Parece que as mentes das lideranças brasileiras estão congeladas no tempo, perdidas em algum momento do passado. As pessoas pararam de se atualizar. Não percebo a origem, mas consigo perceber o problema: as teorias que sustentam os discursos de lideranças da esquerda, do centro e da direita (se é que isso significa algo em 2018), pararam de sofrer atualizações. É como usar um computador sem janelas gráficas ou um telefone que precisa de ficha. Olhamos e vemos que é ultrapassado. Os discursos estão todos ultrapassados e isso é um perigo para o nosso futuro.
Em qualquer dos sabores, não há menção para a necessidade de aumento da produção ou da atividade econômica. Sempre se fala muito em ampliar os benefícios, como se não existisse a necessidade de pagar a conta dos benefícios. Sempre há muitas facilidades, como se o mundo fosse fácil. Entretanto, todos sabemos que o mundo não é fácil. Este discurso era válido em um mundo desconectado. Hoje temos acesso a um conjunto amplo de informações falsas ou verdadeiras e as pessoas mesmo sabendo que podem ser falsas, vão absorvendo aqui e acolá o que lhes interessa, olhando apenas para si e desconhecendo a importância dos demais, como se o eleito ao final fosse ser líder apenas de seu grupelho e não de todos. O condomínio é de todos e não apenas da base aliada do síndico.
Neste ambiente das fake news circula um vídeo de discurso da Margareth Thatcher na Câmara dos Comuns, aderente ao nosso momento de ignorância, sem entrar na questão ideológica, pois é uma visão do século passado, mas que sequer chegamos nela: de onde vem o orçamento público? Do gasto do nosso imposto! É didático. Ela estava sendo didática para explicar sua ideologia e não precisou denegrir ninguém. Por aqui, nada se fala sobre como aumentar o emprego, como aumentar a produção e como melhorar a economia. Qual o caminho de cada ideologia para chegar aos nossos interesses? O que há é um desfilar de objetivos sem métodos para atingi-los e sem a mínima prova científica que aquele objetivo é possível. Estamos em um ambiente que a solução é falar mal do outro, sem apresentar saídas. É um típico comportamento de adolescente-rebelde-sem-causa. A nossa sociedade de maneira ampla comporta-se como rebeldes que desconhecem as leis, os bons costumes e o pensamento científico. Todas as conquistas humanas estão sendo abandonadas.
Para cada problema, acredita-se que uma lei resolverá. Quem dera… a Constituição de 1998 teria resolvido se fosse apenas isso, mas não é assim. Se até para jogar o lixo fora de uma casa é necessário um mínimo respeito, boa regra de convívio e um acerto entre seus moradores, imagine para convencer alguém para tirar R$ 50 milhões do banco e transformar em ônibus para rodar numa cidade, sofrendo o risco de ter incêndio e perseguições diuturnas na justiça, tendo ou não culpa. Caro leitor, se você tivesse R$ 50 milhões, arriscaria produzir neste país com tanta insegurança? Não sei se conheço alguém com este dinheiro na conta bancária (isso: conta bancária de pessoa física, fruto de seu esforço, pronto para investir e não em patrimônio na forma de terras herdadas ou griladas, ou de ativos na Pessoa Jurídica) que o faça calmamente, se pode aplicar de tantas outras formas, com muito menos risco.
Estamos tão distantes de uma nação empreendedora, quanto estamos distantes de uma nação igualitária. Quem faz de conta que tem ou quem tem este dinheiro pensará muitas vezes se tirará o recurso para a produção aqui, considerando que pode simplesmente emprestar para o governo e ganhar sem nada fazer. Na outra ponta, como estimular o pequeno empresário a não agir irregularmente? Na pequena escala: há necessidade de restaurantes colocarem indicativos que o sal em excesso pode fazer mal, mas há uma quantidade enorme de restaurantes irregulares que operam sem sequer um mínimo de higiene – basta andar pela rua que os vemos. Por que os empreendimentos de maior porte não são protegidos da concorrência ilegal? Porque precisam ser criados mecanismos de amortecimento social dirão outros. Entretanto, do pequeno crime se chega ao grande. Até quando seguiremos com este estigma do coitadinho do pequeno e do safado do grande empresário? Agir de maneira igualitária deve ser também protegendo pequenos e grandes, bem como punindo adequadamente os pequenos e os grandes. Precisamos abandonar o juízo de valor e aplicar a lei de maneira ampla para todos.
Precisamos retomar a harmonia social onde todos devem ser respeitados: pequenos e grandes. Se alguém arrisca mais para prestar determinado serviço, ele deveria ser apoiado e cobrado por igual. O mesmo vale para um pequeno: estímulo para realizar e regulagem e não vista grossa para a bandalheira. O que se busca hoje é o falar mal por falar mal. Como falar mal é fácil, então sempre haverá problemas e sempre haverá do que se falar mal.
Precisamos ser mais afirmativos: o que e como fazer para atender aos interesses de quem tem obrigações e depois conceder direitos aos que necessitam. Precisamos de mais proteção e menos protecionismo para os empreendedores de todos os portes, para deixarmos de ser reféns das demandas e construtores do futuro.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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