Nunca o fake news foi tão prestigiado como em tempos contemporâneos. Tudo foi relativizado, inclusive a mentira. Agora temos de conviver com a pós-verdade.
A pós-verdade sabe o lugar de todas as coisas para todos os diferentes públicos. Verdade filosófica? Verdade histórica? Verdade sociológica? Julgamento justo? Ou simplesmente verdade? Tudo isso ficou obsoleto e “démodé”. Agora vale a versão. Os fatos se tornaram detalhes irrelevantes.
A história pode ser logospirateada, reinventando-se os fatos segundo a(s) versão(ões) dos que estão no poder. Um vale tudo pelo sagrado “direito” de fazer valer a mais “bela, heroica e salvadoramente messiânica” narrativa-fútil dos que “venceram”. E assim não existiram mais ditaduras na América Latina, apenas “regimes”; não ocorreram holocaustos (indígena, afrodescente, russo, judeu, curdo etc), mas apenas consequências de um conflito entre lados que alegam justificadas razões… A pós-verdade pôs “em ordem” todas as coisas em prol do aguardado “progresso”. Muitos até dizem que o milagre já aconteceu.
A pós-verdade é complacente com todo tipo de vale-tudo: vale-tudo executivo, vale-tudo legislativo, vale-tudo judicial, vale-tudo eleitoral, vale-tudo financeiro, vale-tudo policial, vale-tudo previdenciário, vale-tudo penitenciário, dentre outros delírios, inclusive nas versões mais fúteis “made in brazil” ao estilo “Jesus na goiabeira”, “universidade é pra elite”, “imigrante é mal intencionado”, “armar os professores é a solução para segurança nas escolas”, “o erro da ditadura foi torturar e não matar” , “não te estupro porque você não merece” , “mulher deve ganhar salário menor porque engravida” . É preciso ter cuidado e moderar a exposição às diarreias verbais da pós-verdade – causam graves danos à saúde mental e social.
Relação das coisas e disposições revogadas no dia da pós-verdade:
– Art. 1° do Estatuto do Homem, de Thiago de Mello;
– Art. 1° ao 5° da Constituição Federal e outros constantes no título da ordem social;
– Todas as disposições diversas e contrárias à pós-verdade;
– Expressões do tipo: “faz escuro, mas eu canto”, “amanhã será outro dia…” e similares devem ser substituídas por “esse é um país que vai pra frente lá-laia-lá”, “o país do futuro” e “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”;
– Prevalece o apelo ao irracional, ao passional, ao transbordamento emocional, à extremada luta ideológica entre seja lá o que for que se entenda ou identifique como “direita” e “esquerda”. Mas é tudo pós-verdade. Amanhã pode ser diferente. O problema é que ninguém sabe até quando vai perdurar esse 1° de abril. Enquanto isso, vamos sendo conduzidos rumo ao país sem futuro.
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