Do Estadão Conteúdo
BRASÍLIA – O fim do prazo das convenções partidárias, nesse domingo, 5, praticamente definiu o cenário em que se darão as eleições deste ano. Embora sem a proliferação de ‘outsiders’, como inicialmente previam os analistas políticos, a disputa caminha para ser uma das mais fragmentadas, reunindo o maior número de candidatos desde 1989, que teve 22 nomes.
No total, 13 candidatos foram oficializados por seus partidos, que têm até o dia 15 deste mês para registrarem as chapas. O número é superior ao da eleição anterior, de 2014, quando 11 nomes disputaram a Presidência da República, e ao de 1998, quando houve 12 candidatos. Nesse domingo, mais um nome foi confirmado em convenções, o de João Goulart Filho (PPL), filho do ex-presidente João Goulart, o Jango, que teve o mandato interrompido pela ditadura militar.
Mesmo confirmados nas convenções, os candidatos ainda podem deixar a disputa ou ter o seu nome trocado pelo partido até a véspera das eleições. É o que deve ocorrer, por exemplo, com a candidatura do PT. Condenado em segunda instância e enquadrado na Lei da Ficha Limpa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ter seu nome trocado caso a Justiça Eleitoral negue o seu registro de candidato.
A deputada estadual Manuela d’Ávila (PCdoB), que chegou a ser oficializada na disputa presidencial, não é mais candidata ao Palácio do Planalto, já que seu partido fechou aliança com o PT.
Os candidatos lançados nas convenções são: Álvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriotas), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL), João Amoêdo (Novo), João Goulart (PPL), José Maria Eymael (DC), Lula (PT), Marina Silva (Rede), Vera Lúcia (PSTU).
PT e PcdoB
O PT oficializou, na noite deste domingo, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como candidato a vice-presidente na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. A composição da chapa, no entanto, ainda pode mudar, porque o partido fechou uma aliança com o PCdoB, convidando a deputada gaúcha Manuela D’Ávila para ser a vice após a Justiça Eleitoral definir a situação de Lula na disputa. A parlamentar ainda não respondeu oficialmente se aceita o convite.
Haddad, visto como um ‘plano B’ do PT para substituir Lula na disputa, foi apresentado como um ‘vice tampão’ para representar o ex-presidente na campanha, enquanto a condição jurídica de Lula não é definida.
O acordo com o PCdoB garantiu ao partido que Manuela será a vice do PT independentemente de quem for a cabeça de chapa, em caso de impugnação do ex-presidente. Haddad ficará no posto de vice para cumprir exigência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), fazer campanha para Lula no País e representar o ex-presidente nos debates e entrevistas que participar.
Inicialmente, o PT queria manter a vaga de vice em aberto até o registro da candidatura, em 15 de agosto. Técnicos do TSE, no entanto, informaram que a coligação e a chapa precisariam ser definidas até este domingo. A comunicação ao tribunal foi feita cinco minutos antes da meia-noite.
A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), classificou a situação como mais uma tentativa de barrar a candidatura de Lula, preso e condenado na Lava Jato. “É uma ação que foi feita exatamente para se colocar mais um obstáculo na candidatura do presidente Lula, uma intervenção da Justiça Eleitoral”, disse a dirigente. Ela reiterou que o partido manterá a candidatura de Lula “até as últimas consequências” e registrará seu nome como candidato no dia 15 de agosto.
Carta
Para oficializar a escolha, a Executiva do PT recebeu uma carta de Lula indicando Haddad como vice e pedindo que o partido insistisse na aliança com o PCdoB e no convite para Manuela ser vice. Na mensagem, Lula disse que Haddad seria o melhor nome para defender suas ideias. O ex-governador da Bahia Jaques Wagner, sondado anteriormente, fez chegar ao PT que não gostaria de ser indicado como vice.
Com a decisão tomada e a negociação com o PCdoB amarrada, os dirigentes petistas tentaram fazer chegar a Lula o resultado do acordo, mas, devido ao horário em que o ex-presidente está autorizado a receber recados na Polícia Federal em Curitiba, não deu tempo. A notícia da aliança com o PCdoB deve chegar ao ex-presidente na manhã desta segunda-feira, 6.
Em seu discurso, Haddad disse que será ‘um prazer’ andar pelo País defendendo as ideias do ex-presidente. Ele ressaltou que os programas de governo do PT e do PCdoB “só têm coisas em comum” e serão compatibilizados. O ex-prefeito e ex-ministro de Lula classificou a coligação, que também integra PROS e PCO, como uma “grande aliança para resgatar o País”.
Já a presidente nacional do PCdoB, Luciano Santos, afirmou que o convite para Manuela ser vice ‘honra’ o partido e que a legenda defendeu a união da esquerda nas eleições desde o começo, tendo tido sucesso na “unidade que foi possível”. Ela lamentou que a aliança não tenha sido mais ampla. O partido conversou também com o PDT, que lançou Ciro Gomes como candidato. “Vamos fazer o bom combate e com debate de ideias e vamos ganhar a quinta eleição consecutiva”, disse a dirigente.