Terminamos uma década que foi, do ponto de vista da história econômica do Brasil, marcada
por muitos anos de baixo crescimento, de elevadas taxas de desemprego e subemprego e,
principalmente, pela dramática concentração da renda e da riqueza nacional. No conjunto,
pode-se afirmar que foi, praticamente, mais uma década perdida para o processo de
desenvolvimento sustentável do nosso País.
O ponto de partida para a década que se inicia em 2020 ainda não se apresenta como
promissor quando se avaliam as propostas da política econômica da atual administração do
Governo Federal. Em 1941, o Presidente Franklin Roosevelt afirmava que as coisas básicas
que a população espera de seus sistemas econômicos e políticos são simples: igualdade de
oportunidades para os jovens e para os outros, empregos para os que podem trabalhar,
segurança para os que dela necessitam, o fim dos privilégios especiais para alguns poucos, a
preservação das liberdades civis para todos, o emprego dos frutos do progresso científico para
promover um crescente padrão de vida, cada vez melhor e mais generalizado.
Acrescentaríamos a conservação e a preservação dos ecossistemas para as atuais e futuras
gerações.
A atual administração econômica do Governo Federal trabalha com o modelo de austeridade
fiscal expansionista, o qual parte do esforço de equilíbrio das contas consolidadas do setor
público e se apoia nas reformas da previdência, do sistema tributário e do próprio Estado.
Espera criar um ambiente de expectativas favoráveis e de incertezas mitigadas que poderiam
induzir a retomada do crescimento econômico.
Embora seja indispensável que se realize a consistência macroeconômica de nossa economia
a fim de que se elimine de vez a percepção de que o País caminha para a insolvência
financeira, há ações programáticas fundamentais para que a nova década não se perca
também numa sequência interminável de ajustes de curto prazo.
O Brasil precisa voltar a crescer de forma sustentada. A nossa história mostra que os
problemas sociais e econômicos podem ser melhor resolvidos quando o País está crescendo
significativamente. À medida que a economia cresce, dependendo do modelo de
desenvolvimento adotado, é relativamente mais fácil utilizar o excedente econômico em
expansão para financiar adequadamente as oportunidades de investimentos. Torna-se mais fácil, também, ampliar e consolidar as transferências de renda das políticas sociais
compensatórias para os pobres e os miseráveis.
Nesse sentido, o Brasil precisa estruturar um longo ciclo de expansão econômica a partir de
um programa grandioso de investimentos em logística, da remodelação da matriz energética,
da recuperação dos nossos ativos ambientais. Investimentos a serem realizados pela iniciativa
privada nacional e internacional, com o Estado definindo as regras do jogo e coordenando os
conflitos de interesses.
A principal atribuição de um projeto nacional de desenvolvimento em um país é que ele possa
se tornar um redutor de incertezas, tendo como apoio um processo de planejamento de médio
e de longo prazo. Talvez esteja faltando ao Brasil, para comandar essa grande transformação,
uma liderança política como a de JK, que “a partir de um senso perfeito da realidade objetiva,
leva o olhar de estadista muito além do seu campo visual e lhe permite intuir a pátria de
amanhã”.
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