
Por Feifiane Ramos, do ATUAL
MANAUS — Chuvas torrenciais cada vez mais frequentes expõem a precariedade do sistema de drenagem pluvial e a desordem urbana que causam alagamentos de trechos de ruas, avenidas, becos; deslizamentos de barrancos; quedas de muro e desabamentos de casas. Especialistas consultados pelo ATUAL atribuem as alagações à estrutura de drenagem antiga e insuficiente, que não consegue dar vazão ao volume das chuvas intensas, e a obstrução de igarapés e bueiros por lixo.
Ivomara Vieira, arquiteta e urbanista, afirma que o sistema de drenagem de Manaus foi projetado para suportar volumes de água muito menores do que os atuais e ficou obsoleto em função de uma urbanização e crescimento populacional acelerados.
“Temos um sistema de drenagem muito antigo em certas áreas da nossa cidade, que foi projetado para receber certas quantidades de habitantes, e com isso já está ficando insustentável com o volume atual”, diz a urbanista. Ela também cita que, além da infraestrutura deficiente, o crescimento urbano desordenado, com invasões em áreas verdes e o aumento da impermeabilização do solo, sobrecarregam ainda mais a rede de vazão da água da chuva.
Segundo Ivomara, a utilização de concreto e asfalto nas áreas urbanas dificulta a infiltração da água da chuva no solo, sobrecarregando o sistema de drenagem. “Com esse crescimento, a impermeabilização do solo aumenta o escoamento superficial, sobrecarregando ainda mais o sistema que se interliga com outros mais antigos e ficam sobrecarregados”, explica.

Outro agravante é a falta de planejamento urbano adequado em algumas áreas, especialmente em bairros que surgem sem a devida estrutura de drenagem. Exemplos são bairros nas zonas norte e leste da cidade. No dia 4 deste mês, casas foram inundados e ruas alagadas pela água da chuva, causando desmoronamento de muro, deslizamento de terras e o desaparecimento de um homem.
Ivomara Vieira observa que a ocupação desordenada e a ausência de estudos de capacidade para escoamento de águas pluviais, devido ao aumento populacional, são elementos que agravam o problema. “Tudo que acontece hoje, dessa ocupação desordenada de áreas, não temos como implementar a infraestrutura com capacidade de suprir a necessidade das pessoas desse local se é feito sem um estudo prévio e sem tempo para se fazer um projeto de drenagem”, diz
Planejamento
Melissa Toledo, também urbanista e vice-presidente do CAU-AM (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Amazonas), diz que os problemas de drenagem e alagamentos estão profundamente ligados ao processo de urbanização desordenada e à falta de um planejamento a longo prazo.
Segundo ela, “o que nós temos hoje em relação ao adensamento das áreas construídas e a taxa de permeabilidade pública e privada não é compatível com as alterações climáticas que estamos vivendo”. Para Melissa, a evolução urbana da cidade não acompanhou as mudanças climáticas, o que, em conjunto com a impermeabilização do solo, compromete a capacidade de Manaus de lidar com as intensas chuvas que têm se tornado cada vez mais frequentes.
A urbanista cita que os danos causados pelos alagamentos, como deslizamentos de terra e queda de muros, nem sempre são provocados diretamente pelas vias afetadas, mas sim pela degradação do entorno imediato.

Propostas e soluções
As especialistas concordam que a solução para os problemas de drenagem em Manaus não é imediata, mas exige um investimento contínuo em infraestrutura e um planejamento mais robusto. Ivomara Vieira cita que a manutenção e modernização dos sistemas de drenagem existentes são fundamentais, juntamente com a melhoria das técnicas de escoamento de águas pluviais e o uso de tecnologias de mapeamento para identificar áreas de risco.
Ela também enfatiza que a conscientização da população sobre a importância de não obstruir os sistemas de drenagem é crucial para minimizar os impactos dos alagamentos. “A educação ambiental é a melhor solução para todos esses problemas”, afirma Ivomara.
Melissa Toledo também menciona a necessidade de um planejamento urbano de longo prazo. “Precisamos pensar no imediatismo, que é resolver o problema, e no planejamento urbano, que é uma ênfase em projetos de macro e microdrenagem”, explica.
A urbanista sugere uma revisão do plano diretor da cidade e a implementação de estratégias que integrem todos os subsistemas urbanos, incluindo a permeabilidade do solo e a drenagem eficiente. Além disso, Melissa acredita que o poder público deve trabalhar de forma integrada com a população, esclarecendo os impactos das decisões urbanísticas. “A sociedade precisa entender os porquês das exigências legislativas urbanas para poder entender esses impactos”.
Ambas as especialistas concordam que a educação e a conscientização são fundamentais para resolver os problemas de drenagem de maneira sustentável. Ivomara reforça a importância de envolver a população nas soluções, enquanto Melissa acrescenta que o planejamento urbano deve ser orientado por uma visão que considere não apenas as infraestruturas, mas também a qualidade de vida urbana e as mudanças climáticas.
Tanto Ivomara quanto Melissa defendem que a solução definitiva depende de um esforço coletivo, envolvendo o governo, o setor privado e a população. A responsabilidade não recai apenas sobre as autoridades, mas sobre todos os cidadãos que, ao entenderem os impactos das suas ações, poderão contribuir para a melhoria da drenagem e da infraestrutura urbana de Manaus.