A história mais excêntrica e ‘fabulosa’ que ouvi sobre a Amazônia tem a ver com futebol local e sinais de fumaça.
Era um evento do Ministério do Turismo que reuniu, no Rio de Janeiro, jornalistas de todos os Estados brasileiros e também alguns estrangeiros que falavam português. Num momento de interação, o dono de uma revista especializada começou a falar sobre sua experiência profissional para um grupo em que havia alguns gringos.
Ele contou que trabalhava em uma rádio e foi escalado para ‘enfrentar’ a Floresta Amazônica para cobrir um jogo de futebol por aqui. Na época, anos 80, o momento mais esperado era o da divulgação dos resultados da loteria esportiva, maior oportunidade de um brasileiro se tornar milionário da noite para o dia. Dos treze jogos selecionados, faltava apenas saber o resultado dessa partida do campeonato amazonense, realizada longe da capital.
Segundo o jornalista paulistano, as telecomunicações estavam mais difíceis que o habitual e foi necessária uma intervenção indígena e uma operação de transmissão intertribal para que milhões de ouvintes obtivessem a informação por que tanto ansiavam. “Eu pedi a ajuda de uns índios da Amazônia. Eles fizeram sinais de fumaça para outras tribos que, por sua vez, comunicaram-se através de tambores até que o recado sobre o resultado do jogo chegasse a Manaus e de lá ligassem para a sede da emissora avisando que havia dado ‘coluna do meio’, ou seja, empate”, contou o lambanceiro para o fascínio e assombro da plateia.
Na verdade, os indígenas americanos é que se notabilizaram pelo uso dos sinais de fumaça para transmitir mensagens. O significado do recado era predeterminado e conhecido pelo remetente e pelo destinatário do sinal. Com alguns gravetos para fabricar a fogueira e um lençol úmido para manipular a fumaça, uma tribo podia enviar um comunicado para, por exemplo, informar que o inimigo estava próximo, anunciar o resultado de uma batalha ou pedir reforços. Para enviar sinais através de longas distâncias, as tribos montavam um conjunto de fogueiras especialmente para confirmação das mensagens.
O mais famoso código de sinais de fumaça era o utilizado pelos índios Apache, baseado na quantidade de nuvens formadas pela emanação gasosa.
Uma única nuvem de fumaça, por exemplo, era um sinal de atenção. Isso significava que algo incomum estava acontecendo, mas que não havia razão para alarme ou perigo iminente. Era geralmente uma advertência para sinais futuros.
Um sinal de duas nuvens significava que tudo estava bem e que o acampamento estava estável e seguro. Indicava também que o emissor ficaria em sua locação atual até segundo aviso. A mensagem que o acampamento estava seguro era importante, já que as tribos de nativos americanos frequentemente mudavam de arraiais conforme as estações e a disponibilidade de recursos e de segurança.
Já três nuvens eram um sinal de alarme. Com o alerta, os índios avisavam sobre os inimigos próximos ou marcavam o início de uma batalha. Colunas de fumaça contínuas indicavam um perigo maior e pedido de socorro.
Recentemente, o caçula do futebol amazonense ganhou nosso Estadual de 2017. Foi o primeiro título do Manaus, clube cujo nome é uma referência à tribo ‘Manaós’ (Mãe dos Deuses).
Toda conquista envia uma mensagem. Toda vitória contém um recado. Qual seria, portanto, o significado do título de Manaus? Bem que poderia ser uma visão que não fosse apagada por qualquer vento. Uma nuvem de fumaça no céu apontando que algo incomum está acontecendo e que se deve esperar por sinais futuros.
Para o esporte local, seria um verdadeiro ‘prêmio da loto’ se se transformasse em verdade a lorota do jornalista paulistano. No caso, que houvesse uma união sem fogueiras da vaidade entre os times locais, juntando ‘seus gravetos e lençóis’ para transmitir uma mesma mensagem com sinais de fumaça.
Provavelmente, deveria ser o urgente sinal de três nuvens, a avisar dos perigos e solicitar ajuda mútua. Por fim, vencida a batalha, um par de nuvens ao céu, para dizer que ficou tudo bem.
Fato é que, enquanto os times locais não se perceberem fumaça da mesma chama, a preocupação com resultados do campeonato amazonense vai continuar importante apenas como parte de um relato absurdo, contado para impressionar gringos.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.