Pesquisas científicas contemporâneas são criadas em rede. Atualmente é praticamente impossível realizar inovações tecnológicas sem redes que conectem múltiplas culturas, empresas, universidades, centros de pesquisa e muito capital. Este momento do mundo é muito propício para quem tem a capacidade de conectar os diferentes, pois das diferenças surgirão as grandes oportunidades de inovação e de mudança. Acredito que não temos esta habilidade no Brasil, mas precisaremos desenvolvê-la, para sair da condição atual de baixo crescimento da economia.
Uma extensa reportagem de vídeo publicada pelo Financial Times no dia 20/12, com respeito aos desdobramentos do Brexit para a ciência inglesa, apresenta um conjunto de problemas para o Reino Unido em sua capacidade inovadora (https://youtu.be/1EkcRaYue44). Entretanto, quem não tem problemas hoje em dia? Cada problema deveria ser observado como uma oportunidade. Assim, o mundo é um celeiro de oportunidades. A forma como nos posicionaremos e agiremos a cada dia é que nos fará deixar de ser a 9ª economia do mundo, apesar de várias notícias falsas de WhatsApp insistirem que crescemos: o país segue a encolher, relativamente aos demais. Afinal, as economias emergentes têm crescido em uma média de 3,9% e as grandes em uma média de 1,7% ao ano, segundo dados do FMI e, por aqui, 2,2% em 2020 já nos alegrará bastante.
Pragmatismo
Precisaremos de pragmatismo para gerar negócios a partir da biodiversidade de nossa região. Se ficarmos em uma conversa eterna sobre possibilidades e riscos, que é o que fazemos desde sempre, seguiremos a ser saqueados por meio da biopirataria e da retirada de recursos da região para outros lugares do mundo, como se faz, também, desde sempre.
É necessário que encontremos parceiros mundiais para ajudar na exploração responsável da Amazônia, ao invés dos típicos pensamentos: (1) um isolacionismo ufanista e improdutivo; (2) interesse estrangeiro de nada usar dos recursos da natureza (evitando competição); (3) pensamento pequeno que raciocina por meio de queimadas e mais do mesmo: produção extrativista predatória para mercados globais, como já feito em outros biomas de nosso país. Estas três vertentes pseudo-pragmáticas atendem sempre à interesses nefastos para o país.
Dificuldades e oportunidades
Alguns historiadores indicam que em 1877 houve contrabando de sementes de seringueira do Pará para a Inglaterra. Todavia, temos conexões históricas com aquele país que também possuem o outro lado: o Porto de Manaus, foi projetado por ingleses e inaugurado em 1907. Houve a Alfândega, no mesmo complexo Portuário, o bonde do Centro ou a estação de bombeamento de água. Também já existe cooperação do INPA com o Royal Botanic Gardens, de Kew, na Inglaterra que tem sido profícuo há muitos anos, no lado da ciência pura.
As dificuldades inglesas, para serem superadas com o Brexit hard ou soft, podem trazer grandes oportunidades de cooperação para a nossa biotecnologia. Lá, como nos EUA, existem importantes centros de pesquisa no campo da biotecnologia e com a separação com a União Europeia, estarão certamente mais abertos para novas cooperações. Pode ser uma bela oportunidade para os dois lados.
Nestas reflexões de fim de 2019 e construção das perspectivas para 2020, parece-me que poderemos dar saltos maiores que um simples crescimento vegetativo ou espirais e loops de inação. A biotecnologia e os negócios associados a ela são a grande oportunidade para a Amazônia: atrair negócios intimamente integrados com ciência é que oportunizará a preservação da natureza e da biodiversidade, junto com a geração de capital. De outra forma, ficaremos na tradição brasileira de destruição dos recursos naturais e tradição dos estrangeiros que adoram nos manter como colônia provedora de recursos naturais, com belos discursos sobre a importância dos espelhos e a pouca importância dos diamantes, que é apenas atualizado a cada década que passa.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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