Um dos principais fatores que deflagram situações de violência, de criminalidade e de encarceramento em massa é, sem dúvida, o processo de viciamento humano, atualmente globalizado de modo sistêmico.
O processo de viciação humana impacta nocivamente a sociedade e suas instituições, corrompendo aonde quer que alcance, inclusive as esferas públicas e seus respectivos serviços, ampliando a degeneração da qualidade de vida de maneira sistêmica.
O viciamento humano sistêmico produz consequências danosas não somente à saúde do viciado, como também à educação, à atividade laboral, à convivência familiar e comunitária. A viciação humana sacrifica e vai aniquilando o discernimento lúcido e a própria cognição humana. Com o tempo, perde-se o comando sobre si mesmo, escravizando-se ao objeto do vício, agindo-se tão somente para satisfazer a dependência.
O viciamento humano ocorre não apenas como dependência química (drogadição), mas principalmente como processo social inerente ao modelo econômico adotado, ou seja, intrínseco à economia do crime, dos tráficos ilícitos e dos ilegalismos globais. Esse processo produz o viciamento simbólico, comportamental e químico, operando uma lucrativa malha econômica, desprezando as vítimas e as degradações ambientais que gera.
Articulado de modo global e sistêmico, o processo de viciamento humano em curso opera em diferentes redes lícitas e ilícitas, envolvendo organizações e corporações de distintas ordens, tanto formalmente legalizadas quanto irregulares e mesmo ilegais. Tal processo, em grande medida, é responsável por degenerar instituições políticas e processos econômicos, alastrando práticas viciadas, violentas e corrompidas por todas as esferas sociais e oficiais, comprometendo a qualidade do ambiente social e institucional em que se tece a vida em coletividade.
A viciação humana é um processo sistêmico que fomenta sociedades violentas e marcadas grandemente pela corrupção, as quais acabam sendo profundamente afetadas por eventos de criminalidade e de encarceramento em massa. A prioridade na abordagem de controle repressivo no trato dos desviantes sociais, dos fatores que conduzem ao crime e ao encarceramento tem provocado o agravamento dos problemas de insegurança pública. Por outro lado, é imprescindível prosseguir de maneira ininterrupta o combate aos tráficos ilícitos, às organizações criminosas e a outros efeitos deletérios da economia do ilícito.
A megaeconomia do viciamento humano impacta danosamente a vida em sociedade, sobretudo a de adolescentes e de jovens vitimados anualmente aos milhões não apenas enquanto viciados, como também por conta de violentas disputas por mercado e território entre gangues, no necessário combate ao crime de tráfico de drogas pelas forças policiais e na desfiguração humana de sistemas penitenciários em toda parte.
Não são poucos os adolescentes e jovens adultos que ingressam no crime de tráfico de drogas ou de associação ao mesmo para patrocinar o próprio vício e acabam sendo usados pelos “empresários” da economia do vício químico em favor de interesses delinquentes.
A globalização do processo de viciamento humano não ocorreria de modo tão sistêmico se não operasse em seu favor uma carga expressiva de informação manipulada e capilarizada em distintas redes de comunicação. Não se deve ignorar que a viciação humana também decorre de um processo induzido por pensamentos fomentados por certas informações contextuais, relacionais, publicitárias, formatada conforme os diferentes perfis socioculturais. A informação está no “DNA” do processo de viciamento humano, uma vez que o pensamento induzido serve de base à materialização do vício. A vontade compulsiva de jogar, de comprar, de fumar, de beber, de corromper, de enganar ou prejudicar, de fazer sexo, de levar vantagem a qualquer custo, de falar mal ou da maledicência, de agir com violência, de dar vazão ao fanatismo ou fundamentalismo de modo violento, de consumir substâncias químicas, dentre outras, tem origem no pensamento induzido por certas informações, inclusive de natureza obscurantista. Nesse sentido, prevenir-se desses pensamentos e de certas informações pode evitar que determinados vícios se materializem, possibilitando a eliminação de certos hábitos ou de reiteradas práticas viciantes. Entretanto, não apenas isso é suficiente para lidar com o processo sistêmico de viciação humana.
Diante do contexto atual, sem precedentes quanto ao dimensionamento da escala do viciamento humano, é necessário considerar a possibilidade de desenvolver e intensificar ações de assistência, de esclarecimento e de tratamento, bem como rever o trabalho de formação de instituições sociais encarregadas da socialização primária e secundária. Por fim, é essencial que, ao lado das ações de tratamento e das intervenções policiais e encarceradoras, proceda-se ao trabalho preventivo no processo de educação de crianças, adolescentes e jovens adultos com vistas a desacelerar e, se possível, conter o acelerado processo de viciamento humano sistêmico, principalmente com vistas a evitar a drogadição, a corrupção, a delinquência e os epidêmicos indicadores de violência e de criminalidade.
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