2018 foi um ano de poucas alegrias para o Polo Industrial de Manaus. Na melhor das hipóteses, haverá um pequeno crescimento do faturamento em dólares, tanto que é provável que os leitores percebam estatísticas oficiais sendo alteradas de dólares para reais, na busca de um número positivo para ser mostrado. Entretanto, não podemos nos deixar iludir, pois se não reconhecermos a verdade nua e crua, não será possível transformar a realidade da crise presente em prosperidade futura.
Entre perdedores e subdesenvolvidos, do espírito e da matéria, é comum uma vontade de autoengano, em que a pessoa, cidade ou região se acham o “máximo”, sem reconhecer e sem enfrentar as suas fraquezas e deficiências. Com isso, a condição subdesenvolvida é cativada. Este é o maior desafio que enfrentamos para romper a situação em que estamos: reconhecer de maneira clara os pontos fracos e enfrentá-los, um a um. Claro que isso não nos impede de celebrar as vitórias, sem chamar derrotas de vitórias, sob pena de construir uma ilusão que em nada contribui para o progresso.
É inegável que 2018 foi um ano de transições, pois estamos, ao que parece, em compasso de espera, marcando passo e sem avanços, concluindo uma etapa e migrando para outra, que poderá ser melhor ou não. Torço e trabalho diuturnamente para que seja melhor e aspiro que meus compatriotas façam o mesmo.
Há uma clara transição de estilos no governo federal e no governo estadual, saindo a esquerda do PSDB+PFL/PT+PRB+PL/PT+PMDB para uma direita relativamente desconhecida. No Estado, também há uma transição para um novo governo.
Em ambos os casos, os eleitos são desconhecidos como executivos e estão compondo uma equipe com preponderância da técnica sobre a política. Claramente é uma mudança de estilo e a esperança é que seja para melhor, pois não há dúvidas que o método anterior foi de resultado pífio, em especial nos últimos cinco anos, tanto pelos indicadores, quanto pela vontade demonstrada no voto da maioria.
Neste Natal e época de festas, é desalentador observar como não há uma alegria estampada no rosto e no comportamento das pessoas. Pela minha forma de sentir, o Brasil está um país meio amargo e muito da nossa delicadeza foi perdida, por uma realidade dura que todos estamos enfrentando, salvo raríssimas exceções.
Será ótimo se todos nós lutarmos em conjunto por um mundo melhor, independente de apreciar ou não os governos entrantes, reconhecendo e enfrentando as dificuldades, com união em torno de um futuro melhor.
Entendo que precisamos encontrar formas de reduzir a dependência dos governos e que a alternância dos poderes é salutar. Conviver e aceitar as diferenças é um aprendizado necessário para uma parcela significativa da população.
No Polo Industrial de Manaus, há muito para ser enfrentado: dos buracos das ruas do Distrito Industrial ao crônico e histórico problema de falta de infraestrutura, passando pelas burocracias desnecessárias e que levam ao continuísmo do atraso.
Apesar de sempre existirem sinais de investimentos, a saída da Pepsi de Manaus aponta para um risco expressivo: o encolhimento de um dos poucos setores prósperos, pois ainda estamos muito limitados aos subsetores de eletroeletrônico, informática, duas rodas e químicos (onde estão os concentrados). Este conjunto representa mais de 50% do faturamento de nossa área industrial.
No Brasil, a indústria de transformação representa 12% do PIB, mas 24% das receitas de tributos federais (exceto receitas previdenciárias) e 63% dos gastos de Pesquisa & Desenvolvimento, segundo dados da CNI. Ademais, o Amazonas é um dos treze Estados que mais arrecadam impostos do que gastam. Por isso é que a mudança é ansiada, pois a manutenção da situação atual não é nada boa para o Amazonas. Que 2018 venha a ser percebido como o fim de uma etapa de crise.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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