.
Na época, ela recebeu do partido apenas R$ 3,4 mil para a campanha, um valor menor do que de outras mulheres, como a candidata Anete Cruz, que recebeu R$ 8,2 mil do DEM para concorrer ao mesmo cargo de vereadora.
Em 2018, a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) registrou 53 candidaturas de pessoas trans. Segundo a associação, pela primeira vez no país o número foi computado.
Para a disputa ao Senado Federal, uma pessoa trans foi candidata; duas a deputada distrital pelo DF; 17 a deputada federal; e 33 a deputada estadual. O Amazonas não registrou nenhuma candidatura, o Pará registrou uma e Rondônia registrou duas.
Manifestação partidária
O PMN (Partido da Mobilização Nacional no Amazonas) reservou 10% das vagas de candidatos aos representantes LGBT do Amazonas e criou o movimento PMN Diversidade.
O presidente estadual, Marcelo Amil, disse que além da cota, cursos de formação serão ministrado aos integrantes do partido.
“Precisamos educar os nossos filiados quanto ao tratamento, como é que tenho que referir à um homem trans, uma mulher trans, como tratar a questão de binários, cis.Nós também vamos inserir os militantes do ‘Diversidade’ em todas as instâncias do partido, nós vamos construir núcleos do interior e nas zonas das cidades. Eles vão ocupar espaços de poder dentro do partido, que sempre foram negados, até mesmo pelo PMN no passado”, disse.
O PMN é o primeiro partido a se posicionar a favor de candidaturas trans no Amazonas. O MDB tem um núcleo ‘afro’, outro ‘mulher’, ‘indígena’ e ‘ambiental’, mas nenhum núcleo LGBT.
O PSOL, partido ligado às pautas de direitos humanos, não possui nenhuma pré-candidatura trans, apesar de trabalhar com causas LGBT.
Mesmo sem participação efetiva nos partidos, os transsexuais defendem o engajamento político. Entre as causas que pretendem trabalhar está o combate à violência.
A Antra divulgou na última quarta-feira, 29, o ‘Dossiê dos Assassinatos e da Violência Contra Pessoas Trans Brasileiras’.
O documento mostra que o Amazonas está em quinto lugar no ranking de taxa de assassinatos de pessoas trans por 100 mil habitantes, com 6,34%. Roraima está em primeiro lugar, com 8,69%.
Segundo o dossiê, pessoas trans com idade entre 15 e 45 anos têm mais chance de serem assassinadas. Conforme o indicador, 59,2% das vítimas de 2019 tinham entre 15 e 29 anos. No Atlas da Violência 2019, a média de idade de pessoas cis assassinadas entre 15 e 29 anos é de 53,9%
A questão racial também está no dossiê, 82% das pessoas trans assassinadas em 2019 foram identificadas como pretas e pardas, enquanto pessoas brancas tiveram a taxa de 17%.