Por Rosiene Carvalho, da Redação
MANAUS – Pré-candidaturas ao Governo do Estado e ao Senado, no Amazonas, devem ter fôlego até 2018, mesmo após divulgação da “Lista de Fachin”, em função do tempo que ainda falta para o eleitorado ir às urnas: 18 meses. A opinião é do doutor em processos socioculturais, sociólogo e jornalista Wilson Nogueira e do analista político e presidente do Instituto Action Pesquisas de Mercado, Afrânio Soares, ouvidos pelo ATUAL.
A divulgação dos pedidos de inquérito do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, atingiu as principais lideranças políticas do Amazonas e os nomes mais cotados para a disputa dos cargos de governador do Estado e senador da República em 2018: Eduardo Braga (PMDB), Omar Aziz (PSD), Arthur Virgílio Neto (PSDB) e Vanessa Grazziotin (PCdoB).
Wilson Nogueira afirmou que os efeitos negativos sobre os políticos com nomes envolvidos na Lava Jato ocorreram com mais força quando as primeiras informações começaram a vazar. Como a investigação ainda está no início, Nogueira afirma que só uma possível condenação poderia ter um efeito mais devastador sobre as intenções eleitorais destes políticos.
“Não deve acabar com nenhuma candidatura. Os candidatos continuam sendo candidatos. Não há ainda nenhuma condenação. Esse é o tipo de impacto que ocorreu quando houve as primeiras denúncias”, disse.
Afrânio Soares disse que a “Lista de Fachin” gera efeito moral, mas não aposta que nenhuma candidatura seja enterrada em função da abertura de inquéritos. O cientista político afirmou que, no entanto, é necessário monitorar desde já os desdobramentos destes escândalos na percepção do eleitorado.
“É difícil de medir se vai inviabilizar alguém no ano que vem. O que precisa ser feito é começar a medição desde agora para podermos entender o que vai acontecer e as possíveis saídas”, avaliou.
Afrânio afirmou que para Eduardo Braga, por exemplo, mesmo com efeitos negativos da investigação no âmbito da operação Lava-Jato, o grande “trunfo” para 2018 seria voltar ao comando do Governo do Estado para disputar a reeleição. Braga nunca venceu um pleito sem que estivesse com a máquina na mão e luta na Justiça Eleitoral para cassar o mandato do governador José Melo (Pros).
O cenário com Braga de volta ao poder, segundo o analista, ajudaria até no combate aos índices de rejeição de Braga que na última eleição ficou em 30%. “É preciso medir até onde isso vai levar. Mas a volta ao governo poderia colocar a candidatura dele (Braga) em outro contexto”, disse.
Afrânio considera que um escândalo, com possíveis condenações, está muito distante. “As investigações estão começando. Tem que vir para o concreto. O que é provado tem outro peso”, disse.
Fiscalização em 2018
Para Wilson Nogueira, a principal expectativa criada pela “Lista de Fachin” é a necessidade de fiscalizações mais severas na próxima eleição por parte das autoridades competentes. “Eu acho que a questão principal é sobre como a justiça e os órgãos de fiscalização da campanha vão atuar. Do ponto de vista, da denúncia em si. Não é uma política com base em ideia de projeto. É uma disputa que se dá na base da compra de votos”, disse.
Nogueira afirma que, embora o Caixa 2 não seja exatamente uma novidade, a Lista expôs o modelo eleitoral e político do País financiado por grandes grupos econômicos em troca de favores. Disse ainda que a população já tinha uma intuição de que práticas corruptas ocorriam neste meio. “Ou seja, a prática empresarial está muito mais relacionada com negócios espúrios do que empreendedorismo”, disse.
Para Nogueira, o cenário político não mina as candidaturas dos políticos que estão com os nomes envolvidos na investigação de atos corruptos, mas pode favorecer nomes novos que se apresentem como alternativa. “Alguém com uma nova mensagem, com novas propostas políticas e que vai quebrar essa ideia de que é desse jeito mesmo”, disse.
O jornalista afirmou que as primeiras reações dos políticos com nomes na lista de Fachin de negar as acusações estão relacionadas ao que a fase atual da investigação propicia. Em relação à resposta do prefeito Arthur Virgílio Neto, de que irá abandonar a política, Nogueira avalia que também pode ser uma forma de fugir ao assunto: “Sair da vida política? Mas quem quer saber disso? Quem perguntou isso? O que se quer saber neste momento é o que está sendo investigado. As respostas são como um jogo de xadrez em que cada jogada é devidamente calculada em função da próxima”, disse.