Há alguns dias, o estado o Amazonas e sua capital têm registrado um forte aumento dos casos de covid-19 e mortes causadas por esta doença. Os estragos desta doença na população são similares ou até mais graves do que aqueles identificados na primeira onda, no ano de 2020. Isso é fruto da flexibilização das normas de proteção e prevenção do contágio durante as festas de fim ano, mas também foi visível a pressão dos setores empresariais que forçaram a retomada precoce das atividades. Também é notável a falta de planejamento dos gestores públicos amazonenses diante da situação de colapso sanitário no Brasil e no mundo.
A cidade de Manaus sofre com a falta de oxigênio nas unidades hospitalares, indicando a fragilidade do sistema de saúde local. As práticas de corrupção são comuns neste setor essencial, envolvendo políticos e pessoas de destaque, enquanto a população morre sem os cuidados necessários. A precariedade deste sistema aponta para a história de desigualdade, que já fez e continua fazendo milhares de vítimas no território amazonense.
O Brasil retoma os elevados índices de contágio e morte provocados pela covid-19, apesar da segunda onda já ter sido prevista pelos países europeus. O governo federal continua demonstrando a sua irresponsabilidade, ignorando a grave ameaça envolvida. Trata-se de uma atitude planejada que merece ser tratada como crime pelos órgãos judiciais e legislativos. A morosidade deste governo na elaboração de um plano de imunização é evidente e provoca indignação em qualquer cidadão consciente dos seus direitos.
Esta morosidade é somente uma das indicações que revelam a tendência genocida do governo federal e dos seus aliados. Tal tendência tem sido repetidamente demonstrada através de medidas nas áreas ambiental, social e econômica. São muitas as denúncias que advertem sobre ações governamentais que afrouxam normas de proteção ambiental, suprimem direitos sociais e transferem o patrimônio nacional para corporações privadas, trazendo grandes prejuízos aos bens públicos.
Vale a pena lembrar que Manaus foi a primeira capital a colapsar o sistema de saúde nesta pandemia. Novamente, a cidade se destaca, neste momento, pela sua caótica situação sanitária. Isso indica que não aprendemos com o sofrimento e as mortes ocorridas na primeira onda. As catástrofes ambientais repetidamente ocorridas também demonstram o quanto estamos resistindo mudar os nossos estilos de vida para melhor. As crises do capitalismo ocorridas cada vez mais frequentemente evidenciam o quanto precisamos alterar o modelo de desenvolvimento predatório adotado há quinhentos anos.
Vivemos um momento de crise estrutural, que impacta em todas as dimensões da realidade. O grande destaque do Amazonas nesta pandemia coincide com as agressões que o bioma da região tem sofrido. Talvez não seja coincidência, mas uma indicação a mais de que todas as coisas estão interligadas. O bem-estar das florestas e do ecossistema está intimamente ligado à saúde das pessoas e das relações que elas estabelecem entre si.
Sandoval Alves Rocha Fez doutorado em ciências sociais pela PUC-RIO. Participa da coordenação do Fórum das Águas do Amazonas e associado ao Observatório Nacional dos Direitos a água e ao saneamento (ONDAS). É membro da Companhia de Jesus, trabalha no Intituto Amazonizar da PUC-Rio, sediado em Manaus.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.