O pensamento analítico emerge a partir de muitos fatos e dados, derivados de análises matemáticas e estatísticas. Segundo estudos internacionais, como o do PISA, o Brasil está em uma das últimas posições neste aspecto, isso se espelha nas arguições e debates que fazemos sobre qualquer assunto em nosso país e região.
É desolador observar, por exemplo, debates sobre a Zona Franca de Manaus (ZFM) ou sobre o futuro da economia, sem informações econômicas abundantes. Todos acham algo com base apenas na sua opinião ou lente ideológica, carecendo de fatos e dados para a análise e validação de suas conclusões. Por exemplo, quando se falam em métodos alternativos para a indústria aqui instalada, apresentam-se soluções que não possuem a mínima conexão tecnológica ou de negócio em relação ao contexto econômico da região. Como se fosse possível uma transição entre eletroeletrônicos e bionegócios.
Há um total esquecimento da diferença do perfil de qualificação dos trabalhadores e da distinção entre empresas. Como se fosse possível desligar algo e no dia seguinte ligar outra coisa. Se existir um real interesse em fazer uma transição para outras atividades econômicas, será necessário primeiro criar-se as condições para estas tais atividades que todos dizem ser a vocação da região. Contudo, as leis não entendem que estas atividades são a vocação da região. A formação da mão de obra também não espelha a tal vocação e o mundo também não compra a tal da vocação.
Entre uma vocação e uma realização plena de potenciais existe uma grande distância. Há um intervalo de tempo entre uma nova decisão e o início da colheita de frutos daquela decisão. Recolher resultados de empregos, produção, vendas ou impostos não é algo que aconteça de um dia para o outro. No Brasil, temos facilidade de desmontar estruturas, mas enorme dificuldade para criar modelos, métodos e marcos que levem ao efetivo desenvolvimento.
Em um mundo que busca a indústria e serviços, voltar as vocações para o extrativismo é dar passos atrás no desenvolvimento. Renunciar a indústrias em troca de uma vocação acreditada, porém inexistente. Não temos vocação para o turismo. Temos um potencial longe, muito longe de ser realizado. Se o tivéssemos o Amazonas seria um polo pujante do turismo global. Não temos vocação para o uso da floresta. Se tivéssemos, aqui seria o celeiro da alimentação funcional do mundo.
Não temos vocação para os bionegócios. Se tivéssemos, as grandes companhias farmacêuticas estariam por aqui. Não temos vocação para o transporte pelos rios. Se tivéssemos, a “Manaus Moderna” não seria o nosso porto de conexão para o interior do Estado. Esta mania de achar que somos o que não somos precisa mudar.
Confundimos talento com capacidade de fazer. Potencial com realização. Enquanto seguirmos a acreditar no que dizem e não no que somos verdadeiramente, seguiremos a luta pela defesa do que temos sem uma mínima argumentação analítica, baseada em fatos e dados.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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