“Pra ser sincero, eu não pensei nenhum pouco. Mas por que pensaria? A pessoa se prepara uma vida inteira dentro da educação e de repente quando aparece a oportunidade ela vai recusar por que? Só porque o ministério está sem dinheiro?”
Este foi apenas um dos melhores trechos da entrevista que o Ministro da Educação Renato Janine Ribeiro concedeu esta semana ao programa Jô Soares. A resposta dada veio quando ele foi questionado se teria pensado muito para aceitar o convite para ser ministro da educação, o que ele confessou que foi aceito de pronto, sem pensar muito, o que pareceu impressionar o sempre espirituoso Jô Soares.
Talvez o aceite súbito de Janine seja também fruto das circunstâncias que cercaram sua nomeação. Afinal, ele foi convidado em um momento delicado em que o ex-ministro Cid Gomes havia se indisposto com a câmara dos deputados após uma declaração polêmica na ocasião de uma visita à Universidade Federal do Pará, onde se referiu aos deputados como “achacadores”.
Naquele momento Cid havia selado seu destino vindo a renunciar algumas semanas depois, deixando a Presidente Dilma em uma situação difícil, pois em um período em que o governo anunciava cortes na educação, principalmente no FIES, contrariando o lema “pátria educadora” do discurso de posse, uma troca no ministério era tudo que não poderia acontecer em meio a toda crise que o governo vinha, e vem, atravessando.
Na época é claro que além do nome de Janine outros foram cogitados para o cargo, um deles foi o filósofo Mário Sérgio Cortella, famoso por seus livros e vídeos na internet. Orientando de doutorado de Paulo freire, Cortella teve experiências também na gestão pública como secretário municipal de educação de São Paulo e no conselho técnico da CAPES.
Contudo, a escolha de Dilma por Janine parece ter sido muito acertada, homem de temperamento calmo, educado e com muita habilidade em articular as palavras, o ministro tem se saído muito bem nas coletivas de imprensa e parece ter rapidamente se apropriado da parte técnica referente a educação básica, o que de início pareceu ser um ponto fraco seu, uma vez que toda sua atuação docente foi no ensino superior.
Na entrevista que ocupou dois blocos, Janine falou também sobre alguns pontos que considera fundamentais na escola, apontando a participação familiar como um grande obstáculo na educação atual. Aproveitou para falar do próximo projeto dele para a pasta: levar a discussão sobre corrupção para dentro da sala de aula, transformar as escolas em um grande espaço de debate sobre a relação entre o público e o privado.
Apesar de seu conhecimento e boa vontade muitos são os desafios no MEC, o ministério que sem sombra de dúvida tem a gestão mais difícil e que apesar dos investimentos crescentes em projetos tem apresentado evolução tímida, principalmente na educação básica, especificamente no ensino médio. Além disso ainda há a implementação do Plano Nacional de Educação, sancionado pela presidente Dilma em 2014.
Somado a tudo isso ainda há o desafio de abrir mais o Ministério ao diálogo, pois muitas são as queixas da ausência de canais de comunicação com a instituição, principalmente para propor e construir junto os projetos e programas. Este movimento já havia sido iniciado por Cid Gomes, mas tem se intensificado com Janine através das consultas públicas promovidas pelo MEC.
Mas quem ouve o ministro falar se sente entusiasmado e até acredita que finalmente dessa vez a educação vai avançar. Torçamos todos por isso!