No programa da atual administração do Governo Federal está prevista uma nova rodada de abertura da economia brasileira após a aprovação da reforma da Previdência. Uma rodada que será bem-vinda, desde que se coloque em questão o como fazer e o quando fazer, sem que essas decisões sejam tomadas com base em ideologias econômicas primárias, historicamente ultrapassadas.
Desde o início dos anos 1990, o Brasil fez uma opção por um modelo de crescimento fundamentado na abertura de sua economia em termos de integração competitiva. Essa opção se deu após uma longa fase de meio século do modelo de crescimento com base na substituição de importações, com a economia relativamente fechada e protegida. Desta forma, o País passou a se integrar crescentemente no processo de globalização econômica e financeira.
As barreiras econômicas caíram significativamente devido às sucessivas rodadas de negociações do comércio internacional. Avanços tecnológicos nos sistemas de comunicação e de transporte reduziram custos de acessibilidade e estimularam fortemente a expansão do comércio. Uma revolução nos negócios econômicos internacionais ocorreu, tendo impactos profundos e benéficos em quase todos os aspectos da economia. Contudo, a economia brasileira se mantém ainda como uma das mais fechadas do Mundo.
O processo de abertura a ser conduzido pela atual administração federal deveria se processar com pelo menos três percalços. Precisa ser implementado de forma gradualista pois deverá ocorrer numa etapa em que a economia brasileira vivencia uma década perdida em termos de crescimento, cujo último quinquênio, particularmente, é de profunda estagnação. Vale dizer, a abertura irá encontrar as empresas brasileiras fragilizadas financeiramente, oneradas pelo custo-Brasil e envoltas num ambiente de negócios sobrecarregado de incertezas e riscos político-institucionais.
Em segundo lugar, muitas das nossas empresas industriais estão numa etapa do seu ciclo de vida institucional em busca do catch up tecnológico depois de um longo período de baixa eficácia do nosso sistema educacional e de igualmente baixo nível de investimentos reestruturantes. Vale dizer, as empresas estão encantoadas numa armadilha pelo inexpressivo nível de produtividade sistêmica da economia.
Finalmente, é preciso considerar que os nossos concorrentes são de países (China, Coreia do Sul, Estados Unidos, etc) que não se guiam pelas forças livres nem pela mão invisível do mercado, mas por decisões resultantes de intervenções governamentais estratégicas, realizadas com visíveis punhos cerrados, centradas nos seus interesses nacionais.
Esses percalços podem servir como regras de transição para o nosso comércio exterior, mas apenas de transição. A médio e a longo prazos, como reconhece Paul Krugmam, o livre comércio nos enriquece e o protecionismo nos empobrece. Reconhece, também, que muitos países desenvolvidos frequentemente adotam medidas protecionistas, como é o clamoroso e ostensivo caso da atual administração dos EE.UU. que não se preocupa com os impactos de suas medidas sobre a renda e o emprego nas periferias do Mundo. E a indústria nacional é, sem dúvida, uma das construções históricas mais importantes dos brasileiros. Não podemos, pois, ser guiados em matéria de política econômica como estivéssemos com Alice num Mundo das Maravilhas.
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