Por Giuliana Miranda, da Folhapress
LISBOA – Em viagem à Europa para articular uma aliança internacional de esquerda, o candidato derrotado à Presidência em 2018 Fernando Haddad (PT) encerrou sua passagem pelo continente com um encontro com o primeiro-ministro de Portugal, o socialista António Costa, na tarde desta quarta-feira, 23.
Desde o fim do ano passado, Haddad tem investido na ajuda para criar uma frente mundial de esquerda. O projeto foi inicialmente idealizado pelo senador americano Bernie Sanders (ex-democrata, agora independente) e o ex-ministro da Economia da Grécia Yanes Varoufakis.
Antes de desembarcar em Portugal, onde se reuniu com deputados de vários partidos de esquerda, militantes do PT e imigrantes brasileiros, Haddad participou de uma série de compromissos na Espanha, que também é liderada por socialistas. O ex-prefeito se reuniu com Felipe Gonzáles e José Luís Zapatero, ex-premiês espanhóis, também do PSOE (Partido Socialista), entre outros deputados e militantes.
“Eu acho que essas forças [de esquerda] vão se coordenar para trocarem experiências. Eu devo ir brevemente a Alemanha. O próprio primeiro-ministro [António Costa] sugeriu uma ida à Grécia para falar com o Alex Tsipras, líder do governo grego”, completou o petista, na saída do encontro em Lisboa.
O ex-prefeito de São Paulo disse que aproveitou as quase duas horas de reunião com Costa, na sede do Partido Socialista, para conhecer mais sobre a experiência do governo português.
Os socialistas governam Portugal desde 2015, quando conseguiram assumir a liderança do País em uma inédita aliança com partidos da esquerda radical. O arranjo governativo, que recebeu o apelido pejorativo de geringonça devido à aparente fragilidade, surpreendeu analistas e vai resistir até o fim do mandato, tendo grandes chances de se repetir na próxima legislatura.
“Os êxitos [do governo português] são espetaculares, eu diria. Tanto do ponto de vista da recuperação das finanças, da atração de investimentos e recuperação de credibilidade. Eu acho que é um governo muito interessante e que pode servir de exemplo mundo a fora para outros governos”, disse o petista.
O encontro de Haddad com Sanders e Varoufakis ocorreu no fim de novembro, nos Estados Unidos, como forma de alinhar as ideias e discutir os próximos passos do movimento, que tem como objetivo
principal conter os avanços da extrema direita .
Desde então, Haddad tem investido na divulgação das ideias. Ele já se reuniu também com o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica.
“Estamos retomando um debate [da criação da frente de esquerda] tardiamente. Nós estamos vendo uma escalada da intolerância de extrema direita e existe um despertar das forças progressistas e modernizantes da sociedade de coibir o avanço do obscurantismo”, disse o petista.
Para Haddad, a troca de experiência com líderes de outras partes do mundo é importante. “Nós vamos compreender melhor as experiências exitosas [da esquerda no mundo] e oferecer alternativas à nossa população”, avalia.
LULA
Fernando Haddad voltou a criticar as recentes suspeitas que atingem o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, e comparou as acusações com as feitas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Eu conheço bem o caso do Lula. Eu acho que a sentença condenatória é frágil, que não tem elementos de prova que passem nem perto com o que está acontecendo com o filho do atual presidente. O que está acontecendo [com Flávio Bolsonaro] é muito mais sério, é muito mais grave do que tudo o que foi apurado em relação ao ex-presidente Lula em 30 anos de vida pública”, disse.