Uma pesquisa do Datafolha publicada antes do início da Copa do Mundo de futebol, na Rússia, mostrou que 53% dos brasileiros não tinham qualquer interesse pela competição. Bateu recorde. Pois em 2014 era de 36% e em 1994 era de 20% o percentual de desinteresse pelo evento.
Talvez isso mude no decorrer da Copa se a Seleção Brasileira conseguir bons resultados. Por ora, o empate na estreia não animou muita gente. Vamos ver os próximos jogos.
Mas as pessoas têm muitas razões, que foram elencadas nas pesquisa, destacando-se a crise econômica, a corrupção na CBF e na Fifa, além da derrota do Brasil na copa passada.
Desde o Golpe em 2016 tudo piorou no país. Os milhares de manifestantes vestidos de verde e amarelo, seguindo um pato amarelo da Fiesp e batendo panelas nas janelas nos apartamentos, estão escondidos e envergonhados. Defenderam a destituição de uma presidenta eleita democraticamente e sem crime cometido, e ainda contribuíram para colocar no poder uma quadrilha, segundo o MPF, envolvida até o pescoço na corrupção, deixando o país na recessão e com alto desemprego. E sem acabar com a corrupção.
Pior que o desinteresse pela Copa, é a falta de interesse pela Política e pelos partidos políticos. A mesma pesquisa da primeira semana de junho do Datafolha diz que 64% dos entrevistados não tem preferência por partido político. O partido que tem mais aceitação é o Partido dos Trabalhadores (PT), que tem 19% de preferência. Seguido do PSDB e MDB com 3% cada um. O PT é o partido mais querido do país.
Quanto ao governo Temer (MDB), a pesquisa mostra ser ele o governo mais impopular do país, desde a redemocratização, com 82% do povo achando ruim ou péssimo a sua gestão, principalmente pelo alto índice de desemprego, aumento dos combustíveis, pela alta corrupção, pela falta de investimentos na saúde e educação e pela perda de direitos dos trabalhadores.
Tem muitos jovens querendo deixar o país. Entre os mais ricos fica em 62%. Entre os mais pobres é de apenas 36%. São dados de uma pesquisa do Datafolha de maio deste ano. É a ilusão de procurar um lugar melhor que o Brasil e não lutar pelos direitos e pela melhoria da qualidade de vida.
Há uma crise de credibilidade das instituições. Um estudo global de Edelman Trust Barometer 2017 apontava que 62% dos brasileiros não confiavam mais em instituições. No Brasil, a pesquisa do início de junho do Datafolha mostrou que os partidos políticos, o Congresso Nacional e a Presidência da República seguem como as instituições menos confiáveis.
Das 10 instituições pesquisadas, os dados apontaram que o povo não confia nas seguintes instituições. Partidos Políticos (68%), Congresso Nacional (67%), Presidência da República (64%), Justiça Eleitoral (41%), STF (39%), Imprensa (37%), Grandes Empresas (33%), Poder Judiciário (31%), Ministério Público (30%) e Forças Armadas (20%).
No primeiro semestre de 2017, a Fundação Getúlio Vargas realizou uma pesquisa sobre a confiança nas instituições e constatou os seguintes dados: Forças Armadas (56%), Igreja Católica (53%), redes sociais (37%), Imprensa escrita (35%), Emissoras de TV (30%), Grandes Empresas (29%), Ministério Público (28%), Polícia (26%), STF (24%), Poder Judiciário (24%), Sindicatos (17%), Congresso Nacional (7%), Partidos Políticos (7%) e Governo Federal (6%).
Percebe-se uma baixa credibilidade da classe política, mas também do Poder Judiciário e dos meios de comunicação. Porque se diz que há muita corrupção no meio político. Mas nada se fala da corrupção no Judiciário, Ministério Público e na Grande Mídia.
Logo é abafado quando se fala dos esquemas para que as emissoras de TV consigam o direito de veicular os eventos esportivos e artísticos. As denúncias que envolvem a CBF e a Fifa logo são esquecidas.
No Judiciário, além da morosidade do Poder e seu distanciamento em relação ao povo, há uma aura de “endeusamento” de seus membros. As denúncias contra irregularidades e condutas de juízes, desembargadores, ministros não prosperam. Não é diferente no Ministério Público Estadual e Federal.
Os órgãos da Justiça perdem credibilidade quando não seguem a Constituição e as leis do país. Denúncias sem provas, manifestação de juízes fora dos processos, julgamentos políticos, condenações apenas por convicções, prender sem necessidade, expor as pessoas na mídia, prender quando ainda tem recursos, não seguir o devido processo legal e de trânsito em julgado. Vide o caso do Lula, que provou sua inocência, mas mesmo assim o Judiciário o mantém preso. E ainda tem as acusações de corrupção que o Judiciário está arquivando os processos para beneficiar políticos de determinados partidos.
Isso é motivo de preocupação, pois todas as decisões no mundo da política afetam a vida da população. Criminalizar a política interessa a quem sempre se beneficiou dos esquemas de desvio de dinheiro público. Precisamos despertar nos jovens o interesse pela política, pela luta por direitos, pela transparência nas ações públicas e pela participação popular.
Essa crise de credibilidade pode afetar as eleições de 2018. Em 2017, no Amazonas, 36% do eleitorado não escolheu candidatos, seja por abstenção, seja por anular o voto. Um grande protesto coletivo. Na eleição de 2014 tinha sido de 26%.
No estado do Tocantins, na eleição suplementar deste ano, 43,5% dos eleitores tiveram a mesma postura. Não foram votar ou anularam ou votaram em branco. Resultado que surpreendeu os analistas, visto que, em 2014, tinha sido de apenas 29%.
Talvez as eleições no Amazonas e em Tocantins sejam o prelúdio do que possa acontecer nas eleições de 2018, demonstrando esse desinteresse dos brasileiros pela política, assim como está sendo com a Copa do Mundo.
José Ricardo Wendling é formado em Economia e em Direito. Pós-graduado em Gerência Financeira Empresarial e em Metodologia de Ensino Superior. Atuou como consultor econômico e professor universitário. Foi vereador de Manaus (2005 a 2010), deputado estadual (2011 a 2018) e deputado federal (2019 a 2022). Atualmente está concluindo mestrado em Estado, Governo e Políticas Públicas, pela escola Latina-Americana de Ciências Sociais.
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