Por Henderson Martins, da Redação
MANAUS – As regiões Norte e Nordeste têm as mais altas taxas de crianças exploradas pelo tráfico sexual, revela relatório da Polícia Federal. O documento não particulariza estatísticas por Estados. Conforme a PF, as regiões apresentaram 843 vítimas de tráfico (598 homens, 182 mulheres, 33 meninos e 30 meninas) em 2016, comparado com 673 vítimas de tráfico atendidas em 2015 (363 homens, 185 mulheres, 55 meninos e 70 meninas).
Nos últimos cinco anos, o Brasil é uma fonte, trânsito e destino para o tráfico sexual e o trabalho forçado. As mulheres brasileiras também são submetidas ao tráfico sexual no exterior, especialmente na Europa Ocidental e China. Mulheres e meninas de outros países da América do Sul, incluindo o Paraguai, são explorados no Brasil.
Os dados mostram que transgêneros (pessoas que têm uma identidade de gênero, ou expressão de gênero diferente de seu sexo atribuído) brasileiros são forçados a se prostituir no Brasil. O relatório identifica que homens brasileiros e brasileiros transgêneros foram explorados ainda na Espanha e na Itália. O Turismo sexual infantil permanece um problema, particularmente em áreas de resort e costeiras. Muitos filhos de turistas sexuais são da Europa e, em menor medida, dos Estados Unidos Estados, diz o relatório, divulgado pelo Departamento de Estado norte-americano.
Amazônia
O documento mostra que alguns homens brasileiros e, em menor grau, mulheres e crianças, estão sujeitos ao trabalho escravo e escravidão por dívida nas áreas rurais, incluindo na pecuária, agricultura, carvão vegetal produção, exploração madeireira e mineração. A exploração dos trabalhadores é às vezes ligada a danos ambientais e desmatamento, particularmente na região amazônica.
Brasileiros também são encontrados em trabalho escravo em áreas urbanas em construção, fábricas e as indústrias de restaurantes e hospitalidade. Mulheres brasileiras e crianças, bem como meninas de outros países da região, são explorados em servidão doméstica: aproximadamente 213 mil crianças são empregadas como trabalhadoras domésticas no Brasil.
O relatório mostra que as vítimas brasileiras do tráfico são forçadas a se envolver com o tráfico de drogas, tanto no Brasil quanto em países vizinhos. As vítimas brasileiras de trabalho forçado foram identificadas em outros países, inclusive na Europa. Homens, mulheres e crianças de outros países – incluindo Bolívia, Paraguai, Haiti e China – estão sujeitos a trabalhos forçados e escravidão em muitos setores, incluindo construção e têxtil, particularmente em São Paulo.
O secretário de Estado dos EUA, Rex W. Tillerson, disse que o relatório destina-se a ajudar os governos a identificar ameaças para que as agências de aplicação da lei em todo o mundo possam responder efetivamente e obter informações sobre onde o tráfico de pessoas continua mais grave.
“Como o tráfico de seres humanos é de âmbito global, os parceiros internacionais são essenciais para o sucesso. É por isso o Departamento de Estado continuará estabelecendo parcerias positivas com governos, sociedade civil, grupos de fiscalização e sobreviventes para fornecer ajuda àqueles que precisam do nosso apoio”, disse.
A ex-promotora federal e atual embaixadora que monitora e combate ao tráfico de pessoas, Susan Coppedge, disse que está particularmente consciente das vidas destruídas pelo tráfico de seres humanos. “Eu nunca esqueço uma jovem, em um caso que eu processei, uma sobrevivente que chamarei de Teresa. Ela foi criada na América Central por sua avó, e quando jovem, foi enganada por um homem, com promessas de amor e uma vida melhor. Aquele homem trouxe Teresa para nos Estados Unidos e, em vez de construir uma nova vida com ela, forçou-a a trabalhar com sexo, pegou todo o dinheiro que ela conseguiu, e intimidou-a com ameaças de deportação e humilhação diante de sua família. Suas ameaças não apenas instigaram o medo em Teresa e a coagiram à exploração; eles também convenceram ela era uma criminosa, por violar leis federais de imigração e anti-prostituição”, comentou Susan.
Medo
Uma pesquisa de 2016, da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), ouviu mais de 10 mil jovens de 18 anos em 25 países e constatou que 80% deles têm medo de sofrer abuso sexual online, e metade considera que os amigos possuem comportamento de risco enquanto utilizam a internet.