MANAUS – Os candidatos a governador do Amazonas Eduardo Braga (PMDB) e José Melo (Pros) dizem só o que interessa a eles em relação à mobilidade urbana da cidade de Manaus nesta campanha e omitem informações que revelam que tanto o governo de Braga quanto o de Omar Aziz e José Melo pecaram durante a preparação da capital amazonense para a Copa do Mundo da Fifa nesse quesito.
Em entrevista à Rádio Amazonas FM, de Manaus, na terça-feira, 21, Eduardo Braga acusou o governo do Melo e Omar de não se interessar pelos recursos que estavam disponíveis pelo governo federal para realização do monotrilho e do BRT (sistema de ônibus com corredor exclusivo). Acusou o governo de discordar do projeto do monotrilho e não apresentar outra proposta.
Nesta quarta-feira, na mesma emissora, o governado José Melo acusou Braga de “faltar com a verdade” e disse que o monotrilho não foi feito porque o governo anterior não fez o projeto executivo e não comprovou a viabilidade técnica do modelo de transporte para Manaus. Afirmou que o dinheiro nunca esteve disponível porque o Ministério Público pediu à Caixa Econômica Federal o bloqueio do dinheiro. “Só depois (que Braga deixou o governo) se descobriu que o monotrilho não era um sistema adequado para a cidade de Manaus, porque ele era só uma espinha dorsal sem as espinhas laterais. Ele ligava nada a lugar nenhum”.
Os fatos
O monotrilho foi um modelo questionado desde que o projeto foi apresentado, dois anos antes de Eduardo Braga deixar o governo. O Ministério Público Federal, em inúmeras audiências públicas, algumas realizadas na Assembleia Legislativa do Estado, apontava que ele era caro, que não suportaria a demanda e que a tarifa seria muito cara. O governo, do qual José Melo era secretário (de Governo), defendia a proposta com unhas e dentes.
Braga saiu do governo e Omar Aziz manteve o projeto e realizou a licitação, que também foi questionada pelo Ministério Público Federal. O MPF questionava, por exemplo, o fato de o governo incluir no edital apenas um pacote para a obra física (o trilho e as plataformas de estacionamento) e os veículos, ou seja, os consórcios deveriam ter empresas de construção civil e de construção dos veículos do monotrilho. Dizia o MPF que essa exigência dificultava a participação de um número maior de empresas de construção civil, porque havia apenas duas empresas construindo monotrilho no mundo.
O MPF queria que o governo fizesse uma licitação para a obra física e outra para os carros do sistema monotrilho. Não conseguiu êxito e a licitação foi vencida pelo Consórcio Monotrilho Manaus, o contrato foi assinado por Omar e a obra foi iniciada, timidamente, pelo bairro Cidade Nova, na zona norte.
No dia 22 de outubro de 2013, o Juiz Federal Rafael Leite Paulo, da 3ª Vara da Seção Judiciária do Amazonas, decidiu suspender o contrato e o repasse de recursos para a implantação do monotrilho em Manaus e qualquer ato que tivesse como objetivo executar o projeto, orçado em R$ 1,4 bilhão.
A decisão foi tomada com base em informações do Ministério Público Federal de que havia irregularidades no projeto básico, o que resultou numa ação civil pública ajuizada contra a União, o Estado do Amazonas, o Consórcio Monotrilho Manaus e a Caixa Econômica Federal.
Sobre o BRT
Sobre o BRT, houve uma espécie de desleixo de parte do governo do Estado e da Prefeitura de Manaus. Durante mais de dois anos, governo e prefeitura nunca sentaram para discutir a mobilidade urbana. Eduardo Braga era o governador e Amazonino Mendes, o prefeito. Braga deixou o governo, substituído por Omar Aziz, e nunca houve diálogo em relação à mobilidade. Governo fazia o monotrilho e a prefeitura preparava o projeto do BRT. Amazonino chegou a apresentar o projeto do BRT, que levaria à desapropriação de cerca de mil imóveis no bairro São José para a construção de uma pista exclusiva para o sistema.
Amazonino deixou a prefeitura, substituído por Arthur Virgílio Neto. Não havia mais tempo para construir o BRT. Arthur, então, decidiu reformar as antigas plataformas do Expresso e fazer um arranjo para atender à demanda da Copa do Mundo com o sistema de ônibus existente.
Depois da Copa, não se ouviu mais as autoridades falando sobre um novo sistema de transporte público para Manaus.
Na entrevista de hoje, o governador José Melo disse que governo e prefeitura estão fazendo um estudo sobre mobilidade urbana.