Entendo que em 2018 o Amazonas esteve preso por sua própria riqueza. Há uma deficiência histórica de infraestrutura de transportes e a libertação do Estado precisa acontecer, pois esta é a única alternativa para enfrentarmos os desafios do desenvolvimento sustentável para os anos vindouros. Atualmente, a riqueza da biodiversidade é ao mesmo tempo a barreira ao desenvolvimento e a grande oportunidade. Como vamos sair responsavelmente de nosso próprio caminho? Hoje sequer conseguimos enfrentar questões simples, já endereçadas mundo afora faz dezenas de anos, como rodovias, portos e aeroportos. Tudo aqui só é visto como problema e nunca como solução. Precisamos enfrentar os desafios do presente onde há um mundo virtual tão vasto, com tanto conhecimento em ação. Como vamos nos libertar das amarras impostas e autoimpostas?
Há muito a fazer e nossos maiores inimigos são internos e a forma como nós sentimos o tempo é muito importante, sendo necessário adotar um senso de urgência para enfrentar hoje os desafios, sem mais postergações. É necessário começar a fazer, mesmo com erros. O ano que se inicia amanhã é um momento apropriado para este convite que objetiva uma mudança de atitude. Se nós acreditarmos verdadeiramente que aqui existe uma riqueza, teremos que buscá-la para hoje e não para um futuro incerto. Se há petróleo na região, a chance de explorar é hoje, pois espera-se que a partir de 2030 o seu consumo seja declinante. Manter grandes reservas de petróleo é inútil no longo prazo. Assim, é necessário um compromisso com o presente, nesta potencialidade e em todas as demais.
Cada pessoa sente o tempo de uma forma própria e atualmente existe um excesso de elementos sobrecarregando os nossos sentidos, por conta das redes (anti)sociais e da Internet, com muito movimento, mas poucos avanços nas vidas do mundo tangível em nossa região. Um excesso de expectativas, com poucas realizações. Para superar as distrações, faz-se necessário um compromisso com o presente sustentável e com a construção de uma realidade extraordinária. Não faltam oportunidades. Hoje estamos longe de ser extraordinários no uso dos recursos da nossa natureza, mas poderemos ser, caso queiramos, interrompendo o hábito de deixar para amanhã e reconhecendo que somente existe o hoje. A vida da região poderá ser extraordinária, com esforço e trabalho diligentes e incessantes. Ninguém fará este serviço por nós.
A pauta precisa mudar da pauta policial e de deméritos para uma pauta de mérito, criando a celebração da realização, ao invés da celebração da esperteza. 2019 está para chegar e pode ser muito mais que a mudança de uma data no calendário, ou mudança de governos, pode ser também uma mudança de atitude em relação à realidade, com um novo Contrato Social.
Assim, faço aqui um convite para um amplo compromisso para a superação verdadeira das barreiras internas que atrapalham a busca da excelência, da meritocracia e da vitória sobre as nossas deficiências. Como destacado por Seth Godin, Thomas Friedman e outros, o mundo de hoje se move por tribos e não mais por partidos ou nações. Precisamos reconhecer nossas raízes históricas e aproveitar este comportamento compatível com a contemporaneidade global, no máximo interesse da responsabilidade conosco. Mais do que pensar fora da caixa ou limitado por uma caixa, é preciso simplesmente retirar a caixa e pensar em novas alternativas, com execução. Precisamos de ação e realização, pois a fome e o desalento são diários. O mundo está em um grande ponto de inflexão e 2019 tem tudo para ser o ano da virada positiva, após o Brasil viver a maior crise que se tem registro em uma economia fora do ambiente de guerra, se a nossa atitude for compatível com o início de um novo ciclo próspero.
Se me fosse permitido construir uma cidade do zero hoje, não tenho dúvidas que seria um megaprivilégio estar no coração da Amazônia, com ar, água, comida, vida em abundância… tudo que se precisa existe aqui. É necessário ter os olhos para ver e as mãos para laborar e aproveitar esta riqueza potencial, transformando-a em prosperidade real. Que este seja o olhar sobre 2019, levando um aprendizado constante para novas governanças públicas e privadas, formando um novo Contrato Social da região. Que esta pausa de final de ano nos traga reflexões e conexões das oportunidades que existem ao nosso redor. Para iniciar, é só libertar a nossa mente e as nossas ações automotivadas, tribais e liberais.
Que venha 2019, com toda a sua beleza e no momento certo, pois o tempo tem seu próprio ritmo, independentemente de nossas loucuras ou necessidades.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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