Por Rafael Balago, da Folhapress
GOIÂNIA – Abri o aplicativo, confirmei onde estava e digitei o endereço para onde ia. O app me respondeu que o veículo chegaria em nove minutos, e me orientou a ir até a esquina. De lá, acompanhei na tela um ícone de uma van colorida se aproximando no mapa.
Embora lembre aplicativos como Uber e 99, o pedido foi feito para um serviço de uma empresa de ônibus. Chamado CityBus 2.0, ele iniciou testes em Goiânia em fevereiro e realiza atualmente mais de mil viagens por dia, segundo seus criadores. O período de avaliação foi encerrado em julho, e o projeto passou a integrar a oferta de transporte municipal.
O CityBus é a primeira iniciativa de transporte público sob demanda a superar a etapa experimental no Brasil. O Uber oferece viagens compartilhadas há alguns anos, mas em carros para até quatro passageiros.
Há iniciativas similares sendo avaliadas no exterior. No Egito, foi lançado o UberBus em dezembro, que opera com vans. Em Londres, o app Citymapper fez experimentos com o modelo durante dois anos, mas desistiu da ideia em junho.
De volta ao teste em Goiânia, a van, modelo Sprinter, chegou. A porta se abre de forma automática. Dentro, estava vazia. Entrei e sentei em um dos 14 bancos disponíveis, todos pretos e estofados. Em média, uma em cada quatro viagens levam apenas um passageiro.
Há plugues USB e tomadas, para carregar celulares e notebooks. Um ar condicionado potente refresca a manhã quente em Goiânia. A motorista, Débora Corrêa, 27, dirige seguindo as instruções de um tablet, que informou a ela os nomes e destinos dos usuários. Os motoristas são contratados da HP Transportes Coletivos, viação que criou o serviço.
Como as cores do veículo são as mesmas dos ônibus municipais, algumas pessoas se confundem. “Muitos pedem pra gente parar. A gente encosta rapidinho e explica que para usar tem que baixar o aplicativo”, diz a condutora.
O serviço exige o uso do app, mas aceita dinheiro. “Em oito horas de trabalho por dia, faço em média 30 corridas, e umas oito delas são pagas em dinheiro”, conta Débora. O pagamento também pode ser feito via cartão de crédito ou débito cadastrado no aplicativo.
A viagem foi rápida. Cerca de 3 km, que custaram R$ 5,70. O preço, como outros fatores, segue a regra do meio-termo: é maior do que a tarifa de ônibus (embora parta de R$ 2,50 por viagem de 1 km), mas menor do que a de uma viagem de Uber.
O repórter viajou a convite da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos)
“Acompanhamos o preço cobrado pela concorrência e buscamos deixamos o nosso valor um pouco mais baixo”, diz Thiago Araújo, gestor de inteligência de mercado da HP Transportes. A tarifa não sobe em caso de alta demanda.
As vans não atendem aos pontos regulares nem seguem linhas fixas. Os locais de parada e as rotas são definidos por um sistema, conforme surgem os pedidos. A tecnologia para isso foi fornecida por uma empresa estrangeira.
O programa começou em fevereiro, em fase de testes, com 14 vans. Atualmente, são 25 e o plano é chegar a 40 até outubro. O serviço soma 50 mil pessoas cadastradas e opera de segunda a sábado, das 6h às 23h.
O modelo do CityBus é visto pelas empresas de transporte como uma saída para trazer de volta os passageiros que trocaram os ônibus por viagens por aplicativo.
A perda dessas viagens foi especialmente dolorosa porque os clientes de apps de carros costumam percorrer distâncias curtas. Nos sistemas em que todos pagam a mesma tarifa, os trajetos menores subsidiam indiretamente as viagens longas. Quem pega um ônibus por dez minutos ajuda a pagar o deslocamento de outra pessoa que fica uma hora a bordo.
A receita gerada pelo CityBus ainda não cobre o custo de operação. “É um investimento dos donos da empresa. Estamos testando um conceito. À medida que tivermos mais aplicações [deste modelo], chegaremos ao equilíbrio”, diz Indiara Ferreira, diretora executiva da HP. “O serviço pode ser estendido para ônibus grandes, por exemplo, mas tudo está em estudo”.