Muito embora não seja exclusividade do Brasil, a crescente violência em manifestações populares é preocupante. Adotar medidas para evitar novas vítimas fatais, tal como ocorreu com o cinegrafista da band, é fundamental. Aliás, alguns aspectos do caso Santiago Andrade merecem maior atenção da parte não só dos aparelhos do Estado, como também por parte das próprias empresas de comunicação.
Era pra ser apenas mais um protesto contra o reajuste da tarifa de ônibus, naquela tarde de seis de fevereiro de 2014, no centro do Rio de Janeiro, mas um rojão armado por manifestantes, Caio Silva e Fabio Raposo, atingiu a cabeça do cinegrafista da rede bandeirantes de televisão, Santiago Andrade, vitimando-o fatalmente.
Desde junho do ano passado (2013), quando um espiral de manifestações tomou conta de cidades por todo o país, tendo milhões de pessoas ido às ruas protestar, inicialmente contra o aumento dos preços de passagens do transporte coletivo, posteriormente contra a qualidade dos serviços públicos e contra a corrupção na política, tem-se observado a ação violenta de certos grupos de ativitas contra o patrimônio público, o privado, contra as policias e até contra profissionais da imprensa, expondo a enormes riscos profissionais do jornalismo e também pessoas, de um modo geral, que estão acompanhando ou próximas aos protestos.
Esses ativistas violentos, dentre os quais os adeptos da tática anarquista chamada “black bloc”, adotaram o vandalismo como marca registrada para criticar a ordem de coisas vigente e chamar atenção de todos: população, governo, policias, meios de comunicação, empresas, instituições financeiras, organizações sociais etc. O vandalismo, como uma ditadura ou qualquer outro regime fechado ou egocrático, é irracional e incoerente porque destrói aquilo que diz proteger ou promover: a justiça, a liberdade, a dignidade humana e os direitos fundamentais. Os ativistas adeptos do vandalismo justificam a ação violenta como uma reação à violência do Estado. E procuram inspirar, recrutar e mobilizar jovens, recorrendo hoje à internet, às redes sociais, a eventos de doutrinamento e outros meios. Empregam, enfim, a violência como estratégia e arma política, banalizando o vandalismo ao ponto de produzir vítimas fatais, como o cinegrafista Santiago Andrade.
Embora as leis brasileiras proíbam a violência em manifestações populares, admitindo a liberdade de protestar e manifestar como expressões legítimas de cidadania no regime democrático, observa-se cada vez mais a ocorrência da prática de vandalismo nessas sublevações por parte de grupos de ativistas que adotam a violência como recurso político.
Por essa razão, importa tanto aos aparelhos estatais (policias, hospitais, agentes de trânsito etc) como aos profissionais da imprensa e de meios de comunicação social buscar formação e treinamento, de modo a estarem preparados para lidar com esses episódios de vandalismo, a fim de evitar novas vítimas da violência de grupos de ativistas políticos nos protestos de rua.
Em especial, as empresas e emissoras de comunição de massa devem orientar seus funcionários (repórteres, cinegrafistas, jornalistas…), fornecendo-lhes ainda equipamentos de segurança, como coletes e certos tipos de capacetes adequados à atividade profissional exposta ao risco de protestos de rua, dentre outros meios. É dever do empregador garantir que seus empregados estejam em condições de segurança no seu ambiente de trabalho. Se o repórter ou cinegrafista vai fazer uma matéria no rio ou no oceano, é razoável, no mínimo, que esteja de colete para flutuar nas águas. Se no ar, numa aeronave ou qualquer outro meio (asa delta, parapente, dentre outros) é minimamente razoável que esteja de paraquedas. Do mesmo modo, cobrindo uma manifestação popular de rua, praça pública, entrando em área de risco com a polícia, subindo o morro ou ainda entrando em favela, é imprescindível o uso de equipamentos básicos de segurança. Quer-se, com isso, evitar que outros “Santiagos” sejam vitimados.
Dessa maneira, pode-se lidar com as manifestações populares e os protestos de rua, mesmo quando extremados pelo vandalismo de ativistas violentos, sem privar nem sacrificar o indivíduo e a coletividade de usufruir seu legítimo direito à informação e à liberdade de expressão, de reunião, de associação e de manifestação, fundamentais numa sociedade aberta e de perspectiva democrática.
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