“Salve tia Ciata, Salve dona Ivone Lara”! Salve a resistência e a força do samba!
O gênero é descendente do lundu, esse ritmo que passou a ser chamando de samba e cujo primeiro registro da palavra foi visto na revista O Carapuceiro, de Pernambuco, em fevereiro de 1838, descrito como canto e dança popular. Conhecido como dança de roda originada em Angola e trazida pelos escravos, o ritmo influenciou todo o nosso continente, principalmente os estados do Maranhão, Salvador e Rio de Janeiro.
“O samba veio da Bahia, o samba de roda. No Rio, ele tomou um novo andamento e transmitiu para o resto do Brasil. Todos os estados hoje têm escolas de samba, e boas. Mas oriundos de onde? Do Rio de Janeiro ao traçar o caminho de progresso do samba. a capital fluminense teve uma participação importante por conta das tias do samba; foram elas que protegeram e ampliaram os encontros para se fazer samba no Rio. “A casa da Tia Ciata foi um bom princípio, impôs condições ao samba. “Porque ali o samba não era perseguido”.
Tia Ciata – Mãe de santo nascida na Bahia em 1854, Hilária Batista de Almeida é considerada uma figura fundamental para o surgimento do samba no Rio de Janeiro, para onde migrou aos 22 anos, levando o samba de roda para a Cidade Maravilhosa. Grande entusiasta da cultura negra, Tia Ciata promovia rodas de samba em sua casa. Foi lá, inclusive, que Donga gravou “Pelo telefone”, considerado o primeiro samba gravado na história. Tia Ciata morreu no Rio de Janeiro, aos 80 anos.
“O período pós-abolicionista marcou a forte perseguição de quaisquer sonoridades, sotaques, danças e religiosidades afro-brasileiras, que visavam manter tradições que a sociedade brasileira queria tanto apagar. Nesse contexto, a importância das mulheres negras foi fundamental, porque além de manterem economicamente suas famílias — já que continuaram a trabalhar como empregadas domésticas nas casas grandes –, foram essenciais para a resistência do samba. No Rio de Janeiro, a Tia Ciata, que hoje seria o que é comumente conhecido como mãe de santo, se destaca como memória coletiva. Na sua casa acontecia o samba que era proibido, onde nomes como Pixinguinha, Sinhô e tantos outros se conheceram e puderam compor.”
Tanto as mulheres quanto a religiosidade afro-brasileira tiveram um grande papel para que o samba conseguisse resistir, porque era dentro dos terreiros das casas das tias baianas — cujo símbolo ficou marcado em Tia Ciata –, no espaço privado e escondido, que o samba podia acontecer.
Não à toa, a valorização da ala das baianas nas escolas de samba é uma forma de homenagear não apenas Tia Ciata, mas a memória de todas as tias baianas do samba.
Um marco feminino dentro na história do samba, em meio toda essa imensa dificuldade, é a Madrinha Eunice, uma mulher cuja memória de luta é imensurável. “Ela foi a primeira mulher a presidir uma escola de samba, a Lava-pés de São Paulo, que surgiu na verdade mais como um cordão carnavalesco”.
Porém, só mesmo depois da década de 60 que mulheres puderam ter alguma visibilidade dentro do espectro musical do samba e aí começam a surgir nomes vindos do Rio de Janeiro, como Clementina de Jesus e Dona Ivone Lara – o principal símbolo desse contexto.
“Ela foi a primeira mulher a participar da ala de compositores de uma escola de samba, a Império Serrano, no Rio de Janeiro, ao final de 1960. Sua importância extrapola os ‘locais de samba’, e ela alcança respeito enquanto compositora e instrumentista na chamada MPB.”Dona IVONE Lara recebeu recentemente a maior comenda de mérito cultural artístico do governo Brasileiro.
Na onda do cacique eu vou!
A palavra pagode existe desde o início do samba carioca quando as “tias baianas” abriam suas casas para fazer batucada. Era um termo afetivo para caracterizar o samba, de modo que ambas as denominações acabavam por significar a mesma coisa: um encontro para comer, beber, dançar e cantar.
Com o tempo, a palavra foi ganhando novas acepções, pois denominava um novo gênero – até hoje em debate sobre ser ou não uma derivação do samba. Inovador em ritmo, melodia e instrumentos, o pagode que se conhece atualmente nasce no início de 1960.
O principal ponto de referência desde movimento, que se afirmou apenas em 1980, foi o Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos. Fundado em 1961, somente no início da década de 1970 o bloco dá início aos encontros musicais. Embaixo de uma tamarineira, músicos faziam uma roda de pagode.
Ali, surge a primeira geração de compositores que não construíram suas carreiras dentro de escolas de samba. Arlindo Cruz, Sombrinha, Zeca Pagodinho e Jorge Aragão são alguns dos talentos descobertos no Cacique.
No entanto, o principal nome do pagode não se limita a somente um artista. Também oriundo do bloco, o grupo Fundo de Quintal torna-se a mais importante manifestação do gênero até hoje. O conjunto, que contou com diferentes músicos ao longo de 35 anos de trajetória, contribuiu para as inovações que distinguem o samba do pagode introduzindo novos instrumentos e produzindo novas sonoridades.
O repique de mão criado por Ubirany, o tantã criado por Sereno e o banjo com braço de cavaquinho criado por Almir Guineto – todos integrantes do Fundo de Quintal – são alguns exemplos. Além disso, ajudaram a moldar o novo gênero com arranjos mais acelerados e letras mais simples.
O Cacique teve uma relevância tão significativa para os rumos da música brasileira que foi tombado como Patrimônio Imaterial do Rio de Janeiro em 2010.
As (músicas mais lembradas do projeto “Eu Sou o Samba”, idealizado pela pesquisadora Aidê Resende, foram 1º) “Trem das Onze”, Demônios da Garoa; 2º) “Não Deixe o Samba Morrer”, na voz de Alcione; e 3º) “O Sol Nascerá”, de Cartola.
No próximo domingo o Samba de Manaus.
Marieny Matos - Produtora cultural, pedagoga, conselheira municipal de Cultura, na cadeira de projetos especiais
Que maravilha.
Obrigado por me marcar.
Coisa linda demais esse nosso samba…
Lindo Artigo sobre a Nascente do Samba e sua importância cultural e histórica para todos que gostam e carregam consigo esse género musical. Obrigado Mariante Matos. Show de Samba. O Samba agoniza mais não morre!
#FicaaDica