Da Redação
MANAUS – ‘Armazenamento’ e ‘amontoação’ de pacientes são expressões usadas pelo médico Marcelo F. Lima, especialista em cirurgia vascular, para descrever as internações no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, uma das maiores unidades públicas de saúde de Manaus. Ele vem expondo a situação há três semanas em sua página no Facebook e cobrando providências inclusive do MP-AM (Ministério Público do Amazonas), mas em vão.
“Pacientes amontoados como gado, sem condições de higiene mínima. Não há banheiros, pias pra lavar as mãos, rede de oxigênio instalada, obstrução de extintores e de escadas, sem circulação de ar adequado, enfim, um verdadeiro absurdo!”, escreveu, nesta terça-feira, na rede social.
A situação agrava os riscos de contaminação dos pacientes, incluindo o caso de um homem que foi tratado no chão por falta de leitos. Os pacientes são deixados inclusive no recuo dos elevadores, por onde passa o transporte de lixo hospitalar dos andares. “Risco altíssimo de infecção cruzada, mas as obras de humanização da praça do hospital estão de vento em popa. A praça vai ficar ótima. Será ‘humanizada!’, criticou o médico, referindo-se à praça, que está em obras, em frente ao hospital.
Marcelo Lima diz que a situação existe há quase quatro meses. “Óbvio que aumenta o risco de infeção. Existem pacientes com fraturas, com fixadores externos, ao lado de outros com infeções graves. Isso é criminoso. Esse hospital tem sérios problemas estruturais. Muito mal dimensionado e planejado”, afirma.
O cirurgião disse que nunca viu tanto descaso, despreparo e inobservância de prioridades na condução da Saúde no Amazonas. “Profissionais sem receber há quase quatro meses, unidades hospitalares desabastecidas, pacientes entulhados em espaço inadequado, com altíssimo risco de infecção hospitalar cruzada e, enquanto isso, se faz obra para ‘humanizar’ a praça do 28 de Agosto. Humanizam a praça e tratam profissionais com descaso e a população como gado. Parabéns a todos os envolvidos. E o Ministério Público, faz o que?”, questionou.
Conforme o médico, esse tipo de ambiente hospitalar só é possível em guerras. “Não se faz Medicina assim. Isso só é admissível em catástrofes naturais e em guerras. Não há respeito à dignidade do ser humano. Nem de quem atende, nem de quem necessita do atendimento”, afirma.
Outro lado
A assessoria da Susam encaminhou nota em que considera improcedentes as denúncias do médico Marcelo Lima. A direção do Hospital 28 de Agosto afirma que a unidade é “porta aberta” e que por isso há momentos de picos no atendimento, “mas todos são atendidos da melhor forma possível”.
A seguir a nota da Susam:
A direção do Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto informa, em nota, que as denúncias são improcedentes. Desde que assumiu, em outubro de 2017, a atual gestão da Secretaria de Estado de Saúde (Susam) vem realizando obras para melhorar as condições de atendimento na unidade, que eram bem precárias na ocasião, da mesma forma como vem fazendo nos demais serviços da rede estadual saúde. As obras são feitas gradativamente – algumas ainda estão em andamento – para não prejudicar o atendimento ao usuário, ao mesmo tempo em que buscam melhorar o conforto dos pacientes e acompanhantes.
Um exemplo é a reforma da sala de Politrauma do 28 de Agosto, que aumentou a capacidade, de três para dez pacientes e a reforma geral da cozinha e refeitório, com o objetivo de adequar os ambientes ao que preconiza o Ministério da Saúde (MS) e a vigilância sanitária. Foi feita ainda a reforma do telhado e o hospital recebeu obras de manutenção geral, como pintura, recuperação de portas e pisos em diversos ambientes, reforma de banheiro, entre outras.
Foram recuperadas poltronas, macas e camas, foi feita a manutenção do sistema de ar condicionado de todos os ambientes e a recuperação de equipamentos, a exemplo do tomógrafo. Além disso, uma área de convivência está sendo feita em frente à unidade, para garantir mais conforto e organização no ambiente externo, melhorando inclusive a circulação de ambulâncias e transeuntes.
A direção do HPS 28 de Agosto ressalta, ainda, que a unidade é porta aberta tendo momentos de picos no atendimento, mas todos são atendidos da melhor forma possível, contando, inclusive, com o empenho das equipes médicas, enfermeiros, técnicos e demais profissionais para prestar um bom serviço a quem precisa.