Por Valter Calheiros*, especial para o AMAZONAS ATUAL
Manaus, com a presença do Polo Industrial, alcançou status de cidade moderna, bem conceituada no quesito desenvolvimento social e econômico. Mas paralelo aos avanços e a exuberância da natureza amazônica, assistimos em ritmo acelerado à falta de zelo com nossas águas, rios e igarapés. Essa contradição nos faz responsáveis pela construção permanente de uma grande lixeira a céu aberto na porta de entrada da cidade (veja ensaio fotográfico abaixo). Isso nos envergonha como povo, como gente!
A história recente de Manaus, contada por nossos avós, nos dão conta de que a cidade possuía igarapés com ambientes privilegiados ao encontro do homem com a natureza. Que as águas eram limpas e próprias para o banho, que na vazante do rio surgiam inúmeras praias, que na orla eram realizadas regatas de canoas assistidas com grande entusiasmo pela população. Que no igarapé do Educandos cruzavam dezenas de canoas/catraias a transportar as pessoas para a Escadaria dos Remédios, bairro da Cachoeirinha, Boca do Emboca, na Santa Luzia, Feira do Cajual, no Morro da Liberdade, área da Silves, no Igarapé do 40, e Colônia Oliveira Machado. A catraia era um verdadeiro transporte coletivo da época.
Nos últimos anos muita coisa mudou. A cidade cresceu e somos mais de dois milhões de habitantes. Muitas novidades surgiram, mas aqui vamos repercutir imagens que retratam o quanto somos descuidados em preservar o curso d’água da orla do igarapé do Educandos e Manaus Moderna.
Assim, nos deparamos em analisar como conseguimos transformar a porta de entrada de nossa cidade em um montureiro de lixo de toda espécie? Como falar que somos a metrópole da Amazônia se não cuidamos e não nos importamos em preservar as águas como fonte de vida? Como tratar dos temas sobre educação ambiental, meio ambiente e cidadania? São muitas as perguntas que podemos nos fazer quando nos deparamos com tanto lixo esparramado, como se fosse um tapete ou uma passarela na orla do igarapé do Educandos e da Manaus Moderna. A mesma realidade também se repete nas dezenas de igarapés que entrecortam a cidade.
Conscientização, sensibilização, são ações que podem proporcionar uma reação que venha conter tanta imundice, onde convivem urubus e gente, embarque e desembarque de cargas, barcos e carros, vendedores e compradores de peixes e frutas. O fato é que a agressão do homem ao meio ambiente vem produzindo uma imensidão de lixo, realidade que passou a ser considerada normal e parece não incomodar nem o cidadão comum, tampouco os gestores públicos. Constata-se que apesar das leis de proteção ao meio ambiente, não conseguimos ter reação contra tudo que produz a feiura que assistimos no outrora cartão postal da cidade.
O Rio Negro, antes belo por sua negritude cristalina, transformou-se num caldo grosso, esverdeado, rodeado de mosquitos e uma fedentina insuportável! Tudo isso acontecendo em pleno Século 21, deixando apenas na lembrança um lugar que há pouco tempo proporcionava lazer com brincadeiras entre os amigos, pescaria, lavagem de roupa, passeio e uma típica paisagem Amazônica.
A poluição na orla do Educandos e Manaus Moderna é uma ação que se repete há anos, sendo pauta nos noticiários locais que apresentam inúmeras reportagens abordando o fato. Neste ritmo onde aperfeiçoamos o péssimo costume de não cuidar corretamente do lixo, é certo que a cada período de vazante do rio a cidade irá se reencontrar com o lixo depositado no leito do igarapé, que além de causar péssima imagem, também contribui para o assoreamento da orla.
A vazante do rio, mais uma vez revela que transformamos a paisagem natural dos igarapés em grandes lixões, demonstrando desrespeito ao meio ambiente e denunciando que não realizamos com sucesso nenhum esforço para mudar a realidade. Isso nos remete com urgência a um empenho na promoção de uma educação ambiental nas escolas do ensino básico, nas instituições de ensino superior, instituições de pesquisas, empresas, igrejas e em todos os espaços que possam agir em favor da vida de nossos igarapés.
Ao poder público municipal, estadual e federal, não basta apenas construir novas obras, fazer leis, contratar empresas e custear a retirada do lixo. Isso é pouco. É chegada à hora de uma gestão qualificada que assuma o problema com prioridade, apresentando soluções para tratar corretamente os resíduos sólidos produzidos na cidade. Que se empenhe em elaborar e programar ações compartilhadas com os vários setores da sociedade. É necessário maior investimento em ações voltadas para a educação em todos os níveis, pois esse é um indispensável caminho capaz de impedir que se utilize uma grande quantidade de dinheiro publico somente com o lixo.
Fica o alerta que hoje assistimos no igarapé do Educandos e na orla da Manaus Moderna: no próximo ano a vazante poderá novamente nos reapresentar o lixo nosso de cada dia!
(*) Educador Salesiano atuando na defesa e promoção dos direitos de criança e adolescente / Pesquisador e fotografo do Movimento Socioambiental SOS Encontro das Águas / Graduado em Teologia pela Universidade Católica Santa Úrsula e Centro de Estudos do Comportamento Humano-CENESC-AM / Pós-Graduado em Pesquisa e Ação Social pela Faculdade Tahirih – Manaus-Amazonas.
Confira o ensaio fotográfico de Valter Calheiros
O Papa Francisco em sua encíclica “Laudato si” e a Campanha da Fraternidade Ecumenica/2016, nos convida a sermos os atores dessa agressão contra a “Casa Comum” planeta terra, o qual vivemos, mas que infelizmente todos nós temos uma parcela de culpa na agressão contra o meio ambiente, não fazemos nossa parte. É necessário sim, cuidarmos dos nossos igarapés e rios.Uma politica de conscientização deve ser amplamente divulgada nas mídias, etc. Talvez consigamos educar nossas crianças e quem sabe essa nova geração terá um planeta mais preservado.
Atores na defesa do meio ambiente, preservando, conscientizando, fazendo campanhas educativas. Não como postei erroneamente (nos convida a sermos atores dessa agressão). SERMOS defensores da casa comum.