Da Redação
MANAUS – A Secretaria de Saúde do Amazonas pretende estabelecer a transferência de pacientes com Covid-19 entre hospitais pelo Complexo Regulador. Uma campanha será lançada para conscientizar as pessoas de que a regra deve ser seguida para que o paciente que mais precisa tenha acesso aos leitos, principalmente de UTI.
A secretaria defende que o processo tem que respeitar os princípios da igualdade de direitos e da equidade do SUS, que estabelece que o atendimento aos indivíduos deve ser de acordo com as suas necessidades, ofertando mais cuidados a quem mais precisa.
Também devem ser consideradas as regras próprias do Sistema de Regulação, segundo as quais o paciente mais grave tem prioridade sobre os menos graves. Isso garante que o menos grave não ocupe a vaga do que está precisando mais.
“É importante que todos compreendam que nenhum agente público tem ingerência no processo de regulação. Nem o diretor do hospital, nem outro servidor tem poder de decidir sobre a remoção. Essa função é dos médicos reguladores das unidades, junto com os médicos do Complexo Regulador. É uma decisão técnica”, afirma o secretário de Controle Interno da Secretaria, Silvio Romano.
Sister
As transferências de pacientes na rede estadual de saúde são feitas via Sister (Sistema de Transferência de Emergência Regulada), que organiza o acesso ao leito e garante o atendimento do usuário, de uma unidade de menor complexidade para uma unidade de maior complexidade.
O Sister é utilizado tanto para trazer os pacientes do interior para Manaus, quanto para remover, na capital, pacientes dos Serviços de Pronto Atendimento (SPAs) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) para uma unidade de maior complexidade.
“Desde novembro os números vêm aumentando. Até o dia 30 de janeiro, a gente teve 4.266 solicitações de transferências no sistema, em que precisamos transferir pacientes das UPAs, dos SPAs, trazer do interior para a capital, principalmente para leitos de UTI, que é onde dá mais assistência ao paciente”, disse Keila do Valle, coordenadora estadual de regulação.
De primeiro de janeiro a dois de fevereiro, o Complexo Regulador removeu 1.208 pacientes, do interior para a capital, de UTI aérea ou ambulância.
“A gente recebe os chamados das unidades assim que os pacientes são admitidos, os médicos que estão em cuidado assistencial com eles na própria unidade referenciam para o Sister. Colocamos as prioridades de acordo com os quadros clínicos que eles descrevem. De acordo com a gravidade, a gente atribui para as unidades que têm o perfil para esse paciente”, enfatizou a médica reguladora Ívila Tupinambá.
De acordo com ela, entre os pontos-chaves na avaliação de um paciente, estão o fluxo de oxigênio e a saturação. “Às vezes você tem um fluxo alto e, mesmo assim, a saturação não está suficiente para esse paciente se manter estável, quanto à frequência cardíaca, à própria pressão arterial, seja ela hipertensão ou hipotensão, e quanto aos valores de glicemia também”, pontuou a médica.
Novos leitos
A Secretaria está trabalhando para abrir os leitos planejados no Plano de Recrudescimento da Covid-19. A estimativa é abrir 350 novos leitos exclusivos para a Covid-19, dos quais 100 de UTI.
Semana passada foram abertos 87 leitos clínicos na Enfermaria de Campanha, instalada pelo Exército no estacionamento do Hospital Delphina Aziz e no Hospital Nilton Lins, que abriu sua primeira etapa de leitos.
Dos 100 leitos de UTI, que estão previstos para serem abertos, metade serão abertos nos próximos dias no Delphina Aziz e no Nilton Lins, após a implantação de usinas de oxigênio nessas unidades.
Conforme a secretaria, com o Plano de Contingência para o Recrudescimento da Covid-19, o número de leitos exclusivos para Covid-19 aumentou 196%, saindo de 457, em outubro, para 1.351 atualmente. Porém, o planejamento do Governo Estadual para essa fase da pandemia foi prejudicado pelo aumento súbito e contínuo das internações, a partir da última semana de dezembro e durante todo o mês de janeiro.
A saída mais rápida tem sido a remoção de pacientes para outros Estado. Mais de 440 pacientes com quadro moderado já foram transferidos para terminar o tratamento em 18 cidades da federação, para amenizar a lotação na rede de saúde local.
A circulação de uma nova cepa do vírus, com poder de transmissão maior que a primeira, é apontada como a principal explicação para a explosão dos casos, além do que já se previa. Em 14 de janeiro, por exemplo, foram registradas em Manaus, em um único dia, 254 internações por Covid-19. O maior registro de internações em 24 horas havia sido de 105 pacientes, nos dias 22 de abril e 3 de maio de 2020, ainda na primeira fase da pandemia, quando a pressão sobre o sistema foi impactante e colapsou os serviços de saúde.
O alto número de internações, a partir da última semana de dezembro, aumentou em proporções gigantescas o consumo de oxigênio, de insumos e de medicamentos, como no caso do Atracúrio, do kit intubação, cujo consumo hoje é 3.700% maior que o de rotina. Faltam ainda recursos humanos, como profissionais intensivistas para abrir novos leitos de UTI, na velocidade planejada e necessária.
A secretaria já contratou mais de 600 profissionais, entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos, psicólogos, assistentes sociais e técnicos de enfermagem. Também foi dobrado o contrato de mais de 1.100 técnicos de enfermagem que já atuavam na rede. Mas com as licenças dos que adoecem e as baixas por óbitos o déficit ainda é alto.