Da Redação
MANAUS – Em dados extraídos de um celular de Mouhamad Moustafa, a PF (Polícia Federal) encontrou uma conversa de Whatsapp em que o advogado e diretor-presidente da Cigás (Companhia de Gás do Amazonas), Lino Chíxaro, orienta o empresário como retirar da pauta de julgamento do TCE (Tribunal de Contas do Estado) uma representação que questionava a contratação do INC (Instituto Novos Caminhos) com a Susam (Secretaria de Estado de Saúde).
Na conversa, Lino orienta Mouhamad a convencer uma pessoa identificada no diálogo como “PE” a ir até o TCE pedir para que a matéria fosse retirada da pauta. No documento da PF, o agente federal responsável pela análise dos dados conclui que “PE” pode ser Pedro Elias, à época secretário de saúde. O empresário reclama ao advogado que “PE” não queria tratar do assunto, por entender que a representação se referia a um ato da gestão de “WA”, que para a polícia pode ser o ex-secretário de Saúde Wilson Alecrim.
Lino discorda do entendimento de “PE”, e manda Mouhamad insistir, alertando-o sobre “zebra” que poderia complicar tudo. “Tem que ir alguém da secretaria. Avisa que uma zebra complica tudo. O assunto não é mais WA. A questão é contra o gestor que agora atende por PE”, escreve o advogado. A conversa está com data de setembro de 2015. A representação estava para julgamento no TCE no dia 9 de setembro.
Mais adiante, o advogado segue orientando Mouhamad a convencer “PE”, ressalvando que “parceria é parceria”. “Ademais, parceria é parceria e isso pode atingir um parceiro. Vá com ele”, escreve Lino, concluindo: “Uma conversa de 20 minutos com o relator adia a pauta. É coisa muito simples”. O relator da matéria era o conselheiro Ari Moutinho Júnior, que presidiu o TCE até dezembro do ano passado.
Para o MPF, há indícios de que houve direcionamento na contratação do INC. Segundo as investigações, foi por meio de contratos do instituto com a Susam que a organização criminosa, liderada por Mouhamad, desviou R$ 150 milhões (em valores corrigidos) da saúde no Amazonas.
Em dezembro do ano passado, Wilson Alecrim e Pedro Elias foram presos na Operação Custo Político, que foi um desdobramento da Operação Maus Caminhos, deflagrada em 2016. Para o MPF, os dois ex-secretários de saúde garantiram a manutenção do esquema de corrupção dentro da Susam em troca de propina e outras vantagens pessoais.
Atualmente, Alecrim cumpre prisão domiciliar, enquanto Elias é mantido no Centro de Detenção Provisória Masculino, no Km 8 da BR-174. No mesmo local também estão presos o ex-secretário de Fazenda Afonso Lobo e o ex-governador José Melo.
Abaixo, a reprodução da conversa de Mouhamad com Lino Chíxaro estraída do celular do empresário. O conteúdo conta nos anexos do processo da operação Estado de Emergência.