O governo federal e alguns analistas econômicos já anteveem um índice de inflação acima de 8% para este ano. O governo, em particular, atribui a culpa à crise mundial e o esforço fiscal que teria feito para “preservar” os brasileiros dos efeitos da conjuntura exterior.
Diante desses prognósticos, lembrei do período de incertezas que antecedeu a implantação do Plano Real – no início dos anos 1990, e a quase euforia posterior, quando o frango virou o símbolo da estabilização econômica e da inclusão de milhares de famílias ao consumo de itens básicos do cardápio nacional.
Na época, eu era um jovem ingressando no mercado de trabalho e carregava comigo todas as incertezas que o futuro nos apresenta. O país saia de um período difícil: inflação galopante, desemprego, desconfiança e instabilidade política, esta última causada pelo impeachment de Fernando Collor. Lembro até hoje da conta que se fazia para obter o valor do dinheiro que tínhamos em mãos, dividia-se a URV – moeda paralela – por 2.750 para se chegar ao valor em reais (R$).
Pois bem, a partir do improvável plano real a economia brasileira passou a fazer algum sentido. Seguiram-se a reforma do sistema bancário nacional, da administração pública, a lei do SUS e do FUNDEF, além da Lei de Responsabilidade Fiscal, aliás, desnecessária se tivéssemos políticos e gestores com o mínimo de espírito público. A verdade é que, não sem percalços, trilhávamos um caminho rumo à estabilização social e econômica.
Posteriormente, a chegada da esquerda ao poder reascendeu no povo brasileiro o sentimento de igualdade, distribuição de renda e avanços nas instituições públicas. O país crescia e incluía as famílias mais pobres. Nossa economia era vista pela Europa e EUA como uma das mais promissoras dos países em desenvolvimento. Ajudamos a criar os BRIC’s, bloco de países formado por Brasil, Rússia, Índia e China, emitindo a mensagem de que uma nova ordem chegava. Enfim, íamos bem na corrida mundial.
Mas de repente, o governo resolveu boicotar tudo o que construímos, aumentando os gastos públicos e gastando mais do que arrecadava, atropelando a lei de responsabilidade fiscal, patrocinando eventos como copa do mundo de futebol, gastando recursos que não tinha e atolando-se na corrupção. A verdade é que, em quatro anos, as bases da economia brasileira foram destruídas, jogando o país novamente numa espiral de inflação, baixo PIB e aumento de desemprego.
Assim, não passa de cinismo barato e desonestidade intelectual atribuir a responsabilidade pela nossa crise ao cenário internacional. Pessoas como Guido Mantega e Arno Augustin, com suas visões ultrapassadas de economia, juntamente com a pseudo economista Dilma Roussef, são diretamente responsáveis pelo quadro atual.
Portanto, é triste reconhecer que a política nacional tem oferecido muito pouco aos brasileiros nesse momento de dificuldades. A despeito das mobilizações sociais e da urgência de questões como ajuste fiscal, redução de gastos, reforma tributária e até mesmo a tão propalada reforma política, o que continuamos assistindo no Congresso Nacional são grupos organizando-se em torno do velho e conhecido toma lá- dá cá de cargos e benefícios no planalto central.
De fato, o “ronco das ruas” não foi ouvido pela classe política, restando ao povo apertar o cinto e torcer para que não recrudesça a detestável divisão do país, que põe em lados opostos setores da sociedade que, ao contrário de se unirem, colaborando para a economia nacional superar esse momento, preferem trocar farpas em contendas vazias e preconceituosas.
As lideranças do atraso e dos discursos de ódio tem muitos motivos para comemorar. A (não) reforma política, os recuos na preservação dos direitos dos trabalhadores, o aumento de impostos e os retrocessos ambientais estão aí. Será que estamos mesmo saindo dos trilhos na economia e nas questões sociais? Acredito sinceramente que não, a capacidade de trabalho e de superação do povo brasileiro há de prevalecer para retomarmos nosso protagonismo. Como diz o cantor e compositor Nilson Chaves, “os velhos de Brasília não podem ser eternos…”.