O deputado federal Alfredo Nascimento (PR), concedeu uma entrevista exclusiva ao AMAZONAS ATUAL, no dia 11 de outubro de 2015, em que o parlamentar fala sobre a aliança com o governo Lula e Dilma. O parlamentar demonstrou ressentimento com algumas situações ocorridas entre o ex presidente e o próprio deputado, e afirmou que lealdade tem limite, e que esta, deve ir “só até a beira da cova”. Alfredo Nascimento surpreendeu eleitores ao declarar seu voto em favor do impeachment da Dilma Rousseff esse domingo, 15, na Câmara, em Brasília. No entanto, em entrevista coletiva concedida hoje, o parlamentar não demonstrou arrependimento e afirmou que tinha consciência que seu voto levaria adiante o processo de impedimento da presidente. Leia abaixo trechos da entrevista (clique aqui para ler a íntegra)
ATUAL – E como o PR atua nesse momento de crise?
ALFREDO – O PR é da base do governo e entende que lealdade tem limites. Nós vamos ficar com o governo, sim, porque lá atrás, no início do governo da presidenta Dilma nós aceitamos participar da base do governo e aceitamos indicar um nome para uma das principais pastas, que é o Ministério dos Transportes. Agora, essa relação vai continuar existindo até o limite que a sociedade determinar. As pessoas falam no impeachment. Até então, não vejo nenhum motivo para se aceitar o impeachment. Mas se aparecerem provas, se existirem dados suficientes pra isso, o partido acaba votando.
ATUAL – As pedaladas fiscais seria um motivo para o impeachment?
ALFREDO – Acho que não. Primeiro, que o TCU não é uma instância final. Isso tem que ir para o Congresso. Em segundo lugar, essas pedaladas foram praticadas em todos os governos. O Tribunal de Contas resolveu identificar agora que ela existe como pedalada em função até dessa briga política, porque a eleição ainda não acabou. Continua existindo uma briga entre oposição e situação. Eu assisti a uma exposição feita pelo governo mostrando as mesmas pedaladas desde o início do processo. E o governo seguiu uma norma, uma resolução do Banco Central, porque não existia lei para isso, e essa resolução que dava base pra essas pedadas foi seguida rigorosamente pelo governo. Então, eu vejo por trás disso tudo um pouco da ação política. Agora, existindo dados, existindo envolvimento da presidenta da República em desvios, a coisa muda de figura.
ATUAL – O senhor falou em lealdade do PR com o governo. Existe lealdade em política?
ALFREDO – Até certo ponto. Mas você não é leal pra morrer junto. Você vai até a beira da cova.
ATUAL – Eu fiz essa pergunta com um olhar lá atrás, em 2010, quando o senhor foi candidato ao governo do Estado dizendo que havia um acordo com o presidente Lula… (interrompe)
ALFREDO – Não houve lealdade comigo. Havia um acordo com o presidente, com a Dilma, como Eduardo Braga, com o Omar, e, no final, eles não me apoiaram. Mas eu não atribuo essa culpa a nenhum deles, a culpa é minha. Eu negociei mal. E quando a gente negocia mal em política, sem sustentação, sem segurança, a gente perde. Então, a culpa foi minha, eu conduzi mal o processo. E isso na política, pelo menos na nossa política aqui do Brasil, é uma prática muito comum [não cumprir acordo]. Aliás, o bom político hoje é aquele que consegue dar rasteira em cobra, que consegue enganar, que consegue falar bonito… Infelizmente, hoje a política é um pouco isso.
ATUAL – Qual foi o acordo que o senhor fez e que eles não cumpriram?
ALFREDO – Que eu seria candidato ao governo e que teria o apoio do Eduardo Braga, do Omar, do Lula… O Lula, quando me pediu para convidar o Serafim [Corrêa, do PSB] para ser meu vice [em 2010], eu estive em Brasília com o Serafim, e o Serafim é testemunha disso. Ele disse: “Eu não vou só apoiar o Alfredo. Eu vou fazer campanha pra vocês. Eu devo isso ao Alfredo. O Alfredo acreditou em mim (o Serafim é testemunha disso)”. O Serafim foi convidado pelo Lula, porque ele havia solicitado que eu convidasse o PSB, porque o PSB havia apoiado outros candidatos do PT em outros locais. Então, partiu de uma negociação nacional. Mas eu não tenho que falar disso, isso é coisa do passado. Isso foi embora. Eu acho que a gente só é aquilo que tem que ser, e eu conduzi mal o processo; a culpa é minha. Eu não fiz as amarrações devidas que o calejamento da política acaba ensinando pra gente.
ATUAL – Essa sua aliança com o Lula o senhor não acha que teve mais prejuízo do que lucro?
ALFREDO – Só prejuízo. O maior erro que eu cometi foi ter saído de Manaus para ser ministro. Eu tinha um excelente desempenho, era queridíssimo pela população, um índice de aprovação nunca alcançado, e larguei o meu último ano de mandato para atender ao Lula. Até aí ainda foi bem. Agora, o maior erro da minha vida foi aceitar ser ministro pela terceira vez, com a Dilma. Mas o ego da gente acaba superando a gente. Eu perdi a eleição e pensei: “bom, eu volto a ser ministro, fica tudo bem”. Acabei aceitando. Eu não ia, eu resistia a isso, eu dizia que não queria, eu disse pra ela [Dilma] que não queria. Até que não teve jeito. Ou eu aceitava, ou o partido não teria o mesmo espaço que teve no governo. Como eu tinha sido do ministério e era do partido a única pessoa que ela queria era eu. E acabei indo pra lá e deu no que deu. Eu estou tendo que recomeçar tudo de novo.
ATUAL – Ainda há tempo?
ALFREDO – Claro, sempre tem. Você dá um pulo pra trás e uns dois três pra frente. Isso não é burrice, não. Às vezes é até inteligência.