Pode-se observar que estamos encerrando o pior quinquênio de crescimento econômico do Brasil, desde a crise de 1929. Observa-se, ainda, que os economistas têm feito, neste quinquênio, as suas projeções para cada ano seguinte tendo como ponto de partida uma taxa de crescimento positiva entre 2 e 3 por cento, que é corrigida para baixo mês a mês, posteriormente. Trata-se de um caso de otimismo ingênuo baseado em equívocos no diagnóstico e na propedêutica do organismo econômico em evolução.
Os ventos dominantes da economia nacional e internacional sinalizam que o último trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2020 tendem a ser um período em que, no Brasil, persistirá um cenário de recessão econômica, com taxas de desemprego ainda elevadas e com um certo desânimo entre produtores e consumidores para tomar decisões que envolvem riscos. Um cenário sobrecarregado de incertezas, de surpresas e de desencontros de expectativas.
Tudo indica que este poderá ser o contexto da economia brasileira nesta virada de ano, quando visto pela ótica dos componentes da demanda agregada. Do lado da demanda interna, a expansão do consumo das famílias está bloqueada pelas possibilidades do desemprego formal que se acelera, da consequente corrosão do poder de compra da massa salarial e das taxas de juros bancários que persistem muito elevadas.
Do lado dos investimentos privados, nenhum fato novo de maior expressão pode ser esperado de setores produtivos com excesso de capacidade ociosa, diante das incertezas sobre o futuro político do País e das tentações do jogo especulativo dos mercados financeiros. Keynes não se preocupava com a situação em que a comunidade não pudesse aplicar capital produtivo por falta de oportunidades razoáveis de investimento, mas com aquela situação “em que o investimento se efetua em condições instáveis e efêmeras pelo fato de ser suscitado por expectativas destinadas a malograr”.
Quanto aos investimentos públicos, o recorrente descontrole das finanças do Governo Federal implica a necessidade de se reprimirem as despesas correntes e de investimentos, num ambiente de arrecadação tributária em transição. A tendência é a de se praticar uma política fiscal que pouco contribuirá para gerar mais renda e emprego, embora possa ser funcional para manter a solvabilidade da dívida pública sob menor suspeita nos mercados financeiros.
Poderá surgir alguma esperança da demanda externa. Eventos portadores de mudanças positivas (câmbio desvalorizado, competitividade do agronegócio, reaquecimento da economia norte-americana, etc.) tendem a prevalecer sobre eventos negativos (expectativas de conflitos em torno do comércio protegido dos EE.UU., perda de dinamismo da economia chinesa, etc.).
De qualquer forma, o leitor deve fazer uma leitura desconfiada sobre as inúmeras projeções que os economistas têm realizado sobre a conjuntura econômica brasileira. Dani Rodrik, professor da Escola de Governo de Harvard,nos adverte que os economistas frequentemente tendem a reduzir as complexidades da vida social a poucas relações simplistas e a saltar da abstração estilizada em modelos matemáticos para conclusões e recomendações de políticas econômicas. Pode não dar certo.
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