Por Aldizângela Brito, da Redação
MANAUS – A cota de 30% para candidaturas de mulheres nos partidos políticos (Lei nº 9.504/97) não impulsionou a participação feminina na disputa eleitoral no Amazonas. Os homens dominam os partidos e as indicações para cargos eletivos. As mulheres atribuem a condição desfavorável a dois fatores: a dificuldade de conciliar a militância política com as ocupações domésticas e ao machismo partidário.
Uma proposta para reverter a desvantagem é partir para o enfrentamento, defende Madalena Silva, presidente do Movimento de Mulheres do PDT. Segundo ela, as dificuldades enfrentadas pelas mulheres vão além da questão financeira.
Para atrair as mulheres para a vida pública, o movimento promove palestras, cursos e incentiva o desenvolvimento de projetos nas comunidades. “A mulher tem que saber que ela não vai conseguir um espaço se ela não for para o enfrentamento e sem medo de buscar melhorias para a comunidade. Travamos uma batalha muito grande porque a sociedade é machista na hora de lançar candidaturas femininas. Muitas das vezes, a mulher deixa de se candidatar para apoiar a candidatura de um homem. No Amazonas, quatro mulheres concorrem para cargos federais pelo PDT enquanto homens são oito. Para a ALE (Assembleia Legislativa do Amazonas), são cinco mulheres’, disse Madalena.
Outra condição deixa a mulher fora do envolvimento político: ela se tornar assessora de candidato. É o caso de Francinete Soares, que tenta por uma vaga de deputada federal pelo PDT. “Nós mulheres temos que lutar para acabar com o preconceito na política e apresentar propostas que envolvam temas que influenciam o dia a dia feminino. Desse modo, será possível mostrar que a gente luta pela mesma causa”, disse a candidata.
Para Dôra Brasil, diretora da Secretaria de Mulheres do PCdoB, a participação das mulheres na política é prejudicada pelo poder econômico e por escolhas. “O partido é pequeno, tem pouco tempo de televisão, tudo isso influencia para que não seja consolidada a participação das mulheres na política. As parlamentares do Amazonas são de direita, elas mapeiam as secretarias, não têm posicionamento e usam a política como um meio de vida”, disse.
Dôra Brasil disse que o PCdoB busca equiparar a participação entre homens e mulheres no diretório nacional e na executiva regional. “Em relação ao valor destinado à campanha, uma parte foi depositada em dinheiro e outra em forma de material gráfico e combustível”, disse Dôra.
A senadora Vanessa Grazziotin, do Amazonas, é a maior expoente do PCdoB em âmbito nacional. Para ela, as cotas de campanha destinadas ás mulheres “são políticas públicas de caráter afirmativo, que existem para promover equilíbrio onde o desequilíbrio é um fator de injustiça que tende a se acentuar se não for corrigido. A senadora considera que na política, existem fatores que contribuíram para que fosse um campo hostil e que as mulheres “não eram incentivadas a entrar na política e sequer a pensar na política, como se não fossem cidadãs”.
Grazziotin diz que existe uma preferência de gênero que favorece a presença masculina nos lugares de mais visibilidade política, prestígio e remuneração. “Por isso mesmo, a gente não pode falar apenas em igualdade, mas precisa também falar em equidade. Se a gente tem como objetivo conseguir a igualdade na prática, então temos que pensar numa sociedade em que a participação política da mulher pode chegar inclusive a ser maior que a masculina”, disse a senadora.
Distanciamento histórico
A desigualdade entre homens e mulheres na participação política é atribuída à definição de que o espaço público é um espaço masculino e que o espaço doméstico cabe às mulher. Para Márcia Oliveira, socióloga e articulista do ATUAL, “a violência impetrada contra as mulheres na política é a reprodução da violência como mecanismo de controle das mulheres”. “Os discursos machistas e carregados de misoginia funcionam como uma forma de criar nas mulheres a repulsa aos cargos políticos e mantê-las distante do debate político. O recuo funciona como uma forma de proteção contra a violência”, disse Márcia Oliveira.
Reféns
As mulheres têm votos suficientes para ampliar o número de mulheres eleitas, pois representam 52% do eleitorado. No entanto, segundo a socióloga, “o histórico de dominação não legitima a nossa participação política e ainda não nos demos conta do nosso poder de decisão”, diz. “Por outro lado, nem todas as mulheres que chegam ao poder o fazem como uma bandeira de luta. Há muitas mulheres reféns de mandatos políticos que apenas reproduzem as relações de dominação sem problematizar o verdadeiro papel da política enquanto mecanismo de importantes mudanças na sociedade”, afirma Márcia Oliveira.