Da Redação
SÃO PAULO – O primeiro episódio da websérie Acesa, fruto de imersão idealizada pela musicista pernambucana Alessandra Leão como parte do processo criativo para o seu novo disco de mesmo nome, será lançado nesta quarta-feira, 4, em seu canal no Youtube.
Inspirada pelo livro Cidade Passo, da artista visual Vânia Medeiros, Alessandra reuniu um grupo formado pelo músico, arranjador e produtor Caçapa, o cineasta Luan Cardoso, a atriz e dramaturga Luciana Lyra, além da própria Vânia, para uma série de 15 episódios-encontros com mestras, mestres, músicos e líderes religiosos, ligados às tradições do Coco, Ciranda, Maracatu de Baque Solto, Jurema, Umbanda e Candomblé.
No site de Alessandra, o público também encontrará mais informações sobre as obras dos artistas retratados.
Cada encontro teve como única regra acontecer caminhando à deriva, apenas com ponto de partida escolhido e trajeto conduzido pelo convidado. Acesa, projeto contemplado pelo Rumos Itaú Cultural 2017-2018 e que ainda é composto por lançamento de disco,investiga as relações entre música, transe, poesia e cidade.
“Penso na música como algo sagrado, seja dentro do ambiente religioso, seja nos terreiros da rua, seja em um show, seja em casa. Gosto do sagrado que ilumina a alma pela fé e pela festa”, conta Alessandra. “A arte ligada às diferentes tradições me ensina desde muito tempo o quão fortalecedor é brincar juntos, como isso nos mantém de pé, como é profundo e potente.”
O primeiro vídeo é sobre a Mestra Odete de Pilar, nascida na Paraíba, na cidade que utiliza como nome, Pilar. Ela cresceu em meio às manifestações culturais da região de Sapé (PB), como a Ciranda e o Coco de Roda. Aprendeu a cantar ainda criança, com o seu pai, também coquista, e hoje é uma das principais vozes da música paraibana.
É também compositora e percussionista e, apesar dos mais de 50 anos de atividade artística, somente há cerca de 15 anos realizou os primeiros e poucos registros, segundo pesquisa de Maria Ignez e Marco Ayala, lançados no CD Cocos: Alegria e Devoção, coletânea de cocos da Paraíba, de 1999.
“Lembro da sensação de ouvir Odete pela primeira vez, cantando ‘olê olá, o coquista está aqui’”, diz Alessandra. “O tempo parou um pouco para ouvi-la também, tenho certeza de que o tempo suspira quando Odete canta”, completa.
Alessandra conta que compôs e gravou uma música para Odete no seu primeiro disco e só a conheceu anos depois. “A tenho como uma amiga querida. Odete é luminosa. Canta compõe e toca coco e ciranda de um jeito singular que me diz muito sobre ela e sobre a Paraíba, sobre o Nordeste, sobre o Brasil”, revela. “Caminha ligeiro, canta forte, dança miudinho, cria rápido. Vejo o que acende nela quando canta, sinto o que acende em mim quando a escuto.”
Os vídeos serão sempre disponibilizados às quartas-feiras. Depois de Odete, vem a também paraibana Ana do Coco, em seguida, os pernambucanos Mestre Galo Preto, Pai Cacau, Paulinho Carrapeta, Alexandre L’omi L’òdo , Mãe Beth D´Oxum, Nilton Jr, Guitinho da Xambá, Babalorixá Ivo de Oxum, Mestre Barachinha e Nega Duda, e os paulistas de Guarulhos Pai Luiz Soliano e Mãe Marilda Soliano.
Acesa, por Alessandra Leão
“Acesa é um convite a um estado de presença. A música é o fio condutor de cada conversa. A deriva revela que não há fronteiras entre poesia, música e dança; entre o que é da fé e o que é da festa; entre o corpo e a cidade. A partir da pedra miudinha desse chão, novas cartografias de nós mesmos, enquanto caminhamos. Novos mapas e caminhos. Cada um é como folha, sons, cheiros. Estado de atenção e escuta. O mundo noutro tempo. Encontros como fagulhas que acendem a alma, fortalecem os corpos que se deslocam soltos, em deriva, à deriva. Deriva em caminhadas, conversas, ideias, músicas, pensamentos, transe. Estamos em trânsito, transitórios, impermanentes. Como disse Alexandre L´omi durante nossa conversa: “O transe é para quem está confortável em seu corpo”. Ouvir e (re)descobrir potências e profundidades, outras camadas, o que sustenta, o que transborda de cada um, no outro e em si mesmo. A rua. A encruzilhada como possibilidade de caminhos. Cada indivíduo como um mundo de possibilidades. A fagulha necessária para encontrar e reencontrar sempre. Se perder para poder encontrar o que não se sabia em si e no outro. O movimento. É dele que vem a faísca para acender o fogo.”
Sobre o Rumos Itaú Cultural
Um dos maiores editais privados de financiamento de projetos culturais do país, o Programa Rumos, é realizado pelo Itaú Cultural desde 1997, fomentando a produção artística e cultural brasileira.
A iniciativa recebeu mais de 64,6 mil inscrições desde a sua primeira edição, vindos de todos os estados do país e do exterior. Destes, foram contempladas mais de 1,4 mil propostas nas cinco regiões brasileiras, que receberam o apoio do instituto para o desenvolvimento dos projetos selecionados nas mais diversas áreas de expressão ou de pesquisa.
Os trabalhos resultantes da seleção de todas as edições foram vistos por mais de 7 milhões de pessoas em todo o país. Além disso, mais de mil emissoras de rádio e televisão parceiras divulgaram os trabalhos selecionados. Nesta edição de 2017-2018, os 12.616 projetos inscritos foram examinados, em uma primeira fase, por uma comissão composta por 40 avaliadores contratados pelo instituto entre as mais diversas áreas de atuação e regiões do país.
Em seguida, passaram por um profundo processo de avaliação e análise por uma Comissão de Seleção multidisciplinar, formada por 21 profissionais que se inter-relacionam com a cultura brasileira, incluindo gestores da própria instituição. Foram selecionados 109 projetos, contemplando todos os estados brasileiros.